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Este texto é uma continuação de http://www.gp-guia.net/phpbb/phpbb2/view ... hp?t=72196
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O TD estava quase concluído. Orlando limpou os pincéis e foi sentar-se na cadeira que normalmente era usada pelas modelos. Dormira pouco essa noite, o velhinho tinha passado mal e precisou de assistência. Agonizante, pedira que o retrato de João Batista fosse colocado à sua cabeceira. Era uma bela obra, mas Orlando não se orgulhava dela. Não gostava de pintar marmanjos. Muito menos o enorme cajado, que simbolizava que no atendimento houvera inversão de papéis. Já convivera o suficiente com os florentinos para não se chocar mais com as boiolices que abertamente professavam, mas definitivamente não era a sua praia. Os outros discípulos zombavam dele por isso, "%Orlando espada, grunf, grunf, preferir buceta", vivia dizendo Lorenzo. Puro despeito, suspeitava. Lorenzo era o mais antigo, esperava herdar o ateliê, mas o velhinho tinha desde o primeiro dia achado Orlando mais talentoso e apenas a ele revelara os ensinamentos mais avançados.
Ciúme inútil, aliás, agora que o mestre estava morto. Não alimentava esperanças a respeito do destino do ateliê. Apenas o velhote tinha os contatos, os alunos eram meros executores. Além de membro da Coordenação, o mestre era inegavelmente muito inteligente: criara o Código, agora empregado inclusive pelos outros ateliês, para burlar a vigilância dos Inimigos. Na verdade, uma idéia simples, um ovo de Colombo, como diziam os genoveses. "*Gênova talvez bom refúgio. Poder fugir para Novo Mundo.". Não pensava mais em voltar para casa. "*Civilização melhor, putas depilar suvaqueira.".
O TD estava quase concluído. Mas ainda restava um problema a resolver. "%A Lisa Ferrari beija na boca.", explicara o encomendante. Até aí, sem problemas, de acordo com as convenções estabelecidas bastava retratá-la sorrindo. No entanto, o BOP acrescentara "%...cabeça incrível, faz facul, zero de PPP...", e zero de PPP requeria que ela aparecesse de boca fechada no quadro. Evidentemente, tal combinação inaudita de atributos não ocorrera ao criador do Código. E agora não podia mais perguntar, teria que achar uma solução ele mesmo.
"%Fui envenenado, Orlando.", recordava-se de ter dito o mestre antes de expirar, "%Os Sonegadores perdoaram-me a criação do Código, mas não o ter lido o TD Proibido.". "%Lido não, visto.", replicara, ao que o velhote respondeu "%Visto não, jovem, lido mesmo. Estava escrito. Era um TD antigo, do tempo do Forum de Alexandria.". "%Alexandria, Orlando lembrar.", "%Não diga besteiras, foi há muito tempo, em 391 se me lembro bem, poucos conhecem a história. Caesar Augustus era o Administrador, recusou-se a raspar o TD Proibido, os BOPs puseram fogo em tudo, com o apoio dos Sonegadores.". "%Orlando saber.", tentou acalmar o mestre para que o efeito do veneno tardasse mais, "%Não estou delirando, pra quê você acha que a Coordenação ia nos pedir para aceitar encomendas dos BOPs? Acha que queremos TDs BOPs na Galeria? A Coordenação queria que eu pudesse visitar os palácios deles e procurasse o TD. Ontem, enquanto Cósimo ia caçar viados em sua reserva particular, encontrei-o finalmente.", e dizendo isso passou um pedaço de papiro a Orlando, "%Orlando não ler.", "%Por isso confio em você, é burro demais para entender a importância de tudo. Guarde-o e entregue-o à Coordenação.". "%Não conhecer Coordenação.". "%Vá para Paris e procure Denis, o Francês Maluco. Mas não deixe que os Sonegadores..." e não conseguiu completar a frase.
