Nos últimos dias fui enviado, a contragosto, para Hong Kong, aonde tive que resolver um pequeno desentendimento comercial entre um cliente meu da indústria siderúrgica e um importador local, coisa muito chata. Após doze dias de negociação cansativa, com a presença de um intérprete que traduzia inglês para mandarim e cantonês (uma frase comum levava em média quinze minutos para ser completamente traduzida), não aguentei mais e tive que ir para a putaria.
Não sou adepto do esporte da putaria fora do Brasil, porque em noventa e nove por cento dos casos nem as putas e nem os preços compensam. Porém, após doze dias escutando uma série de orientais sisudos falando mey-uô para todas as propostas que eu tentava negociar a favor de meu cliente, fui obrigado a render-me ao clamor da testosterona. Chamei o tradutor de canto, após a reunião, e sutilmente intimei-o a tomar um drink comigo, e expliquei no melhor inglês possível que eu apenas estava fazendo isso porque precisava de um guia de confiança para me levar aonde alimentar o Jotalhão, furar o couro, empurrar a cabeça de tartaruga para dentro de uma toca. Ele, após prestar muita atenção (até agora não sei se os chineses fazem isso para testar a paciência do interlocutor ou se fazem isso porque não entendem uma palavra do que se fala), sorriu e disse exatamente assim :
- OK ! I'll show ya shampoo gués ! Ya laikit !
Cocei a cabeça, já me arrependendo do fato de estar caminhando junto ao desconhecido com uma companhia que mal falava inglês, numa terra aonde ninguém faz questão nenhuma de se comunicar em inglês, a não ser no hotel. Eu tentei até aliciar um dos camareiros a chamar uma puta para mim, mas ele ou não entendeu o que eu falei ou então ficou com medo que eu lhe comesse o rabo, visto que escafedeu-se de minha vista logo após minha conversa com ele. Coisa muito desesperadora.
No bar do hotel, infelizmente, não havia condições de se encontrar nenhuma puta. Uma tai-tai gorda e meio desdentada limpava o bar, e os demais garçons e barmans eram todos homens. Fiquei no Royal Park Hotel, em New Territories, um hotel até que bem razoável, mas tristemente despovoado de putas. Tive que me conformar em esperar o tradutor para ir conhecer o tal do Shampoo Gués, fosse lá o que isso fosse. Shampoo de peido ? Fiquei curioso, admito. E esperei estoicamente meu guia no bar do hotel, tomando meu black label cowboy (me falaram para nunca aceitar gelo nem água em Hong Kong. Coisa de americano, mas por via das dúvidas resolvi poupar meus coliformes fecais sul-americanos de uma improvável contaminação). Ele chegou pelas nove e meia da noite, hora local.
Fomos a um bairro chamado Mong Kok, extremamente sujo, parecido com a Praça da Sé em SP. Não fiquei encarando muito o pessoal, pois afinal de contas eu não estava a fim de arrumar confusão num lugar que eu não conhecia nem a língua e nem ninguém. Passamos na porta de uma série de inferninhos (Devil Dragon, Blue Oister, Pearl, todos com nomes em inglês e com luz de neon copiando Las Vegas), mas não entramos em nenhum. Entramos num lugar que também tinha uma placa em inglês, aonde estava escrito... Barber Shop
Sim, Digníssimos. Barbearia. Os cidadãos de Hong Kong, pelo visto, levam muito a sério essa história de fazer barba, cabelo e bigode. Não pude evitar o riso, e questionei meu guia (querendo espancá-lo), falando que eu não precisava cortar o cabelo, e sim comer uma carne peluda e mijada. Ele sorriu e me conduziu pela mão, com aquele sotaque chinês dizendo, repetidamente :
- Tis uei, sâr ! Tis uei, sâr ! hihihihihihihi
Meu sangue ferveu, e tive ganas novamente de enforcar o filho da puta do guia, que me fez sentar numa cadeira de barbeiro e saiu fora. Aí, digníssimos, que começou a coisa estranha.
Uma chinesa muito da boa (peitos obviamente siliconados, bunda grande e bem bonita de rosto) aparece e me pergunta, num inglês macarrônico :
- Sâr, diu wana shampoo or massage ?
Pedi o shampoo. Digníssimos... Ela me fez um shampoo (literalmente, lavou minha cabeça enfiando as tetas na minha cara), e depois perguntou se eu queria alguma coisa a mais. O jotalhão já estava quase estourando o zíper, e eu disse da melhor maneira que eu pude que eu queria visitar-lhe as trompas de falópio. Ela deu uma risadinha e falou que não podia atender lá, mas que por 200 dólares poderia fazer uma "visitinha" para mim aonde quer que eu estivesse hospedado. Meu espírito de forista bradou contra aquele insulto (muita grana para pouca puta), e acabei comendo a chinesa no banco de trás do carro do tradutor, por 50 dólares. Não quis me dar o cu, aquela vaca, mas engoliu até as bolas do saco do jotalhão.
Depois de mais uns dois dias de negociação, finalmente resolvi o que tinha que resolver e voltei para a civilização. Mesmo assim, fica aqui relatada a história das Shampoo Girls (não era gás), coisa muito pitoresca.
Alvíssaras.