Assim é a vida, estamos sempre em busca de satisfação , mas o mundo decidamente não é perfeito. Quando você encontra aquela loira de bundinha empinada e seios naturais perfeitos, com uma boca carnuda e sorriso demolidor, logo descobre o que ela tem de fatal: o hálito. E ainda por cima é fanha. E ainda cobra a taxa do cu, fanha filha de uma égua!
E o que dizer da mulata linda, dona da melhor bunda que você viu nos últimos seis meses, que pede pra enterrar tudo na bundinha, assim, sem nenhum tostão a mais, e quando você parte pra um 69 percebe um cheiro de defunto na xoxota e ela ainda solta peidinhos silenciosos na sua cara? Heim, heim?
O mundo não é mesmo injusto?
Ou talvez o injusto seja eu, ao escancarar uma visão tão pessimista das coisas, mas só estou tentando filosofar sobre essa nossa eterna busca pela perfeição, e não pude deixar de usar exemplos um tanto radicais. Vamos a outro então:
Você acha a mulher ideal. Morena ou loira (escolha), um pouco mais baixa que você, com olhos lindos, boca desenhada pelo próprio Deus, bunda da Jenifer Lopez e seios, bom, os seios também deixo a sua escolha. Ela tem uma voz macia e jamais grita, uma incrível capacidade de controlar seus gastos com sandálias e bolsas e, pasmem, adora ver futebol na tv. Não é um sonho?
Pois bem, você então casa com essa enviada dos céus. Durante os primeiros dois anos, come-a de tudo que é jeito. Ah, esqueci de mencionar que ela adora dar o rabo. E você come e se delicia durante dois maravilhosos anos, sem nunca dar merda, quase um milagre.. E a bucetinha, deusdocéu, a bucetinha tem gosto de morangos silvestres e exala um perfume que faz com que você a esfregue em todo o corpo antes de sair pro trabalho, uma loucura.
Passam-se três anos e você começa a desconfiar que ela fica muito tempo na internet..
Três anos e meio, ela não o chama mais de "meu lindo".
Quatro anos, o cu tá mais largo que a buceta e você há muito deixou de se esfregar nela pra ficar cheiroso. Além disso, tem quase mais sandálias e bolsas do que ácaros no seu quarto.
O resto é quase sempre a mesma história. Um dos dois tem um caso. Ou os dois, tanto faz. O fato é que o casamento desandou e, mesmo que isso não ocorra, você vai acabar enjoando do gosto de morangos silvestres, que transformaram-se em morangos mofados..
E, numa noite de tédio, vai pegar o carro e andar pelas ruas da cidade, percorrer com os olhos calçadas previamente escolhidas, em busca de novos prazeres, de outros sabores, quem sabe até de uma buceta apertada, milagres acontecem, você pensa, enquanto dirige.
Pois foi numa noite dessas, de inconformidade com o universo, há alguns anos, recém chegado à capital, que saí a procura de sexo fácil, assim, como esses caras que passam o dia acessando o gpguia.
Andei pela Farrapos, ida e volta. Entrei em suas transversais, ao som de uma coletânea dos Stones, especialmente feita pra essas ocasiões, havia tomado quatro doses de conhaque antes de sair, dez graus em Porto Alegre, e as putas mostrando as bundas sob as luzes da Farrapos. Sodoma era ali, às três e meia da manhã.
Então eu a vi. Numa esquina qualquer que apaguei da memória. Era alta, um pouco mais baixa que eu, morena de cabelos lisos pelos ombros, magra de um quadril maravilhoso, bunda quase da Jenifer Lopez, tetas evidentemente siliconadas, o que não impediu um desejo instantâneo de arrancar os seus jeans apertados e sua jaqueta de pele que deixava o umbigo à mostra. Não parecia daquelas putas espalhafatosas que ficam fazendo caras e bocas. Usava um baton discreto, tinha olhos levemente puxados, um nariz em harmonia perfeita com os lábios carnudos, tinha uma voz levemente rouca, falava pouco, era muito bom pra ser verdade. Me pediu cinquentinha pra ir prum motel e fazer tudo o que eu quizesse com ela. Não sei se era efeito do conhaque ou da guitarra do Keith Richards ecoando no meu chevetão, só sei que não pensei duas vezes, me fui pro Paraiso, nome de um motel barato, com a Elis, esse era o nome dela.
