O que vai a seguir não é, exatamente, sobre o tema principal levantado no tópico, mas considero importante compartilhar com os amigos.
Existe um fator quase irresistível na prostituição que é a possibilidade de um salto exponencial na renda da prestadora em comparação com o que ela ganharia em um emprego normal CLT. Esse fator muitas vezes até anuvia a visão da meretriz, fazendo-a relevar os riscos e dissabores da profissão.
Vou relatar o caso de uma menina que conheci que, para mim, deixou bem claro o porquê de a prostituição ser quase um caminho sem volta, muitas vezes sendo um movimento pendular da cortesã, que sai desse meio com a pretensão de não voltar, mas termina por voltar, em razão da realidade encontrada fora do meio.
Durante um período da vida, morei a trabalho em uma das grandes cidades do interior do PR e, nessa cidade, conheci uma menina (na putaria) que tinha saído de uma cidade bem pequena do interior para trabalhar nessa cidade grande, com a ideia de conseguir bancar a mensalidade de uma faculdade particular no curso que pretendia fazer.
Ela conseguiu emprego em uma loja de operadora de celular como vendedora. Como o caso já é de alguns anos atrás, vou trazer para os valores de hoje (maio/2023) o que ela ganhava nessa loja, para facilitar a compreensão.
Ela trabalhava das 09:00 às 18:00 de segunda a sexta e sábado das 09:00 às 13:00, salário fixo de R$ 1.500,00 + VA de R$ 300,00 (cartãozinho Sodexo) + comissões por vendas que, em média, davam R$ 400,00. Ou seja, R$ 1.900,00 que caíam na conta, mais R$ 300,00 no cartão de alimentação. Tinha que fazer hora extra com frequência, que nunca eram pagas, iam para o famigerado "banco de horas".
O dinheiro que ela ganhava mal pagava essa bendita faculdade e as despesas da casa que ela dividia com outras meninas. Rotina absurda para conciliar o trabalho e a faculdade, por R$ 1.900,00 + VA de R$ 300,00.
Na época que a conheci na putaria, ela devia ter uns 22 anos e era bem gata, mignonzinha e fodia bem. Uns dois anos antes disso, enquanto ainda trabalhava nessa loja, conheceu uma menina que já estava se prostituindo, soube quanto ela tirava por mês e pensou que, sendo bonita e gostosa, talvez também pudesse fazer o mesmo. Parou de ir para a faculdade para poder atender clientes à noite.
Na época em que nos encontrávamos, ela cobrava o que hoje equivaleria a uns R$ 280,00 pelo programa de 1h sem restrições. Não sei quanto exatamente ela cobrava quando começou a atender, mas vamos dizer que, no início, em vez de R$ 280,00, cobrasse o equivalente a R$ 200,00 de hoje em dia.
Ela contou que, em alguns dias, chegava a atender 4 clientes, mas que, geralmente, atendia 2. Com essa média de 2 clientes em um dia de atendimento, ela não precisava atender todos os dias, pois em 15 dias de atendimento ela já ganhava quase 3 vezes o que ganhava na operadora de celular. (R$ 200,00 X 2 clientes X 15 dias = R$ 6.000,00).
Em vez de ter só 4 folgas no mês, ela podia ter 15 e ganhando muito mais. E se preferisse atender durante 20 dias, nessa mesma média de clientes, tiraria R$ 8.000,00 (valores de hoje, sempre reforçando).
Quando nos conhecemos, ela já tinha abandonado de vez a faculdade e estava só ganhando e gastando como puta. Ainda era muito nova, então provavelmente estava deslumbrada com o salto de renda e com as novas possibilidades, tocando o foda-se para os planos de longo prazo.
Qual é a chance de essa menina, enquanto tem lenha para queimar, largar a prostituição, se na iniciativa privada vai ganhar 1/4 do valor e ainda teria que se submeter a gerentes paus no cu e a horários de trabalho enormes?
Então eu questiono um pouco a premissa de que toda puta odeia estar nesse ramo; não sei nem se a maioria odeia, quanto mais todas. Poucos de nós realmente gostam do que fazem para ganhar dinheiro, mas seguimos fazendo sem refletir muito sobre isso. Creio que com as meretrizes acabe acontecendo coisa parecida, em razão do salto de renda que a putaria proporciona, quando comparada a um emprego CLT normalzinho, sobretudo para alguém que não consegue buscar grande qualificação profissional.
Claro que existem fatores que são muito mais penosos para a mulher ao decidir trocar sexo por dinheiro, dilemas que nós nem imaginamos, mas, pela amostragem que conheci ao longo de 15 anos de putanhismo, raríssimas vezes encontrei mulheres que parecessem detestar fazer o que estavam fazendo.