Artigo do Sommelier - Manuel Luz
A Toscana em dois goles [11-07-2007]
O vinho Chianti provavelmente é o mais famoso vinho italiano e é produzido nas bem-demarcadas regiões de: Arezzo, Firenze, Pisa, Pistoia.
Algumas informações úteis encontradas nos rótulos dos vinhos Chianti:
DOCG: Denominazione di Origine Controllata e Garantita
Chianti Clássico: produzido na região clássica entre Siena e Firenze.
Chianti Rufina: produzido nas proximidades de Rufina, perto de Firenze(direção nordeste), não confundir com Chianti Rufino de garrafa empalhada e de baixa qualidade.
Chianti Montalbano: produzido próximo a Montecarlo, entre Pistoia e Firenze (direção noroeste).
Colli Fiorentini: produzido nos arredores de Firenze
Colli Aretini: produzido nas proximidades de Arezzo.
Colli Senesi: produzido próximo de Siena.
Colline Pisane: produzido nos arredores de Pisa.
Montespertoli: área pertencente à Siena, mais ao sul (DOC desde 1997).
A uva clássica é a Sangiovese mesclada a parcelas de Cabernet Sauvignon , Merlot ou Cabernet Franc.
Um Chianti deve ter 75% de Sangiovese em sua composição, mas também pode conter Canaiolo ,Cabernet Sauvignon e Merlot. As uvas brancas Trebbiano ou Malvasia também podem ser usadas (máximo 10%), porém estão em desuso.
Chianti Classico Riserva envelhece 24 meses obrigatoriamente antes de ir ao mercado sendo pelo menos 12 meses em barricas de carvalho.
Alguns dos bons produtores de Chianti são:
Antinori,
Calcinaia
Carpineto,
Castello di Ama,
Fattoria di Felsina,
Fonterutoli,
Fontodi,
Marchesi de Frescobaldi,
Querceto,
Querciabella,
San Felice,
Isole e Olena,
Riecine,
Vignamaggio.
A Toscana é a quinta maior região produtora da Itália.
Hoje o vinho mais desejado desta região é chamado de Supertoscano.
São vinhos elaborados com uvas de alta qualidade, porém não originais da Itália. São supertoscanos os vinhos produzidos em anos excepcionais com uvas provenientes de vinhedos da melhor qualidade e com muitos anos de idade, o que garante uma melhor seleção natural dos cachos. As vinhas têm a melhor orientação solar e estão nos melhores solos. São robustos e de grande complexidade gustativa. Aromas plenos e profundos. Envelhecem por muitos anos e melhoram muito o sabor e os aromas depois da primeira década de guarda.
São vinhos modernos que reúnem o melhor da tecnologia de fermentação e do controle de qualidade. Mas o ponto alto ainda é a qualidade do vinhedo, a tecnologia é algo secundário que serve apenas para garantir a melhor preservação possível dos aromas e sabores.
Supertoscanos
A uva Sangiovese deriva do nome ‘ Sangue de Giove’ ou ‘ sangue de júpiter. A palavra ‘ jovem’ deriva daí.
Há 40 anos existia um vinhedo na Toscana chamado Sassicaia, nas proximidades de Bolgheri, perto do mar. Este lugar não era o melhor lugar da Toscana para se ter uma vinha e muito menos ainda, diria um toscano qualquer, um lugar onde possa ser produzido um dos maiores vinhos italianos.
Essa história mudou na safra de 1968, quando o Marquês de Incisa colheu uma safra excepcional de Cabernet Sauvignon e loteou com Sangiovese. Mas a renovação não veio apenas pelas misturas de uvas ‘estrangeiras’ a uvas italianas, o novo vinho do vinhedo Sassicaia foi amadurecido em barricas de carvalho novo francês de 225 litros. O hábito até então era amadurecer o vinho em tanques grandes (c.5 mil litros) de carvalho do leste europeu.
Nota: o carvalho do leste europeu é um ‘ quercus petraea’ que transfere para o vinho notas vegetais e lenhosas.
Em 1994 este vinhedo foi ‘promovido’ de VDT Supertoscano para D.O.C Bolgheri.
