Clarice - Autor: Dante-Rio

Crônicas semanais sobre putaria

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Clarice - Autor: Dante-Rio

#1 Mensagem por DANTE-RIO » 05 Jan 2007, 13:27

Solidão é quando a consciência evapora. É o corpo que paira, vazio, numa queda livre em que não consegue pressentir o impacto iminente.

Sempre me sinto assim quando atravesso a Av. Brasil e vejo aqueles prédios e galpões que parecem terem nascido abandonados. Naquela madrugada, indo para o Galeão, a sensação de vácuo não foi diferente.

Eu havia comprado uma passagem promocional da Varig para Porto Alegre num vôo chamado Corujão. Sairia do Rio às 3h e chegaria ao aeroporto Salgado Filho perto das 5h da manhã.

Conheci Clarice, fazia um mês, numa conversa virtual através do Mirc. Passamos a nos falar quase todos os dias pelo telefone, ela me ligava religiosamente à meia-noite e aproveitávamos a tarifa econômica para conversarmos por mais tempo. Enviou-me algumas fotos faltando quinze dias para minha decisão sobre a viagem. Seu rosto de anjo, emoldurado pelos cabelos que pareciam folheados em ouro, foi o motivo que faltava para que eu agendasse a passagem.

Antecipei minhas férias para conhecê-la, reservamos um quarto de Hotel em Porto Alegre. Do aeroporto de lá, eu teria que seguir para a rodoviária. Ela viria do interior e chegaria às 7h da manhã. Só eu a vi, preferi não enviar fotos. O mais poderoso combustível para o interesse de uma mulher que se conhece pela Internet é a curiosidade. Quebre o mistério e terá aleijado a sedução.

Um som melódico me sugou da alienação, o motorista ligara o rádio. A música é o único elemento capaz de irrigar a aridez da alma. Comecei a me sentir empolgado com o início daquela nova aventura.

Desembarquei no Salgado Filho às 5h:15. Por volta das 6h eu estava na rodoviária. O céu, ainda escuro e carregado, fazia pesar a chuva fina que caía. O frio me obrigou a vestir o sobretudo comprado para a ocasião, foi como se eu tivesse incorporado um personagem de algum filme noir.

Adormeci num banco, sem perceber, com a cabeça recostada na mochila. O celular tocou interrompendo meu cochilo, faltavam vinte minutos para as 7h. Era Clarice, estava entrando em Porto Alegre.

Não há como evitar a ansiedade nesse momento. O receio de que algo possa dar errado é constante. Afinal, ela me veria pela primeira vez e eu só a conhecia por fotografias. Tudo poderia acontecer...

Outra vez, o celular toca. Clarice novamente. Esperava-me em frente ao guichê de informações da rodoviária. Fui caminhando, passos lentos, como alguém que procura equilíbrio num chão que se move.

Meus olhos não se decepcionaram, era linda, superior à imagem das fotos. Loira, alta, corpo longilíneo de modelo e um fascinante olhar enigmático. Parecia uma atriz escolhida por Hitchcock.

Percebi em sua fisionomia um esboço de hesitação quando me viu. Não quis deixá-la pensar, beijei seu rosto permitindo que minha boca esbarrasse levemente no canto dos seus lábios. Ela não mostrou rejeição e, insinuando que iria tocar a outra face, acertei-a em cheio com um beijo de língua. O meu coração vibrava descompassado como o de um jogador que vislumbra a vitória inevitável.

A intimidade imediata serviu para nos descontrair, fomos de mãos dadas pegar um táxi para o Hotel.

Dentro do quarto, espantou-me a sua objetividade, foi se despindo sem reservas. Tirou minha roupa, a qual dobrou cuidadosamente sobre uma cadeira. Pediu que eu não reparasse seu jeito, que ela estava queimando de desejo. Entramos no chuveiro, ela me banhou com delicadeza, massageava minhas costas e me provocava com carícias. Antes de chegarmos à cama, ligou para recepção e pediu um sorvete, exigiu que viesse acompanhado com calda de chocolate em separado. Talvez, eu nem precise dizer o que ocorreu depois. Fizemos amor besuntados com sorvete e chocolate. A doce fartura da paixão.

À noite, fomos degustar um fondue num shopping próximo ao hotel, o Nova Olaria. Na minha mente, o mundo se resumiu a nós dois. Abandonei-me ao romance.

Por duas vezes, ela precisou atender o celular de forma reservada, parecia inquieta. Alegou que precisaria voltar ao entardecer do dia seguinte, sua mãe precisava dela. Aceitei sem discutir.

Dormimos e despertamos numa bela manhã de domingo. Convidei-a para um almoço no Galpão Crioulo onde nos despediríamos com sabor de churrasco. Finalmente, passeamos em aconchego pelo Brique da Redenção e fui deixá-la novamente na rodoviária. Ela pegou o ônibus para sua cidade, Arroio do Meio.

