Meu caro Caralho,
Desculpe-me tratá-lo desta forma, algo chula, mas já pensei em todos os nomes próprios possíveis, mas este realmente me parece o mais adequado. Não gosto do popular Bráulio, pois apesar de ser mais ameno e do conhecimento geral, o único Bráulio gente que eu conheci até hoje era baixinho, careca, carola e cu-de-ferro. Júnior chega a ser deprimente e diminutivo demais para o meu gosto. Bilau e Pipi parece coisa de viado, pinto coisa de criança e peru, além de infantil, carioca demais. Que seja Caralho, então.
Pois bem Caralho, como eu ia dizendo, após todos esses anos de indissolúvel união e convivência mútua, chegou aquela hora que todo o homem detesta: temos que discutir nossa relação!
Nesses mais de 40 anos nós vivemos juntos, mas freqüentemente com objetivos diversos. Desde os 4 anos comecei a perceber que você tinha vida própria, independente de minha vontade, mas atuando decisivamente para os meus atos. Lembro que você me obrigava a ficar tocaiado, em frente ao vestuário feminino do clube, para apreciar os pastéis de pêlo que iam e vinham distraidamente, com suas donas pensando que um fedelho de mínimas proporções não tinha qualquer malícia. Realmente, eu não tinha malícia, mas você já sabia qual a utilidade daquela carne mijada. É a tal da genialidade instintiva.
Crescemos e você, como um cantor de vanguarda dava o tom de minha vida. Na adolescência, aliás desde a infância, te brindava com punhetas freqüentes, várias em um dia. E o que você me dava em troca? Cansaço, depressão e calos nas mãos.
Sabe, Caralho, o que mais me intriga é esse domínio irracional que você tem sobre a minha pessoa. Eu tento me livrar de seu jugo, resisto, mas sempre acabo fazendo o que você quer. Mas, quando eu preciso de você, o que acontece? Só colabora se estiver com vontade. Lembra os apertos que você me fez passar no swing? Quando eu queria agir, você ficava cabisbaixo e depois, quando eu menos esperava, estava lá, focinhando a bucetada, tal um porco chafurdando na lama.
Às vezes me sinto como um fraco, uma criatura frágil e sem vontade, que só faz o que você manda. O quê? Você acha que não? Quer exemplos? Então, vamos a eles.
Lembra quantas vezes eu te avisei, que a Rua General Câmara, em Santos, era um lixo? Você sabia que era, mas de que adiantou? Me obrigou a ir até lá, escolheu a primeira peituda que apareceu e já foi entrando sem pedir licença. E sem camisinha! Tudo bem que isso foi em priscas eras, mas eu fiquei um mês examinando cada nanomilímetro seu para ver se aparecia alguma bereba!
Acha pouco? E quando você fez com que eu, que tenho mais de um metro e oitenta de altura, me agachasse naquele espaço na frente do banco do passageiro, numa merda de um Corcel, para chupar a buceta, só para que você pudesse entrar nela lépido e faceiro? Fiquei um mês com dor nas costas! E para quê? Para que você me brindasse com uma ejaculação precoce, mais o medo de que aquela galinha gorda engravidasse! Veja que naquela época nem critério de seleção você tinha, pois foi o meu lado racional que te ensinou isso.
É certo que a partir daquilo parece que você aprendeu um pouco e parou de me arrastar para qualquer buraco. Lembra daquela mulata na Avenida Paulista? Aquilo é que era bunda, um verdadeiro monumento ao cu. Tudo bem que a dona dela falava “pobrema” e “crasse”, mas e daí? Quem é que está interessado em altas divagações filosóficas, tendo aquele trio peito-cu-xota à disposição? Onde será que anda aquela deusa de ébano? Gorda e fedida atrás de um tanque, ou casada com um alemão branquelo, cheio de sararás em volta?
Realmente, nem tudo foi espinhos nesse nosso relacionamento. Tenho que agradecer a você pelo presente de casamento. Sete trepadas em dia, na lua-de-mel, foi algo que só um amigo do caralho pode oferecer. Valeu mesmo!
Mas a merda é que com você é uma no cravo e dez na ferradura. Pensei que você iria sossegar. Enquanto eu fazia juras e promessas no altar, o que você fazia? Cobiçava aquela maldita madrinha que foi com um decote até o útero! Porra, vai se foder, ô Caralho! Maior constrangimento, eu entregando aquelas porras de lembrancinhas e tentando desviar os olhos daquelas tetas monumentais. Mas te digo uma coisa, aquelas tetas hoje mais parecem dois ovos fritos. É duro olhar um álbum de casamento passados 20 anos. É um tal de contar os mortos e as toneladas de banhas que se somaram nos convidados que eu nem te digo. Quero ver se hoje você bate continência para aquela madrinha. O tempo é mesmo uma maquininha de fazer monstros.
