Ratos do Porão distribuem balas perdidas em novo CD
Os Ratos de Porão comemoram 25 anos de gravadora nova, a Deckdisc e o CD "Homem inimigo do homem'', com a habitual fúria instrumental, a voz trovejante de João Gordo e letras que passam a sujo a situação do mundo. Os Ratos são uma das bandas mais famosas do circuito punk mundial, surgidas do movimento punk paulista nas galerias do rock e até hoje mantendo a postura dentro da tão falada e pouco praticada coerência do roquenrou. Muitas bandas sobreviveram ao vício das mais diversas drogas, mas os Ratos devem ser o único grupo que superou uma obesidade mórbida que quase mandou João Gordo pros quintos do inferno.
O Gordo hoje é uma espécie de bobo da corte da MTV fazendo palhaçadas num programa de merda para pagar as contas nossas de cada dia, mas na música nunca houve concessões. Nos anos 80, ele foi chamado de traidor do movimento pelos punks xiitas por causa da aproximação com o thrash metal, mas isso só enriqueceu o som da banda como está evidente neste CD: o hardcore come solto na primeira metade do disco, e o thrash metal domina a segunda com um demente solo de guitarra de Jão em ''DNA de pilantragem'', dedicado aos políticos ladrões.
Acho que os Ratos não votam no Lula este ano...
Como aconteceu em discos anteriores, o CD faz uma espécie de crônica dos dias atuais vistos pela ótica niilista da banda . "Pedofilia santa'' aponta para os escândalos de sexuais da Igreja católica, que tentou acobertar o escândalo e poupar os padres nos Estados Unidos. João generaliza geral: "Bomba moral na igreja desgraçada/ O Bento te convida pra orgia na sacristia," diz um trecho referindo-se ao papa Bento XVI. "Covardia de plantão'' xinga a violência urbana das turminhas/torcidas/gangues. ''Expresso da escravidão'',com uma virulenta entrada de baixo de Juninho San Giorgio, é sobre os bóias frias e outras formas de não-emprego: "Quanto custa um homem no expresso da escravidão no Brasil?"
"O equivocado'' trata de um dos lemas do disco que está na terceira capa, "war against emo shit": "hei moleque bem mimado/ Descarado, pavio curto/ Parasita, atrasa lado/ Não respeita nem defunto/ Good Charlotte é uma bosta/ Simple Plan é uma bosta/ Tudo que você gosta é uma bosta/ Você é um bosta/ Sua vida de merda é uma bosta".
O bom e velho imperialismo toma suas porradas em ''Homem inimigo do homem'' ("Capitalismo, mais uma ferida/ Suicídio coletivo, globalização") e ''Testemunhas do apocalipse'' ("Tsunami, terremoto, tornado/ o caos foi ativado, superpopulação/ Pelo abuso imperialista a natureza se vinga/ Contagem regressiva para a destruição").
Como não podia deixar de ser, sobra para o atual inquilino do Planalto em "Quem te viu...", com letra é do guitarrista Jão: "Luiz agora está embriagado pelo poder/ Amigo de empresários e de banqueiros/ Que fazem qualquer coisa por dinheiro/ Cercado de um monte de ladrão/ Você é só mais um pelego cuzão/ Hei, lembra da barriga roncando/ Lembra do torno mecânico/ Lembra do buso lotado/ Agora é fácil esquecer." E ainda tem uma fala em que um imitador de Lula agradece aos ''companheiros'' Romeu Tuma e George Bush, a este último ele diz "mi casa es su casa".