Este relato não revela uma experiência com prostitutas, porque nem só de putas é feito o universo das mulheres; também não é um Conto ou qualquer outra espécie de Ficção. Este relato é o registro de uma situação especial e inusitada que resgata um homem comum do caótico tédio urbano.
Num sábado sem novidades, resolvi quebrar a mesmice e saí com meu carro num horário vespertino. Para um notívago, sair às ruas numa tarde quente é uma fuga radical da rotina.
Como eu não havia almoçado, compro uns salgadinhos e estaciono numa aprazível Praça da Tijuca para fazer meu lanche. Fico dentro do carro enquanto devoro os petiscos e aproveito para escutar um CD que ganhei e nunca ouvi: Eminem.
Gosto de ouvir música em volume alto, a sensação é como se despejassem toneladas de anfetaminas em meu sangue. De cara, senti que a música do Eminem tinha poder.
De repente, uma voz feminina quebra o meu estado de abdução...
- É Rádio ou CD? – Soa a pergunta num vocal suave.
- É CD. – Respondo no reflexo, sem ver quem me perguntava.
- Quem canta? – Ela insiste.
Então, meu parceiro, olho para o lado e vejo a voz materializada, era uma Gari que manifestava curiosidade pelo Rap que vazava do meu carro...
- Eminem. Gosta? - Respondo.
- Não conhecia, mas estou adorando!
Livre-se do preconceito, meu sincero amigo, pois irei lhe emprestar meus olhos para que veja comigo a imagem da indumentária laranja e de vassoura em punho que se postou ao meu lado naquela Praça paradisíaca.
Negra, corpo esbelto escondido por debaixo dos trajes quadrados que o seu ofício exigia; cerca de 1,70m de altura; boca carnuda; olhos brilhantes; cabelos curtos, ocultos sob um boné; um sorriso ofuscante.
Talvez, eu me arrisque a ser julgado pela sua incompreensão, meu justo companheiro, mas devo confessar que senti uma inevitável tara por aquela negra vestida de laranja que varria a sarjeta em volta da Praça, foi algo como um fetiche avassalador. Não sei explicar com clareza o desejo que me acometeu.
Sorrindo, ela foi se afastando com sua vassoura e deixando uma trilha de pequenos montinhos de folhas secas e detritos retirados da calçada, percebi que o lixo seria a vereda para o meu prazer.
Levado pelo impulso que somente a libido é capaz de nos conceder, tracei uma estratégia, saí afoito do carro e fui ao encontro da Gari.
- Decidi dar pra você. – Pronuncio estendendo-lhe o CD do Eminem.
- Pra mim?! – Ela tinha uma voz doce que me excitava ainda mais.
- Sim, um presente. Mas queria falar com você mais tarde, se puder... Queria lhe fazer uma proposta.
- Proposta?... – Intrigada.
- Uma proposta, coisa séria, mas queria conversar contigo quando não estiver trabalhando.
Silêncio...
- Pode ser? Posso deixar meu telefone ou a gente marca de se encontrar. – Persisto.
- Então me espera aqui, quando for 18h. – Ela consente.
Leitor, meu fiel companheiro de aventuras, não há como descrever a emoção que nos toma neste momento, quem melhor definiu as primeiras vibrações que sentimos ao galgar os degraus da sedução foi Thomas Mann: “Felicidade não é ser amado, isso é algo que só satisfaz a vaidade... Felicidade é amar e talvez obter pequenas, falsas aproximações com o ser amado.”
18h... Pontual, ela me esperava sentada num banco da Praça, saí do carro, acenei e ela veio em minha direção. Agora, estava vestida com uma blusa justa decotada e uma mini-saia estilo Gang.
As pernas da Gari eram um caso a parte, grossas e desenhadas com capricho, pareciam terem sido esculpidas por um artista de talento e, pra piorar, eram cobertas por pelos aloirados, uma das minhas maiores taras. A mulher não caminhava, desfilava... Eu admito, cheguei a salivar apreciando a sua aproximação.
- Estou curiosa. – Diz sorrindo, assim que chega.
- Não fique, não é nada demais. – Respondo entrando no carro.
Dentro do carro, hora do bote, eu não poderia pestanejar.
- Você fica muito mais bonita sem a fantasia de Laranja. – Tento a piada, não custa...
Ela ri.
- Mas o que você quer me falar? Que proposta é essa?
- Não é bem uma proposta, é uma confissão... – Inicio o processo irreversível do caô.
- O que é?
