De fato, por incrível que pareça, uma simples pedra de gelo atirada de uma altura considerável atinge grande velocidade e potência (leis da física sobre as quais não sou grande conhecedor) e é, sim, capaz de produzir um impacto suficiente a atordoar e até matar uma pessoa. Já soube de uma saco plástico cheio de água ser capaz de derrubar uma pessoa com o impacto. Um mergulho no mar de uma grande altura também pode matar. Enfim, quem conhecer Física pode falar mais a respeito.
Mas falando sobre o caso do tópico em si, essas situações, infelizmente, contribuem muito para arregimentar uma peculiar luta de classes muito presente, particularmente, no Rio de Janeiro. Tanto este como o caso do espancamento da doméstica no ponto de ônibus faz acirrar o remanchismo que parte das classes menos favorecidas com relação àquela parcela da população carioca que faz parte dos enredos de novela de Manoel Carlos. Os habitantes do Lebron, Ipanema, Tijuca, etc., invariavelmente são apontados pelos moradores de favelas e de bairros da periferia como responsáveis pelas suas mazelas. Em definitivo, as diferenças sociais em cidades como Rio de Janeiro são realçadas com esses ocorridos. Uma das várias reações naturais é a população, de forma geral, não se sensibilizar quando algum representante das classes abastadas é vítima de alguma violência/delito. Já morei no Rio por quase 1 ano e já vi esses chamados filhinhos de papai sendo assaltados na rua em plena luz do dia. A reação das pessoas ao redor sempre foi, pelo que vi, de indiferença, ninguém se arvorou em defender a vítima e arrisco a dizer que o "bem-feito" pairou na cabeça das testemunhas. Mais um aspecto interessante dentre os efeitos causados pela desigualdade social no País. Uma forma de violência, como essa de ricos atirando ovos em pessoas que passam a pé nas ruas, servindo de justificativa para outras formas de violência, como ricos sendo assaltados sem que se perceba qualuqer comoção por parte das classes desfavorecidas. Esse fenômeno, por óbvio, ocorre também em outras capitais, como São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, etc., mas arrisco a dizer que em menor escala. A razão disto, não me acho competente para apontar, sou mero observador, mas vou chutar que no Rio de Janeiro e em algumas outras capitais o encontro de brancos ricos e negros/morenos pobres gere maior choque. Nas praias de Ipanema e Lebron, até umas 10h da manhã, não se vê um negro, só se vê a elite carioca. Após esse horário, os ônibus do subúrbio começam a "descarregar" aquela população que tem pouco ou nenhum acesso a conforto. Não é por outra razão que se construiu o "Piscinão", para manter os pobres longe. Uma solução bem "paulistano", eu diria. Aqui em São Paulo padecemos de uma hipocrisia peculiar, onde se pode andar a pé com tranqüilidade pelas ruas dos Jardins e pela Av. Paulista sem correr o risco de ser assaltado, já que há pociamento a cada quarteirão, o oposto do que ocorre num Capão Redondo, Pirituba, Vila D'Alva, etc.
Não me sai da memória um fato ocorrido na minha primeira viagem a Buenos Aires, Argentina, em meados dos anos 80. Tomei um ônibus circular e acabei adormecendo. Fui acordar cerca de 1h depois, creio eu, numa Villa Miseria (favela) cercada de muros, cuja entrada tinha até uma guarita desativada. Me disseram depois que durante a ditadura militar, o governo construía muros ao redor das Villas Miserias, de modo a que não fossem vistas pelos turistas ou quem quer que seja e as guaritas tinham guardas que limitavam as entradas e saídas. Não sei até onde isso é verdade, mas me pareceu muito claramente a expressão material daquele ditado muito popular na Argentina: "Lo que no se ve, no existe".
Abraços, Barak.