Dona Gioconda - Autor: Dante-Rio

Crônicas semanais sobre putaria

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Dona Gioconda - Autor: Dante-Rio

#1 Mensagem por DANTE-RIO » 11 Dez 2006, 10:21

O Amor é calmaria que sucede a tempestade da Paixão, é o tédio inevitável.

De antemão, perdôo-lhe o ceticismo, amigo Forista, mas quem emitiu essa frase tão elaborada foi uma antiga rameira, veterana da Vila Mimosa, nos tempos em que esse meretrício ficava no Estácio, próximo ao que hoje é a estação do metrô.

Dona Gioconda, assim ela ficou conhecida na Vila, uma meretriz que devia navegar pelos cinqüenta anos e continuava na ativa. Diziam que ela não fazia mais programas, que havia alcançado a fama com o apelido que recebeu dos intelectuais de prostíbulo: O Oráculo da Zona.

Seu talento como psicanalista de bordel espalhava-se, de boca em boca, entre os neuróticos e amantes desiludidos da grande Tijuca que encontraram nela uma terapia alternativa para os destemperos da vida. Contava-se que os clientes a procuravam somente para desabafar e ouvir suas orientações.

Dona Gioconda ganhou vulto de conselheira sentimental para homens, seu consultório funcionava numa baia dentro da própria Mimosa. Registra a lenda que ela tinha formação superior em Psicologia, mas preferiu continuar ali, naquele covil de sexo, o seu grande celeiro de perturbados, seu manicômio particular.

Eu ainda não poderia imaginar que, ao descer em carreira desgovernada uma ruela do morro do Tuiuti, estaria iniciando o meu caminho até essa senhora.

O episódio começa num sábado à noite de uma semana qualquer da década de 80, dia em que eu me esgueirava pelos Forrós do Rio cumprindo a sina de predador a que me obrigava o instinto sexual.

Costumam rotular os nordestinos dando à palavra Paraíba um sentido pejorativo. Injustiça! Poucos conseguiriam superar o estilo brega que criei na minha fase de forrozeiro. Eu vestia meu uniforme de caça: O tom era sempre escuro (preto ou cinza, camuflagem da noite), camisa social fechada até o último botão da gola, calça de linho, sapatos brilhando na graxa e um blazer para completar o visual. Fico quente só de lembrar. Às vezes, aparecia um pra me perguntar se eu era Pastor. Cruzes!

Forró no meu tempo não tinha ar-condicionado e, com essa roupa, no verão, eu virava uma massa liquida, empapado de suor, circulando pelo salão sob a trilha sonora do triângulo e da sanfona.

Naquela noite, eu havia escolhido o Forró da Associação, ficava ao lado do Canecão, atualmente é um Bingo, alternava os dias do seu funcionamento com um evento de Heavy Metal batizado de Caverna 2 e tinha uma área ao ar livre que me aliviava do calor causado pela minha indumentária.

Eu estava abraçado com a cerveja e esperando o Teixeirinha que nunca era certeza de aparecer. No nosso último contato, ele avisou que iria negociar a compra de uma coleção de discos do Cauby Peixoto com um camelô de Copacabana.

O Teixeirinha é um conservador, sua filosofia consiste em crer que só as antiguidades possuem virtudes. Tem repulsa ao moderno, seu carro é um Corcel dourado antiqüíssimo e seus discos são os velhos Lps. Trata com aversão os CDs, só ouve vinil ou fita cassete.

Eu estava beijando a terceira garrafa de cerva quando percebi uma fêmea quase ao meu lado. Meu fetiche por mulheres altas e esguias ativou todos os alarmes. Uma morena de cabelos cacheados que desabavam pelas costas, calça justíssima delineando suas ondas perfeitas e um sorriso largo à Julia Roberts. Apelei para a falta de criatividade e pratiquei o uso da lábia cretina.

- Oi, eu juro que não é cantada, mas eu tenho certeza que conheço você, estou aqui tentando lembrar... A gente não se conhece?

- Não sei, eu quase não venho ao Rio, sou de Cabo Frio.

- Hum... Qual seu nome?

- Suzana.

- Toma uma cerveja comigo, Suzana?

- Pode ser.


A receptividade foi total. Essa era a vantagem dos forrós, não havia mulher marrenta, o marrento era você.

O tempo da conversa durou por umas quatro garrafas de cerveja e alguns segundos de Martini que ela pediu para arrematar. A Suzana era boa de copo. Ela me disse que precisava ir embora e perguntei para onde ia.

- São Cristóvão, na São Luiz Gonzaga, quase chegando em Benfica, Largo do Pedregulho.