Falando nisso, lembra daquela gostosa de olhos azuis, bunda maravilhosa e peitos que desafiavam a lei da gravidade? Pois é, sucumbiu à gravidade. Dá até medo de ver, Caralho! De tudo aquilo só sobrou o azul dos olhos e sei não se tem catarata naquilo. Pela aparência dela hoje, desconfio que a buceta seja uma catarata de corrimento. Nojenta!
Essa que é a merda de ficar mais velho. Todos os nossos enredos de punheta desmoronam como um castelo de cartas, ao primeiro reencontro passados 25 anos. Mas algumas ainda resistem heroicamente. Juntos conquistamos, depois de 20 anos de cobiça, aquela minha colega de faculdade maravilhosa. Não, não me chame de canalha, só porque eu aproveitei o fato de que o marido dela estava broxando. Alguém tinha que fazer o serviço sujo. Daquela vez eu fiz tudo direitinho, esperei o momento do ataque e você não me negou fogo. Beleza! Pena que ela teve drama de consciência, que desperdício de buceta! O jeito é esperar a próxima rodada de broxadas do Pedro.
Sabe, Caralho, gostaria que você me desse um pouco mais de liberdade de escolha e me deixasse agir mais racionalmente. Já cansei de atender aos seus baixos instintos e trepar em qualquer lugar que esteja ou não à disposição. Cafezal, cinema, estacionamento de shopping, escada de incêndio, desse jeito você vai acabar me levando para a cadeia e a primeira página do Notícias Populares. E por favor, pare com essa história de que culto da Igreja Universal é bom para uma sacanagem, porque aí já é demais. Tudo bem que eu posso dizer que estou com o diabo no corpo, mas aí o dízimo pode ficar alto demais por conta do exorcismo. Esqueça essa idéia, meu amigo zarolho.
Sendo sincero, creio que em todos esses anos, se aprendi alguma coisa com você, foi ser politicamente incorreto. Não existe coisa mais chata do que a mania que alguns têm de procurar dizer apenas as palavras certas para engrandecer a raça humana. Você, não. Você só quer saber de buceta, em como chegar a ela e o resto foda-se. Tal como o Zé Dirceu, em sua ótica caolha os fins justificam os meios. Se bem que no seu caso, o fim é exatamente o meio. Já fiz muitas besteiras na vida seguindo essa sua filosofia e até hoje vivo me enfiando em encrencas por causa dela. Ou você pensa que é simples passar anos inventando desculpas esfarrapadas para cada escapada? Há que se ter muita criatividade, meu caro.
Não bastasse isto, por uma buceta você já me fez ir a show do Eros Ramazzotti, do Djavan, assistir ao filme do “Cazuza”, “Titanic”, “Em algum lugar do Passado” e se eu não intervenho, você quase me faz assistir ao show do Bruno & Marrone. Tá pensando o quê? Que eu tenho merda na cabeça? Há limite para tudo!
Outro problema desse nosso relacionamento, é que você não deixa esquecer aquilo que quero esquecer. Tem mulheres que o mais sensato é manter distância, mas basta eu entrar debaixo do chuveiro, a água correr e quando eu começo a pensar na vida, você começa a interferir, como a dizer: “E por falar em água, lembra daquela buceta? Molhada, não? Apertadinha, também.” Ou ainda: “Lembra daquele boquete levanta-defunto?” E lá vou eu atrás dela. Meus Deus, será que você tem sempre de interferir? Se abusar demais a patroa vai te extirpar, e aí como é que ficamos? Você vai para um vidro de formol e eu vou mijar sentado? Se queremos permanecer juntos, temos que ser racionais de vez em quando.
Meu caro, vê se me entende de vez em quando. Eu cuido bem de você, lavo-o todos os dias, passo creme, te agasalho e quase todos os dias te arranjo aquela massagem bucal que você tanto gosta. Também cuidei de você quando ficou doente, com aquela maldita gonorréia, mas você há de convir que escolheu mal daquela vez. Eu só quero o seu bem, até porque quando você está contente, eu também estou. É mais ou menos como uma relação de pai e filho, em que eu não posso permitir a sua tirania. Veja, por exemplo, o que aconteceu com o coitado do Pedro, que seguiu o caralho dele (as más línguas dizem que foi o cu, mas essa é outra história) e agora está vivendo seus quinze minutos de fama, como o maior corno que este país já conheceu. Um de nós dois tem de pensar e agora, de uma vez por todas, eu vou conduzir o rumo de nossas vidas.
Como? Se eu vi quem? Aonde? Puta que o pariu, que lomba! Vai na frente que eu vou atrás, amigão!