O tratamento de soro-positivos, ao contrário do que parece, é medida eficaz para o controle da epidemia, isso porque a probabilidade de contágio é proporcional à carga viral no organismo do transmissor. Um portador do vírus que não recebe tratamento, pode ter milhões de cópias do vírus por mm2, enquanto aquele que recebe tratamento adequado pode chegar a níveis indetectáveis. Portanto, aquele que está com a carga viral sob controle dificilmente irá transmitir, mesmo intencionalmente, o HIV para outra pessoa.
Por exemplo, é conhecido que o risco de transmissão vertical, de mãe para filho no parto, é de aproximadamente 30% quando a gestante portadora não recebe tratamento algum. Se a gestante portadora receber tratamento adequado esse risco se torna desprezível.
Um caso emblemático foi matéria da Revista da Folha de 9/3 deste ano, que mostra como Luciane Conceição, que nasceu com o HIV, quase morreu na infância, se recuperou com o uso do coquetel e aos vinte anos deu a luz a uma menina saudável.
Para Luciane, a filha Ana Vitória "é uma homenagem à vida"
DA REVISTA DA FOLHA
Luciane Conceição nasceu com HIV. A mãe dela contraiu o vírus no oitavo mês de gravidez, em uma transfusão de sangue. Logo após o parto, há 20 anos, a mãe de Luciane a deixou na maternidade. Os primeiros passos foram no Conjunto Hospitalar de Sorocaba (100 km a oeste de SP) ao lado da infectologista e pediatra Rosana Maria Paiva dos Anjos, professora da PUC, que cuidou do bebê e é sua médica até hoje.
O aprendizado era interrompido pelas doenças em decorrência da Aids. Um casal -Edgard Conceição, 58, e Arlinda- soube da história de Luciane e adotou o bebê de dois anos.
Luciane foi a primeira criança no Brasil a usar o coquetel antiretroviral. A menina, então com nove anos, virou símbolo da luta contra a doença. A tarde de 15 de janeiro último foi outro momento marcante: a estréia de Luciane como mãe.
"Quando os exames comprovaram que estava grávida entrei em desespero. Meu marido, Daniel, estava feliz. Peguei logo o teste dele. HIV Negativo. Um alívio, ele não foi infectado. Brigamos quando a gente transou sem camisinha. Ele sempre soube que tenho o vírus.
Nos últimos anos, ele queria muito ser pai. Claro que eu também, no fundo, queria ter um filho. Só que tinha medo de contaminar o bebê, pois fui contaminada no nascimento.
Minha irmã Andréia sempre me incentivou. Mas muita gente me desencorajou a ser mãe. Inclusive, médicos, amigos e familiares, com receio de que eu morresse no parto. Outros por preconceito mesmo -nem tanto entre os mais simples, só que ele é bem forte na classe média.
Não tive problemas durante a gravidez. Minha filha nasceu de cesariana. Fiquei feliz como nunca havia ficado na hora em que vi e senti aquela criaturinha perfeita, chorando, grudada ao meu corpo. Na hora, falei para meu marido: "Ela vai se chamar Vitória, em homenagem à vida. Ana Vitória".