Havia uma estagnação no ar. O Chianti havia se tornado o vinho da moda pela propaganda norte-americana do pós-guerra e pelo valor baixo. A demanda alta fazia com que a produção por aumentasse cada vez mais e o vinho Chianti fosse cada vez mais diluído e sem personalidade. Era necessária uma inovação, uma nova vida para os vinhos e vinhedos da Toscana. Dessa iniciativa nasceram os vinhos toscanos contemporâneos.
Ao ver os resultados excelentes atingidos em Bolgheri, a família Antinori (primos) admitiram o mesmo processo em suas uvas Cabernet Sauvignon, o resultado foi o excelente Tignanello.
A região de Bolgheri saiu definitivamente do mapa quando Ludivico Antinori apresentou ao mundo em 1985 o Ornellaia (que em dialeto toscano significa
“lugar de freixos” espécie de árvore).
Os supertoscanos hoje são reconhecidos vinhos italianos, embora no início houvesse uma resistência.
Os principais Supertoscanos são:
Ceparello (Sangiovese, Isole e Olena);
Fontarollo (Sangiovese, Felsina Berardenga);
Il Sodaccio e Le Pergole Torte (Sangiovese, Monte Vertine);
Maestro Raro (Sangiovese, Felsina Berardenga);
Masseto (Merlot, Tenute dell’Ornellaia / Marchese Lodovico Antinori);
Ornellaia (Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, Tenute dell’Ornellaia / Marchese Lodovico Antinori);
Querciagrande (Sangiovese, Podere Capacia);
Sassoaloro (Cabernet Sauvignon, La Copo - Biondi Santi);
Solaia (Cabernet Sauvignon, Marchesi Piero Antinori);
Tavernelle (Cabernet Sauvignon,Villa Banfi);
Tignanello (Sangiovese e Cabernet Sauvignon, Marchesi Piero Antinori);
Vigna L’Apparita (Merlot, Castello di Ama).
Brunello di Montalcino
Em Montalcino são produzidos os Brunello e o Rosso di Montalcino. O solo composto de uma argila muito incomum (petrificada e que não retém água) denoninada ‘galestro’ desenvolveu ao longo dos anos uma variação da Sangiovese denominada na região de Brunello ou Sangiovese Grosso.
O Brunello foi considerado DOCG a partir de 1992.
Existem os Brunello di Montalcino e o Brunello di Montalcino Riserva. Para o Brunellos o período de 48 meses na cave é obrigatório, sendo pelo menos 24 em carvalho francês.
Depois de 60 meses de envelhecimento em madeira, sendo pelo menos 30 meses em tonéis de carvalho francês pode receber o título de RISERVA. Apenas nos anos especiais.
O Rosso é uma DOC que utiliza a mesma uva Sangiovese Grosso proveniente de vinhas de menos prestigio, embora tenham alta qualidade não são suficientes para elaborar o Brunello. O Rosso envelhece 1 ano antes de sair para mercado.
Alguns dos melhores produtores de Brunello: Altesino, Biondi-Santi, Camigliano, Pieve di Santa Restituta, Poggio Ântico.
Toscana, dois goles de história:
1840: Barone Ricasoli herda Brolio, em Chianti Classico. Influenciado pelo enólogo Pontac aplica o método Pasteur no Chianti e nasce na Itália o Evangelho segundo Pasteur.
1848: O reino do Piemonte com ajuda de Napoleão III enfrenta os austríacos
que governam a Lombardia. Esse fato aproxima os italianos de métodos de vinificação franceses, ainda desconhecidos. O mildio (doença que definha o cacho) ataca as vinhas do norte. Cavour aplica os métodos toscanos em Barolo, na cantina Faletti,contratando Louis Oudart, enólogo de Bordeaux. Nasce o Barolo moderno.
1885: Francesco Biondi-Santi admite a Brunello. Insprirado no Barolo Faletti de Cavour nasce o Brunello de Montalcino.
1888: Brunello de Montalcino torna-se o mais robusto, longevo e procurado vinho da Itália até o advento dos Supertoscanos.
Outros toscanos:
Carmignano, Chianti, Morellino di Scansano, San Gimgnano, Sant´Antimo, Vino Nobile di Montepulciano, Vin Santo.
Os brancos são Vernaccia di San Gimignano, Bianco Pisano, Bolgheri,etc
As melhores safras na Toscana dos últimos vinte anos foram (que receberam mais de 4 pontos e meio de cinco possíveis): 85, 88, 90, 95, 97, 99, 00 e 01.