Pena, se soubesse que o mestre se interessava pelos velhos papiros de Alexandria, teria mostrado os que trouxera de lá por acaso. Na pressa de ir embora, apanhara a sacola de um bibliotecário por engano, em lugar da sua. Grande azar, ficara sem a raspadeira de osso, a machadinha de pedra e o esmagador de piolhos de chifre, um neandertal sem esses acessórios não pegava nenhuma garota nas baladas. Mesmo assim, seu instinto primitivo disse-lhe para não jogar fora os papiros inúteis ao arrumar a mochila para a nova partida. Só não guardou os desenhos que o velho menosprezava, aqueles planos para uma máquina capaz de catar conchas no mais fundo do oceano, e uma outra para trazê-las para terra através do ar. Agora via que eram mesmo loucuras, como todos diziam, deixou-os sobre a mesa.
O sino da igreja deu quinze badaladas. Precisava terminar e partir para o Norte, e o século XVI já estava começando. Tomou dos pincéis para retomar a obra. De todos os truques manjados que o velho ensinara, o de embaçar traços foi o que valeu mais nessa hora. Atirou-se à obra com nórdico afinco. Desenhou sem chegar a realmente desenhar, coloriu sem chegar realmente a colorir. Sombreou, esfumou e sobrepôs ardilosamente. Aplicou técnicas milenares e técnicas recentes. Ao final, a assinatura como o mestre lhe ensinara, repetida milhares de vezes até alcançar a imitação perfeita antes da autorização para pô-la em um quadro.
O TD estava concluído. Ficou bom. Ao fundo, o Arno sinuoso indicava que o oral tinha sido bem babado; a mata escura mostrava que ela depilava a perereca em forma de bigodinho; o céu sombrio registrava que o fight tinha ocorrido às primeiras horas do dia numa estalagem na periferia de Florença, próximo ao trevo que levava a Bolonha. E que a GP sorrisse era indubitável, apesar de os lábios nada se abrirem: todos saberiam que Lisa Ferrari beijava na boca e não falava PPP. Ao Código tinha sido acrescido um novo semantema, graças a um obscuro catador de conchas analfabeto. "*Dirão Leonardo pintar isso também. Falsche Welt!". Pegou sua mochila e saiu pouco antes de os Sonegadores chegarem para vasculhar a casa.
Tricampeão
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Este texto teve uma continuação: http://www.gp-guia.net/phpbb/phpbb2/view ... hp?t=73183
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Este texto é uma continuação de http://www.gp-guia.net/phpbb/phpbb2/view ... hp?t=72196
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O TD estava quase concluído. Orlando limpou os pincéis e foi sentar-se na cadeira que normalmente era usada pelas modelos. Dormira pouco essa noite, o velhinho tinha passado mal e precisou de assistência. Agonizante, pedira que o retrato de João Batista fosse colocado à sua cabeceira. Era uma bela obra, mas Orlando não se orgulhava dela. Não gostava de pintar marmanjos. Muito menos o enorme cajado, que simbolizava que no atendimento houvera inversão de papéis. Já convivera o suficiente com os florentinos para não se chocar mais com as boiolices que abertamente professavam, mas definitivamente não era a sua praia. Os outros discípulos zombavam dele por isso, "%Orlando espada, grunf, grunf, preferir buceta", vivia dizendo Lorenzo. Puro despeito, suspeitava. Lorenzo era o mais antigo, esperava herdar o ateliê, mas o velhinho tinha desde o primeiro dia achado Orlando mais talentoso e apenas a ele revelara os ensinamentos mais avançados.
Ciúme inútil, aliás, agora que o mestre estava morto. Não alimentava esperanças a respeito do destino do ateliê. Apenas o velhote tinha os contatos, os alunos eram meros executores. Além de membro da Coordenação, o mestre era inegavelmente muito inteligente: criara o Código, agora empregado inclusive pelos outros ateliês, para burlar a vigilância dos Inimigos. Na verdade, uma idéia simples, um ovo de Colombo, como diziam os genoveses. "*Gênova talvez bom refúgio. Poder fugir para Novo Mundo.". Não pensava mais em voltar para casa. "*Civilização melhor, putas depilar suvaqueira.".
O TD estava quase concluído. Mas ainda restava um problema a resolver. "%A Lisa Ferrari beija na boca.", explicara o encomendante. Até aí, sem problemas, de acordo com as convenções estabelecidas bastava retratá-la sorrindo. No entanto, o BOP acrescentara "%...cabeça incrível, faz facul, zero de PPP...", e zero de PPP requeria que ela aparecesse de boca fechada no quadro. Evidentemente, tal combinação inaudita de atributos não ocorrera ao criador do Código. E agora não podia mais perguntar, teria que achar uma solução ele mesmo.