- Posso levar você? Não estou de carro, mas vamos de táxi, moro perto.

- Ah! Não precisa, eu volto com uma amiga de ônibus.

- Que isso! Vou com você, está muito tarde e é perigoso andar de ônibus.

- Tudo bem! Vou falar com a minha amiga e já volto.


Voltou sem a amiga que estava encarrapitada a um cearense e não pretendia deixá-lo. Saímos nós dois.

Chegamos à rua e vejo o meu herói, o Teixeirinha enlaçado numa garrafa de batida do Só Cana e recostado no seu Corcel salvador. Era a minha carona.

Durante o percurso, convidei Suzana para passar a noite comigo. O seu estado etílico a deixou mais flexível, ela aceitou. O Teixeirinha nos desovou no Hotel Cidade, na Buenos Aires, onde hoje é o Hotel Atlântico.

Uma madrugada inteira de deleites e brincadeiras! Que mulher!

Cheguei em casa apaixonado, passei toda a semana seguinte pensando na Suzana, tentei encontrá-la no telefone que havia me deixado, era um número para recados, mas ela nunca me retornava. Fiquei obcecado.

Sexta-feira à noite, insisti com o Teixeirinha para que ele me levasse a São Cristóvão, onde a menina falou que morava. Eu ia tentar a sorte.

Confesso que tive uma impressão meio sombria do Largo do Pedregulho, a única referência deixada pela Suzana para que eu pudesse tentar localizá-la.
Estacionamos em frente a uma barraca de cachorro-quente, percebi que seria quase impossível rever minha musa. Foi quando o milagre aconteceu e o Teixeirinha, numa intervenção divina, interrogou a dona do carrinho de Hot-Dog.

- A senhora conhece uma garota chamada Suzana que mora por aqui? Uma alta, magra...

- Suzana? Magra, alta, de cabelos encaracolados? Conheço sim! Ela mora do outro lado, tem que subir aquela entradinha ali.


A entradinha era um acesso pro morro do Tuiuti. É engraçado como nomes inocentes tomam a dimensão de uma placa com o aviso de afaste-se. Mas, no geral, alguns nomes de morros sempre me pareceram ter um som atemorizante: Borel, Juramento, Chapéu Mangueira, Complexo do Alemão, Jacarezinho, etc. Quem batizava esses lugares?


Sob os protestos do Teixeirinha, resolvi subir. A moça do cachorro-quente disse que era o primeiro sobrado rosa do caminho, que não tinha perigo. Confiei. Tal qual um infante, mergulhei na ruela escura e encontrei o castelo da minha Princesa.

Toquei uma campainha e ouvi uma voz feminina vindo de cima, de um terraço.

- Quem é?

- Eu estou procurando a Suzana.

- Quem quer falar com ela?

- Dante, um amigo.

- Dante? Mas a Suzana daqui é a mulher do Lobão. É com ela mesmo que quer falar?

- Huum, Ahmm, Humm... Acho que estou no endereço errado. Desculpe. – Gelei e fui tomado pela súbita consciência de que eu estava, literalmente, na toca do lobo
.


Em seguida, passa ventando por mim, na correria, um bando de homens com cara de poucos amigos descendo a ladeira numa marcha barulhenta e assustadora. Não me viram. Resolvi descer atrás no mesmo ritmo, como se fosse um deles.

Desemboquei no Largo do Pedregulho novamente, suava frio.

- Teixeirinha, liga o caro. Vamos vazar daqui, vamos vazar!

Fiquei sem saber se a Suzana do Lobão era a minha Suzana, tudo indicava que sim. Mas o susto havia me devolvido a Razão e eu não queria mais saber daquela história.

- Cara, sai dessa depressão! – Dizia o Teixeirinha tentando me consolar na volta pra Tijuca. – Vou te levar pra falar com uma pessoa que me ajudou na época que briguei com a Suzy (namorada do Teixeirinha).

- Pó, amigo, não quero falar com ninguém sobre isso. Passou. Vamos embora.

Quando vi, estávamos parando o carro perto da Vila Mimosa.

- Teixeirinha, vai pegar mulher aqui?

- Você vai conhecer uma amiga minha.

- Que amiga? E, por acaso, você tem amiga aqui?

- Nunca lhe contei, mas tem uma mulher aqui que é um espanto. Dona Gioconda. Conversa com ela, você vai gostar de conhecer.


A casa era logo no início da Vila. O Teixeirinha anunciou no balcão do bar que queria uma consulta. Dona Gioconda estava ocupada, teríamos que esperar.

