Será que isso surpreende alguém?
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Veja o resto da matéria:O Brasil mostra
a sua cara
Pesquisa revela quem é o
verdadeiro brasileiro, com todas
as suas enormes contradições
Juliana Vilas e Marina Caruso
Colaborou: Eliane Lobato (RJ)
O umbigo nacional – pensando no coletivo. Agindo no individual. Os brasileiros hoje. O título, sintomático, batiza uma abrangente pesquisa nacional realizada pela agência de publicidade Ogilvy Brasil, que traz um diagnóstico não muito positivo sobre o caráter e a personalidade do brasileiro. Entre 31 de agosto e 6 de setembro, a agência ouviu 450 homens e 450 mulheres das principais capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Recife, Salvador, Curitiba e Porto Alegre), de todas as classes sociais (A/B, C e D/E) e faixas etárias (acima de 18 anos) da população. Suas conclusões apontam que o brasileiro é no mínimo contraditório. Solidários em seu discurso e egoístas em suas ações, 60% condenam pequenas transgressões, como bater o cartão de ponto para um colega, comprar um CD pirata ou falar no celular no trânsito, mas 66%, por exemplo, admitem que não se incomodam em comprar produtos piratas. Não é à toa que 95% concordam que o individualismo e o egoísmo cresceram no País, nos últimos anos. O que justifica essa afirmação pode ser a crença de 72% dos entrevistados de que quem faz a coisa certa nem sempre é recompensado. As considerações da pesquisa mostram que “criou-se uma espécie de egoísmo produtivo” em que, para o cidadão prosperar, não é preciso acontecer o mesmo com o País.
É a prova cabal de que o sociólogo pernambucano Gilberto Freyre enxergava
longe. Em 1933, quando publicou seu Casa grande & senzala, definiu o
brasileiro como um equilibrista das contradições, como lembra Mirian Goldenberg, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo Sergio Amado, presidente da Ogilvy Brasil, a pesquisa identificou em que situações o tal jeitinho brasileiro vem à tona. “Ele vive cada dia como se fosse único e, apesar das convicções moralistas e politicamente corretas, acoberta falhas dos amigos no trabalho.”
Alan Rodrigues
Paulo Napoli, rapper: "Um software original custa de R$ 1 mil a R$ 5 mil,
o pirata sai por R$ 5. Viva a rua
Santa Ifigênia, em São Paulo!"
Entre os aspectos abordados –
que vão da sexualidade à educação, passando por cidadania e hábitos de consumo –, esse espírito contraditório entre o “ser” e o “agir” parece ser o mais expressivo. O rapper paulistano Paulo Napoli, 29 anos, conhece bem os dois lados dessa moeda. Como músico, sabe da luta das grandes gravadoras contra a cópia não autorizada de discos. Mas como artista independente acredita que a pirataria, tanto dos CDs vendidos em camelôs quanto no ato de baixar músicas pela internet, ajuda a divulgar seu trabalho. Ele mesmo, para mixar suas músicas, recorre a softwares pirateados. “Um programa original custa entre R$ 1 mil e R$ 5 mil. Os piratas saem por apenas R$ 5”, diz. “O que São Paulo tem de melhor é a rua Santa Ifigênia, paraíso do comércio informal”, brinca o músico, que comanda o projeto Latinites, balada descolada da noite paulistana.
É à noite, aliás, que todos os gatos são pardos. A pesquisa mostra que a convivência entre ricos e pobres é cada vez maior. Segundo o estudo da Olgivy, há um crescente diálogo entre as classes menos favorecidas e a elite. Representantes de diferentes classes sociais compartilham, cada vez mais, dos mesmos gostos e hábitos. Tanto que 65% dos entrevistados concordam – total ou parcialmente – que “o sucesso da música, das gírias e das roupas dos subúrbios” foi positivo para o País. É a influência do funk carioca, por exemplo.
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