Ana era uma mulher sem muitos princípios.
Quando foi pedida em casamento, seus olhos se iluminaram, sua vida se tornou fértil e propensa a dar certo de uma hora pra outra. Seus gestos se amainaram, suas roupas alongaram, seu jeito ficou calmo e suas palavras mais requintadas.
Além de fácil ficou falsa.
Toda mulher, por mais fácil que seja, sonha em ser querida, amada, pedida e desejada. Toda mulher sonha em pegar o buquê da noiva, rouba um bem-casado com esperança e faz simpatias em noite de ano novo.
Todo homem quer casar pra ter uma esposa de brinquedo, um bibelô pronto a esperá-lo e aguentá-lo até altas horas com uma desculpa qualquer.
Ana estava disposta a isso. Estava cansada da sua vida fútil, sem sentido. Disposta a cozinhar, lavar, passar, arrumar o dia inteiro e estar fresca e límpida à noite, como se nada tivesse feito, para que o seu homem se dispusesse dela como bem entendesse.
Esperava em troca somente algum carinho e pouca compreensão.
Mas Ana era uma moça sem princípios.
Passado o primeiro ano, o pouco carinho acabou, e a compreensão, que na verdade nunca existiu, estava longe demais para ser alcançada.
Ana ficava na janela martelando consigo mesma... Vou dar pro primeiro que passar, só de raiva. Na esquina sempre estava seu vizinho, Martim. Homem sério e gostoso, era o que importava.
Martim passava todo dia às seis horas na janela. E todo dia Ana estava ali para vê-lo passar.
_ Bom dia, Senhor Martim!
_ Bom dia, Dona Ana!
Os dias se passaram, até que Dona Ana teve coragem para chamá-lo para um café.
Muitos cafés depois, Dona Ana disse:
_ Bom dia, Senhor Martim! O que o senhor acha de entrar, tomar um café e depois me comer alucinadamente?
O senhor Martim nem precisou responder. Se embola no fogo de dona Ana sempre que consegue um tempo livre.
O marido de dona Ana vive feliz pelas ruas, e se gaba aos amigos de ter domado a fera que é a mulher...