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Chuva fina, uma fria garoa,
Atravesso a Central, Gamboa,
Deixo o carro a passos largos, arranco.
Chego à Rio Branco sob um céu branco
Com a Paixão condenada das ruelas.
Meus pés ofegantes acham o tal beco,
Lugarejo estreito, árido, seco.
Moradia oculta das Cinderelas,
Doce oásis é o Beco das Cancelas.
Rompo os degraus da apertada viela,
Descubro um salão, sagrada Capela.
Névoa, sons, aromas, uma aquarela
Onde meus olhos pisam com cautela.
Um brilho vem com o prenúncio: é ela!
Diz o antigo Latim que é a Sábia,
Mas para o meu coração é a Bela.
Na penumbra, como a luz de uma vela,
Reluz no escuro a linda ***
Eu me confesso num beijo tesudo.
Rezo ao teu corpo, ofídio desnudo.
Bebo teu cheiro, perfume da tarde;
Respiro teu gosto, veneno que arde.
Meu ego faminto cresce ao teu toque,
Invado o teu sexo, ondas de choque.
Viajamos juntos ao Prazer extremo,
Aprendi contigo o gozo supremo.
Gozar assim é como ver a morte,
Dois náufragos soltos à própria sorte.
Vejo na penumbra a luz de uma vela,
Reluz no escuro a linda ***
DANTE