Chegou nossa vez, o Teixeirinha me indicou o caminho. A baia da Dona Gioconda era algo semelhante a uma loja de produtos esotéricos; o cheiro de insenso dominava a atmosfera; havia uma cama de solteiro repleta de almofadas com uma poltrona ao lado; Budas, Gnomos, crucifixos e imagens de São Jorge espalhavam-se por todos os cantos.

Dona Gioconda era uma mulata cinqüentona, gordinha, entalada num espartilho preto, os cabelos num corte chanel pintados de loiro davam um toque futurista a sua imagem.

- É a primeira vez comigo, meu filho?

- É sim.

- Sabe que aqui a cama é pra conversa, né, meu filho?

- Sei, me disseram. – O Teixeirinha tinha me adiantado o esquema.

- Deita meu filho. – Deitei e ela deitou ao meu lado, me fazendo cafuné. - O que está incomodando o seu coração, meu filho?


Dona Gioconda tinha uma voz rouca e maternal que fazia você ter vontade de se abrir.

- Esta tudo dando errado pro meu coração, Dona Gioconda. Nada dá certo. Não consigo firmar com nenhuma mulher.

Dona Gioconda então se levantou e ligou um toca-fitas, um som de batuque surgiu no ambiente.

- Vou chamar o Dr. Fróidi pra conversar com você, meu filho, relaxa que eu vou chamar o Dr. – E o som de batuque que saía do toca-fitas ficava cada vez mais frenético.

- Quem?! - Indaguei confuso.

Imaginei que ela fosse chamar outra pessoa para entrar no quarto, mas não era nada disso.

Dona Gioconda realizava um ritual em que acreditava ser possuída por Freud, isso mesmo, ela baixava Sigmund Freud. Sentava na poltrona ao lado da cama, fechava os olhos, balançava o corpo no ritmo da batucada e ele descia, o Dr Freud.

- A Gioconda me disse que seus relacionamentos são sempre fracassados. Por que você acha que isso acontece? – O Dr Freud havia chegado, a voz de Dona Gioconda era outra agora, tinha sotaque e tudo.

- Não sei, acho que sou inseguro. – Respondi com voz trêmula.

- Você não deve declarar guerra aos seus complexos, rapaz, deve entrar em acordo com eles.

Eu estava ouvindo uma citação de Freud dentro da Zona. O mundo acabou!

- Eu só quero encontrar uma mulher legal, Dr. Quero uma mulher pra amar, pra formar família. – Entrei no clima.

- Somos feitos de carne, meu rapaz, mas temos que viver como se fôssemos de ferro. Pra que amar? Viva suas paixões, elas são a vida. O Amor é calmaria que sucede a tempestade da Paixão, o tédio inevitável.

A mulata sacudiu o corpo, soltou um suspiro longo e estava de volta. O Dr. Freud se foi.

- Falou com o Dr., meu filho? Ele ajudou?

- Falei. Ajudou. Muito obrigado.

- Vá em paz, meu filho.


Foram 20 minutos de consulta por R$ 15,00.

Entre o Céu e a Terra, realmente, existe de tudo. Caí das nuvens, mas como dizia Machado de Assis, numa frase que Nelson Rodrigues gostava de lembrar, antes cair das nuvens do que de um terceiro andar.

Dona Gioconda era apenas a recepcionista do Dr. Freud. Fiquei grato ao Teixeirinha, visitar o surreal Dr. Freud me trouxe equilíbrio às idéias.

Segui minhas paixões sem nunca mais esquecer aquela enfática sentença: O Amor é o tédio inevitável...

DANTE

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BetoPuc
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#2 Mensagem por BetoPuc » 18 Dez 2006, 16:51

Sarava!
Isto eh veridico?

Sds
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Cardenalis
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#3 Mensagem por Cardenalis » 18 Dez 2006, 17:27

Beleza de Crônica. É a la Sobrenatural de Almeida do citado mestre Nelson Rodrigues!!!

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#4 Mensagem por Mr hyde » 21 Dez 2006, 00:07

Mas pelo numero de TDs nem a terapia com o velho alemão ajudou. :lol:

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DANTE-RIO
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#5 Mensagem por DANTE-RIO » 21 Dez 2006, 09:45

Obrigado pela leitura, meu amigos.

TDs virão em breve, estou dando prioridade as crônicas no momento.

Abs.

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Re: DONA GIOCONDA

#6 Mensagem por General » 23 Jan 2007, 16:30

DANTE-RIO escreveu:Eu estava ouvindo uma citação de Freud dentro da Zona. O mundo acabou!
Muito interessante.

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Re: DONA GIOCONDA

#7 Mensagem por DANTE-RIO » 01 Mar 2007, 09:51

GeneralNetto escreveu:Muito interessante.
Valeu, General!

Abs.

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