- Você vai me achar maluco, mas eu tinha que te encontrar e dizer que fiquei apaixonado por você quando te vi varrendo a rua.
Ela ri muito... Um grande momento de suspense... Mas eu prossigo...
- Te achei linda, adorei seu jeito, sua voz, gostei de tudo em você, até do uniforme...
- Ah!... Você sabe que também é charmoso, senão eu nem tinha perguntado sobre o CD. – A resposta era a vitória anunciada.
Ela remexe a bolsa e pede para colocar o CD do Eminem que dei como presente. A batida primitiva do RAP invade novamente o nosso encontro, ela insinua movimentos com o corpo que a fazem ficar ainda mais sexy.
Nesta altura, o Predador deve ser rápido, precisa agir como um Leão que avança certeiro sobre a jugular do Antílope.
Girei a cabeça e me precipitei para beijá-la, ela não reagiu... Enquanto eu a beijava, também aproveitei para passar a mão em suas pernas de pele sedosa, cobertas de pelos em ouro... O beijo da Gari era um abraço de língua, um nó cego de lábios. Um beijo bem dado é um Céu sem nuvens sobre uma praia vazia.
Descobri que Eminem é afrodisíaco e ao som de Soldier a minha libido entrava em órbita...
Arrisquei um pouco mais e subi minha mão para os seios, fui lentamente, com cautela, ela não esboçou censura quando os alcancei. Duros, firmes, com biquinhos em relevo. A Gari respirava mais forte...
- Vamos pra algum lugar pra ficarmos sozinhos, quero namorar um pouco com você, fora da rua. – Proponho suando, abafado pelas ondas de calor que se acumulavam dentro do carro.
- Pra onde? – Ela pergunta.
- Um lugar em que possamos ficar sozinhos, na rua é muito chato pra namorar. Depois, quando formos embora, dou uma carona. Você mora onde?
- Jacarepaguá.
Pisque os olhos, meu amigo confidente, e já estamos numa Suíte do Motel Te Adoro em Vila Isabel.
Não vou me prolongar descrevendo os detalhes do sexo com a Gari. Só preciso dizer que vi, um corpo magnífico; só preciso contar o que provei, uma mulher ardente, uma fogueira alimentada pelo Ébano.
Acredite, leitor sem fé, a vida não se ergueu pelo concreto, ela foi fundada sobre a mágica e é por isso que o amor entre um Professor e uma Gari é permitido, mesmo que seja um fugaz momento de luxúria.
Descendo a Grajaú-Jacarepaguá, em direção a Freguesia, paro num sinal. Num boteco ao lado, com mesas na calçada, um grupo de jovens que me pareceram embriagados entoavam animados a Marselhesa...
“Allons enfants de la Patrie
Le jour de gloire est arrivé !..”
Observando aquele ato peculiar, não consigo evitar um pensamento infame: Se a Igualdade é Branca, a Liberdade Azul, e a Fraternidade Vermelha, o Tesão deve ser laranja, da cor do uniforme da Comlurb...
Girei a cabeça, toquei os lábios da negra bonita e lá estava eu, outra vez, sob um Céu sem nuvens, numa praia deserta...
DANTE
Num sábado sem novidades, resolvi quebrar a mesmice e saí com meu carro num horário vespertino. Para um notívago, sair às ruas numa tarde quente é uma fuga radical da rotina.
Como eu não havia almoçado, compro uns salgadinhos e estaciono numa aprazível Praça da Tijuca para fazer meu lanche. Fico dentro do carro enquanto devoro os petiscos e aproveito para escutar um CD que ganhei e nunca ouvi: Eminem.
Gosto de ouvir música em volume alto, a sensação é como se despejassem toneladas de anfetaminas em meu sangue. De cara, senti que a música do Eminem tinha poder.
De repente, uma voz feminina quebra o meu estado de abdução...
- É Rádio ou CD? – Soa a pergunta num vocal suave.
- É CD. – Respondo no reflexo, sem ver quem me perguntava.
- Quem canta? – Ela insiste.
Então, meu parceiro, olho para o lado e vejo a voz materializada, era uma Gari que manifestava curiosidade pelo Rap que vazava do meu carro...
- Eminem. Gosta? - Respondo.
- Não conhecia, mas estou adorando!
Livre-se do preconceito, meu sincero amigo, pois irei lhe emprestar meus olhos para que veja comigo a imagem da indumentária laranja e de vassoura em punho que se postou ao meu lado naquela Praça paradisíaca.