"%Fui envenenado, Orlando.", recordava-se de ter dito o mestre antes de expirar, "%Os Sonegadores perdoaram-me a criação do Código, mas não o ter lido o TD Proibido.". "%Lido não, visto.", replicara, ao que o velhote respondeu "%Visto não, jovem, lido mesmo. Estava escrito. Era um TD antigo, do tempo do Forum de Alexandria.". "%Alexandria, Orlando lembrar.", "%Não diga besteiras, foi há muito tempo, em 391 se me lembro bem, poucos conhecem a história. Caesar Augustus era o Administrador, recusou-se a raspar o TD Proibido, os BOPs puseram fogo em tudo, com o apoio dos Sonegadores.". "%Orlando saber.", tentou acalmar o mestre para que o efeito do veneno tardasse mais, "%Não estou delirando, pra quê você acha que a Coordenação ia nos pedir para aceitar encomendas dos BOPs? Acha que queremos TDs BOPs na Galeria? A Coordenação queria que eu pudesse visitar os palácios deles e procurasse o TD. Ontem, enquanto Cósimo ia caçar viados em sua reserva particular, encontrei-o finalmente.", e dizendo isso passou um pedaço de papiro a Orlando, "%Orlando não ler.", "%Por isso confio em você, é burro demais para entender a importância de tudo. Guarde-o e entregue-o à Coordenação.". "%Não conhecer Coordenação.". "%Vá para Paris e procure Denis, o Francês Maluco. Mas não deixe que os Sonegadores..." e não conseguiu completar a frase.
Pena, se soubesse que o mestre se interessava pelos velhos papiros de Alexandria, teria mostrado os que trouxera de lá por acaso. Na pressa de ir embora, apanhara a sacola de um bibliotecário por engano, em lugar da sua. Grande azar, ficara sem a raspadeira de osso, a machadinha de pedra e o esmagador de piolhos de chifre, um neandertal sem esses acessórios não pegava nenhuma garota nas baladas. Mesmo assim, seu instinto primitivo disse-lhe para não jogar fora os papiros inúteis ao arrumar a mochila para a nova partida. Só não guardou os desenhos que o velho menosprezava, aqueles planos para uma máquina capaz de catar conchas no mais fundo do oceano, e uma outra para trazê-las para terra através do ar. Agora via que eram mesmo loucuras, como todos diziam, deixou-os sobre a mesa.
O sino da igreja deu quinze badaladas. Precisava terminar e partir para o Norte, e o século XVI já estava começando. Tomou dos pincéis para retomar a obra. De todos os truques manjados que o velho ensinara, o de embaçar traços foi o que valeu mais nessa hora. Atirou-se à obra com nórdico afinco. Desenhou sem chegar a realmente desenhar, coloriu sem chegar realmente a colorir. Sombreou, esfumou e sobrepôs ardilosamente. Aplicou técnicas milenares e técnicas recentes. Ao final, a assinatura como o mestre lhe ensinara, repetida milhares de vezes até alcançar a imitação perfeita antes da autorização para pô-la em um quadro.
O TD estava concluído. Ficou bom. Ao fundo, o Arno sinuoso indicava que o oral tinha sido bem babado; a mata escura mostrava que ela depilava a perereca em forma de bigodinho; o céu sombrio registrava que o fight tinha ocorrido às primeiras horas do dia numa estalagem na periferia de Florença, próximo ao trevo que levava a Bolonha. E que a GP sorrisse era indubitável, apesar de os lábios nada se abrirem: todos saberiam que Lisa Ferrari beijava na boca e não falava PPP. Ao Código tinha sido acrescido um novo semantema, graças a um obscuro catador de conchas analfabeto. "*Dirão Leonardo pintar isso também. Falsche Welt!". Pegou sua mochila e saiu pouco antes de os Sonegadores chegarem para vasculhar a casa.
Tricampeão
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Este texto teve uma continuação: http://www.gp-guia.net/phpbb/phpbb2/view ... hp?t=73183
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