No motel, um muquifo dos infernos, não tinha camisinha. Nem eu havia pensado em tê-las no carro. Sai do quarto, que nem telefone tinha, fui até a bosta da portaria e pedi que me conseguissem uma camisinha ao menos. Voltei pro quarto com a promessa de ser atendido. Encontrei-a semi-despida, Elis, nome de diva, de calcinha preta, de bruços na cama, rebolando suavemente e dizendo "vem, gatinho". Eu, quase ronronando, sorri e respondi: "vamos com calma que eu tô meio bêbado, mas não quero cometer a loucura de te comer sem proteção, minha cadelinha."
O quarto pouco iluminado, o cheiro de algum tipo doce de incenso e um som do Bob Marley vindo do quarto ao lado, o conhaque na cabeça, os ecos de "Satisfaction" e aquela voz rouca me chamando, parecia tudo meio surreal, mas a bunda da Elis era plenamente palpável, e durinha como a realidade do dia seguinte.
No meio desse clima, o telefone dela toca, ela resmunga alguma coisa tipo "putaquepariu", espicha o braço tatuado com um beija-flor, pega o telefone, vira-se de barriga pra cima e diz com a voz rouca e dengosa:
-Alôôô.
Enquanto ela fala, acaricia o meio das suas pernas e, deusdocéu, quase não acredito no volume que vejo no meio das pernas da Elis, uma representação geomética cilíndrica de algo que começava a crescer por baixo de suas calcinhas. Se bem me lembro dos livros de anatomia, aquilo era, argh, um caralho, e não era dos pequenos. Pensei ser algum efeito alucinógeno do conhaque que havia tomado em casa, ou daquela fumaça doce que entrava pela janela vindo do quarto ao lado, pensei em tudo, menos que era o que realmente era.
Vejam a situação. Eu, um cara do interior do Rio Grande, criado jogando bolita na rua e brincando de caubói (não, não o da Brokeback Moutain), conhecido por comer todas as guriazinhas da vizinhança, ali, num hotel de terceira, prestes a comer o cu do...Eliseu?, ou seria Elismar? Imaginei ele dizendo "pra ti é Elis, gatinho...".
Veio-me a cabeça essas imperfeições do mundo, nosso eterno descontentamento com as coisas, nossa busca perdida pela perfeição. Fui saindo do quarto de mansinho, com o pau sofrendo a síndrome do amolecimento abrupto, disse que ia buscar a camisinha que tava demorando, empurrei o chevete em ponto morto até a rua, liguei o motor e me sumi pela Farrapos em direção ao nada, agradecendo a Deus por não ter cometido um assassinato com requintes de crueldade.
Deixei um ser humano naquele quarto sem cumprir o combinado, eu sei. Mas não sou perfeito, nunca fui. Até rezei pelo degenerado, pedindo pra que nunca fosse atropelado ou violentado por um marginal qualquer. Rezei rápido, sem muita fé, claro, mas foi o que pude fazer por aquele possuido pelo demônio.
Naquela noite, fiquei na mão. Literalmente. Não foi a punheta perfeita, mas o que é perfeito, afinal, nessa vida?
Hoje, com o olhar distante dos fatos, mais maduro, cadastrado no gpguia, diminuí as chances de decepção. Agora, nas raras vezes que paro na Farrapos pra falar com uma puta, peço identidade e, se tenho dúvida, peço pra ela dar uma mijadinha na calçada antes de entrar no carro. Se ela não se agachar pra mijar, eu meto a bala, pois, com o tempo, percebi que também estou longe da perfeição, fui ficando mais distante dela, e cada vez mais impaciente.
Eventualmente ainda ouço os Stones, mas nunca mais tomei conhaque antes de sair de casa.
Hot Sereno (ressabiado)