Euzébio era aquele cidadão respeitado e muito bem estereotipado pelo Jornal Nacional como o brasileiro modelo, o classe média. Bem casado, trabalhava em uma empresa respeitável, recebia o numerário em dia – inclusive o 13º, tinha apartamento com suíte, financiado em 10 anos (mas dele), carro médio com no máximo 3 anos de idade. Dívida, só o passivo do cartão de crédito, porém totalmente administrável e dentro de seu padrão.
Havia casado com Matilda havia 10 anos e estavam sem crianças ainda. Não conseguiram...
Ela era uma esposa normal, independente, trabalhadora também, tudo de bom para Euzébio, porém ciumenta demais. Demais!
Um dia após uma daquelas crises que acometiam Matilda por não conseguir engravidar, arrumou sua malinha e lá foi visitar a sua mãe. Um dia depois ligou para Euzébio comunicando que tinha uma novidade para o lar.
Euzébio gostava muito de sua sogra, tanto que lhe deu o peculiar apelido de jaravel – algo como o cruzamento de jararaca com cascavel. Chamava a megera assim quando na companhia de amigos ou quando na ausência de Matilda.
Pensou consigo, após a ligação da esposa:
-Fodeu! Esta véia do capeta arrumou pra minha cabeça...
Ocorre porém, que Euzébio além de exemplar marido, era um cafageste de primeira linha, um desclassificado moral. Ou como ele mesmo se definia em suas profundas reflexões, um homem do sexo masculino, pois tem coisas que não se faz com a mulher que se casa.
Vivia de amantes, prostitutas, festas em lupanares, o festerê generalizado, todavia em casa, um santo.
Havia aprendido a conciliar suas escapadas com o ciúme de Matilda. Para tudo ele tinha uma solução, uma carta na manga para transpor o sexto sentido da patroa. Cuecas reserva no escritório, telefone reserva – carinhosamente chamado de pervafone, compromissos periódicos que não existiam, álibis construídos com o auxílio de outros cafagestes, etc., enfim uma infinidade de artimanhas que sempre o salvaram de uma investidura maior da esposa em busca de rastros de marafona.
Vivia feliz na sua hipocrisia, naquele casamento que o dirigia ao cadafalso.
Pois bem, voltou Matilda da visita à jaravel, sua doce mãezinha. Euzébio refestelado da putaria de 3 dias, foi buscá-la na rodoviária. Já até havia esquecido da novidade prometida por Matilda alguns dias antes pelo telefone. Ao avistá-la no desembarque sentiu uma espécie de calafrio e teve uma clara sensação de que aconteceria algo de ruim, uma premonição. Ela trazia uma gaiolinha e dentro, um gato, peludo e nojento, como todos os demais gatos, animais odiáveis.
-Euzébio, querido, este aqui é o Messias, nosso novo companheirinho, não é uma graça?
Ao vê-lo de frente, quase infartou, viu no bichano o sorriso da jaravel, progenitora de sua amada. Euzébio claramente achou que havia enlouquecido...
Matilda o convenceu de que seria bom ter um animalzinho em casa, afinal, um lar sem crianças há de ter outra opção temporária para esculhambar o ambiente e tomar o tempo com mimos infantis. Ele se mostrou desconfiado e disse que era além de um animal infestado de bactérias e esquisito – Euzébio achava esquisito um ser que se lambe as bolas – uma nova despesa para a casa, preferia gastar seu dinheiro com Whisky e não com aquele tal de Whiskas que o maldito Messias comia às toneladas.
O tempo é o senhor da razão. E Euzébio tinha razão, Messias tinha ligação com o dêmo, com o côsa ruim. Pois o gato não se chegava para o lado dele, nunca, nunca mesmo. Entretanto quando ele pincelava fora de casa, ia às amantes, zona, putaria qualquer que fosse, o funesto Messias vinha cheio de amores para seu lado se esfregar, ronronar, como que o denunciando.
Ele disfarçava, mas assim que Matilda virava as costas, dava um safanão no maledicente e prometia:
-Se liga, felino, vou te mandar arrancar as bolas!
E isto foi o deixando transtornado, botava o pé na zona, ao chegar em casa, lá estava o maldizente sorrindo e esperando para o esfrega. Matilda começou a observar e desconfiar. Que tinha aquele gato que somente às vezes chegava no seu cônjuge, cheio de amores.
-Euzébio, deve ser algum cheiro que ele sente! Onde você esteve seu sem-vergonha? Vem cá deixa eu ver!
E assim ia de apuros em apuros, Euzébio concluía que estava enlouquecendo Tentou desovar o gato longe de casa, mais de 20Km. Pois chegou à noite e lá estava o bichano, como que o olhando com desdém de sua poltrona. Tentou envenená-lo, mas o maldito só comia quando Matilda o tratava.
Por fim convenceu sua amada que animais domésticos devem ser castrados, ficam mais calmos e sociáveis. Isto lhe custou até mesmo suborno de dois veterinários, para que avalizassem sua balela junto à patrôa.
Após muito choro e muita vela, embarcou Messias no automóvel e o deixou no veterinário, não sem antes dizer com autoridade e firmeza para o veterinário:
-Cápa o desgraçado, de preferência sem anestesia!
À noitinha, fez questão de buscar Matilda para que passassem no veterinário, afinal ele não teria coragem de chegar perto daquele gato desbolado, tinha certeza que o bichano iria ao seu pescoço.
Teve o doce prazer de ver a cara do gato aterrorizado e pensou consigo:
-Se fodeu né fia-da-puta, X9 desgraçado...
Euzébio porém achou estranho, sentiu uma leve dor de barriga, uma sensação de ansiedade acompanhada de um leve formigamento de seu honorável pau.
Achou que fosse nada de mais e foram para o lar, doce lar, cuidar da recuperação do filhote de satanás.
Passaram-se 3 dias e Euzébio resolveu testar a capação de Messias, saiu antes do trabalho e foi na zona, escolhendo sua puta preferida. Morena linda, alta, esguia, devassa completa... Muitos beijos, muitos abraços, muita chupação e nada do pinto de Euzébio dar sinal de vida, ficou preocupado, mas pensou tentando acalmar-se:
-Paciência, isto acontece com qualquer um...
Tomou mais uma dose de Dreher e foi-se embora, preocupado, mas foi-se.
Chegou em casa, nada do bichano o esperar na porta, como era de costume quando zoneava. Chamou e nada. Entrou na sala, Matilda via novela e ao seu lado Messias o fitava e sorria, novamente aquele sorriso que o lembrou a azeda sogra, novamente um frio percorreu seu corpo de cima abaixo, arrepiou-se e estremeceu, sentando em sua poltrona com a boca seca tal qual o deserto do Atacama.
Depois deste deplorável dia, Euzébio nunca mais teve uma ereção sequer, nem com Matilda, nem com amantes, nem com ninguém.
General
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Este texto teve uma continuação: http://www.gp-guia.net/phpbb/phpbb2/view ... hp?t=66611
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