Eu sabia que não agüentaria ficar muito mais tempo no Sul. Todo carioca é um pouco anfíbio. Respiramos oxigênio misturado à maresia das praias do Rio, sem isso nossos pulmões ressecam. Porém, me ocorreu surpreendê-la no dia seguinte e visitá-la em sua cidade. Não queria ir embora sem impressioná-la.

Segunda-feira, uma euforia adolescente havia me dominado. Quando o ônibus alcançou Arroio do Meio, fui invadido por um estranho encantamento pela cidade. Era um típico município de interior: uma praça, uma igreja e a pequena prefeitura. Tudo concentrado no mesmo quadrante. Poucos prédios, poucas ruas... Não parecia uma cidade, parecia um cenário.

Desembarquei e me apressei em achar um hotel, precisava de um banho. Encontrei algo semelhante, um albergue. Guardei minhas coisas, tirei a poeira do corpo e liguei para Clarice. Na primeira tentativa tocou, mas ninguém atendeu. Numa segunda vez, ouvi a caixa postal. Insisti, mas não consegui contato. Por descuido, não possuía seu endereço. Eu estava em xeque.

Uma das saídas seria interrogar o pouco comércio da cidade na esperança que alguém a conhecesse. Talvez, não fosse uma possibilidade tão distante porque a cidade era minúscula.

Enquanto percorria aquelas ruas tranqüilas, cogitei o quanto poderia ser agradável viver ali. Crianças brincando na rua, estranhos oferecendo um bom dia cordial, uma paz cercava tudo. Poucas vezes me senti tão sozinho, mas provei uma felicidade que só conheci nas remotas lembranças da infância, a inocência de acreditar que um sonho pode se tornar real.

Descobri que havia mais de uma Clarice em Arroio do Meio e que a cidade não era assim, tão diminuta, como eu enxergava. Derramava-se por uma extensa zona rural longe do Centro.

À noite chegava recobrindo o casario com um manto azul-marinho. Com ela, meu ânimo também começou a anoitecer. Acomodei-me na pracinha em frente à Prefeitura e deixei que a brisa gelada me abraçasse. O celular vibrou no bolso do casaco me trazendo de volta. Era Clarice. Reconheci o número. Atendi afoito.

- Clarice?

- É você que está procurando a Clarice? - Uma voz masculina rompeu do outro lado da linha, carregava um sotaque grave e abafado.


- Sim. Eu estou querendo falar com ela...

- Esquece, rapaz! Ela é casada! É uma vagabunda, eu sei, mas é minha mulher. Esquece! Vai ser melhor pra mim e pra você. Some da cidade, some rápido.

Vaguei, mecanicamente, pelas ruas desertas. Avistei um Pub com o nome de Calabouço, não poderia ser mais conveniente. Bebi pela madrugada adentro. Retornaria ao Rio na manhã de terça-feira, preferi voltar de ônibus.

Encolhido numa poltrona ao lado da janela e acompanhado pela ressaca, adormeci somente uma vez durante a longa viagem de vinte quatro horas até a Cidade Maravilhosa. No único instante que dormi, sonhei. Um daqueles sonhos em que você se vê despencando de lugar nenhum, uma vertigem que terminou quando eu me espatifava numa das pistas da Av. Brasil. Acordei sobressaltado e perdi definitivamente o sono.

Contemplando o infinito tapete verde à beira da estrada, imaginei a morte. Sem passado, sem futuro... Meu presente era voar sobre o asfalto com os olhos fixos na linha que dividia céu e terra.

Comecei a rir, tomado por uma alegria inexplicável. Lentamente, meu cérebro recomeçou a funcionar por aforismos.

O coração é um coquetel molotov. Não se vive só uma vida quando nos deixamos incendiar por muitas paixões. Cada nova paixão é uma explosão, um renascimento.

Agora, restava-me o consolo de aguardar a ressurreição... Ela viria...


DANTE

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GPDIRETORIA
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#2 Mensagem por GPDIRETORIA » 05 Jan 2007, 23:12

::choro:: ...

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Chuck Schuldiner
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#3 Mensagem por Chuck Schuldiner » 28 Ago 2008, 11:49

Cara, isso me faz lembrar a mim mesmo, saindo do Rio atrás de paixões impossíveis, em Curitiba, Buenos Aires e etc.
ás vezes impossiveis pelo simples fato de eu não conseguir ficar longe do Rio, e toda vez que me via chegando na Brasil ou na Linha Vermelha, por maqis que existissem 500 favelas ao meu redor me batia uma alegria comovente.

Só Deus sabe como eu estou conseguindo morar em Florianópolis.

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