Bem ao contrário, sou muito apegado às regras, tanto que nunca me nego a celebrar congressos carnais com mulheres menstruadas. Além de ser fiel às regras, sou também um sujeito muito conservador, tanto no que diz respeito aos hábitos, quanto aos conceitos.
Exatamente por ser um conservador, estou radiante com a visita do Papa a São Paulo. Aqueles que me conhecem pessoalmente não estranhem se me virem pela televisão, no Campo de Marte, agitando uma bandeirinha do Vaticano. Embora vocês possam imaginar que somos figuras díspares, sou obrigado a dizer que as posições filosóficas e sociais defendidas pelo Papa são as mesmas que eu defendo, senão vejamos:
Em primeiro lugar, nossas denominações são semelhantes, ao menos foneticamente: ele é o Sumo Pontífice, eu o Sumo Patife.
Por outro lado, o Papa nos mostra o caminho para a Luz. Eu também procuro a luz, mas a minha é de coloração vermelha. Trata-se de uma mera divergência cromática, pouco significante.
Mesmo que tivéssemos ambos vivido há aproximadamente 1977 anos atrás, provavelmente teríamos cruzado nossos caminhos na Galiléia. Ele atrás de Jesus, eu de Maria Madalena, antes da conversão, é bom que se diga.
Mas o fato é que eu tenho motivos mais que suficientes para apoiar todas as propostas que o Santo Padre vem defendendo com obstinação, na qualidade de maior teólogo vivo. Ele pelas razões dele, eu pelas minhas, mas o resultado final é o mesmo, embora o destino dele seja o céu, o meu o inferno.
Vejamos cada uma separadamente.
Camisinha: Também sou contra o uso da touca de látex, pois é algo que ofende a natureza, retirando a dignidade da figura humana. Eu gosto é de couro-no-couro. Não tem coisa melhor do que sentir a elasticidade de uma boa buceta molhada a pressionar a chapeleta com precisão milimétrica. Se ao menos o projetista da Johnson tivesse a capacidade divina de conferir à borracha a mesma sensibilidade do couro intra-vaginal, eu não me incomodaria. Como isso é impossível, eu apóio a cruzada papal, divirjo do Lula, da Marta Suplicy e do Dr. Dráuzio Varela, deixando aqui consignado meus protestos contra essas tendências modernizantes anti-naturais.
Divórcio: Mais uma vez, sou contra. O casamento é que mantém o equilíbrio da sociedade. Poucas coisas são tão prazerosas neste mundo quanto comer uma mulher casada. As mulheres casadas, devido às agruras do casamento, vêm ao encontro do amante com rara sofreguidão, proporcionando uma trepada que as mulheres solteiras não conseguem jamais igualar. Depois do interlúdio sexual, vestem-se e retornam ao aconchego de seus lares sem ficar questionando quando é que você vai largar de sua esposa para casar com ela.
As mulheres divorciadas são como as pragas bíblicas, como nuvens de gafanhotos invadindo barzinhos noturnos à procura de um novo marido. Enquanto você, macho incauto, quer apenas dar uma satisfação às suas necessidades primárias, a divorciada te atormenta, falando mal do marido anterior e perguntando se você a ama, logo após a primeira (e última) trepada.
Não ao divórcio!
Indissolubilidade matrimonial: Este dogma está diretamentre relacionado à minha contrariedade ao divórcio. Se as nossas regras 3 casadas se convencerem que o casamento é indissolúvel, não vão mais nos atormentar para que nos separemos para constituir nova família. Vão enfiar a viola no saco e voltar para seus lares felizes e resignadas com este dogma inexorável. Some-se a isto que o custo de uma separação é algo proibitivo. Separar-se e ter que montar uma nova casa e, pior, constituir uma nova casa com outra mulher, para em poucos anos voltar a ter os mesmos problemas do casamento anterior, é algo que foge a toda e qualquer regra de bom senso. A hipocrisia é sempre mais rentável.
Prostituição: Contra, de novo. A vida moderna já é cara o suficiente para que tenhamos de gastar dinheiro com mulheres, quando é certo que elas poderiam liberar o pastel e a rosquinha de sobremesa sem ônus. As prostitutas deveriam utilizar seus dotes naturais para acalmar a sanha dos machos, recebendo como retribuição nosso eterno agradecimento e nossas igualmente eternas e sinceras promessas de amor. Agindo as mulheres desta forma benevolente, o mundo seria menos violento, tese que já foi exposta com brilhantismo por Mario Vargas Llosa, em sua obra “Pantaleão e as Visitadoras”. Mas não, além do nosso amor sincero, elas também querem nosso dinheiro, que poderia ser melhor direcionado para as indústrias de beneficiamento de malte, cevada e cana-de-açúcar, gerando mais riquezas e empregos.
Homossexualismo: Concordo com o Papa. Trata-se de uma opção que traz imensos problemas aos homens de nossa estirpe. Como hoje o homossexualismo é difundido de uma forma sem precedentes na história da humanidade, as mulheres não sabem mais quem enforna o robalo ou não. Na dúvida, tentam enfiar indistintamente os dedos em nossos cus, supondo que a prática do fio-terra é um imperativo masculino, como se fôssemos uma cabine primária necessitando de aterramento.
Sodomia: Mais um disparate contra as regras naturais da natureza humana. A sodomia é uma prática odiosa, que além de deixar imunda de excrementos a clava forte do fiel, deu origem à execrável TC (Taxa de Cu), que todas as meretrizes insistem em cobrar, como se o orifício anal fosse algo que não estivesse incorporado ao todo.
Missa em latim: Apoio total de minha parte. Detesto ficar “pescando” na igreja durante a missa, com todos os olhares de desaprovação em minha direção. A missa em latim resolverá esse problema, pois com todos dormindo à minha volta, não serei alvo da maledicência alheia.
Para os que afirmarem que tais posicionamentos são retrógrados e inadequados à nossa conjuntura, divirjo, pois eu, o Sumo Patife, tenho a mais profunda convicção que o Sumo Pontífice, beneficiário da infalibilidade papal, dispõe de um eficiente “Plano B” para evitar a disseminação da AIDS pelo mundo e saberá o que fazer com o imenso rebanho de órfãos, alguns milhões deles também aidéticos, que terá à disposição, por sua obra e graça. Da mesma forma, saberá levar o consolo às famílias daqueles vitimados pela intolerância quanto à orientação sexual, mormente quando são espancados na Praça da República.
É reconfortante saber onde se encontra a verdade.