Negra, corpo esbelto escondido por debaixo dos trajes quadrados que o seu ofício exigia; cerca de 1,70m de altura; boca carnuda; olhos brilhantes; cabelos curtos, ocultos sob um boné; um sorriso ofuscante.
Talvez, eu me arrisque a ser julgado pela sua incompreensão, meu justo companheiro, mas devo confessar que senti uma inevitável tara por aquela negra vestida de laranja que varria a sarjeta em volta da Praça, foi algo como um fetiche avassalador. Não sei explicar com clareza o desejo que me acometeu.
Sorrindo, ela foi se afastando com sua vassoura e deixando uma trilha de pequenos montinhos de folhas secas e detritos retirados da calçada, percebi que o lixo seria a vereda para o meu prazer.
Levado pelo impulso que somente a libido é capaz de nos conceder, tracei uma estratégia, saí afoito do carro e fui ao encontro da Gari.
- Decidi dar pra você. – Pronuncio estendendo-lhe o CD do Eminem.
- Pra mim?! – Ela tinha uma voz doce que me excitava ainda mais.
- Sim, um presente. Mas queria falar com você mais tarde, se puder... Queria lhe fazer uma proposta.
- Proposta?... – Intrigada.
- Uma proposta, coisa séria, mas queria conversar contigo quando não estiver trabalhando.
Silêncio...
- Pode ser? Posso deixar meu telefone ou a gente marca de se encontrar. – Persisto.
- Então me espera aqui, quando for 18h. – Ela consente.
Leitor, meu fiel companheiro de aventuras, não há como descrever a emoção que nos toma neste momento, quem melhor definiu as primeiras vibrações que sentimos ao galgar os degraus da sedução foi Thomas Mann: “Felicidade não é ser amado, isso é algo que só satisfaz a vaidade... Felicidade é amar e talvez obter pequenas, falsas aproximações com o ser amado.”
18h... Pontual, ela me esperava sentada num banco da Praça, saí do carro, acenei e ela veio em minha direção. Agora, estava vestida com uma blusa justa decotada e uma mini-saia estilo Gang.
As pernas da Gari eram um caso a parte, grossas e desenhadas com capricho, pareciam terem sido esculpidas por um artista de talento e, pra piorar, eram cobertas por pelos aloirados, uma das minhas maiores taras. A mulher não caminhava, desfilava... Eu admito, cheguei a salivar apreciando a sua aproximação.
- Estou curiosa. – Diz sorrindo, assim que chega.
- Não fique, não é nada demais. – Respondo entrando no carro.
Dentro do carro, hora do bote, eu não poderia pestanejar.
- Você fica muito mais bonita sem a fantasia de Laranja. – Tento a piada, não custa...
Ela ri.
- Mas o que você quer me falar? Que proposta é essa?
- Não é bem uma proposta, é uma confissão... – Inicio o processo irreversível do caô.
- O que é?
- Você vai me achar maluco, mas eu tinha que te encontrar e dizer que fiquei apaixonado por você quando te vi varrendo a rua.
Ela ri muito... Um grande momento de suspense... Mas eu prossigo...
- Te achei linda, adorei seu jeito, sua voz, gostei de tudo em você, até do uniforme...
- Ah!... Você sabe que também é charmoso, senão eu nem tinha perguntado sobre o CD. – A resposta era a vitória anunciada.
Ela remexe a bolsa e pede para colocar o CD do Eminem que dei como presente. A batida primitiva do RAP invade novamente o nosso encontro, ela insinua movimentos com o corpo que a fazem ficar ainda mais sexy.
Nesta altura, o Predador deve ser rápido, precisa agir como um Leão que avança certeiro sobre a jugular do Antílope.
Girei a cabeça e me precipitei para beijá-la, ela não reagiu... Enquanto eu a beijava, também aproveitei para passar a mão em suas pernas de pele sedosa, cobertas de pelos em ouro... O beijo da Gari era um abraço de língua, um nó cego de lábios. Um beijo bem dado é um Céu sem nuvens sobre uma praia vazia.
Descobri que Eminem é afrodisíaco e ao som de Soldier a minha libido entrava em órbita...
Arrisquei um pouco mais e subi minha mão para os seios, fui lentamente, com cautela, ela não esboçou censura quando os alcancei. Duros, firmes, com biquinhos em relevo. A Gari respirava mais forte...
- Vamos pra algum lugar pra ficarmos sozinhos, quero namorar um pouco com você, fora da rua. – Proponho suando, abafado pelas ondas de calor que se acumulavam dentro do carro.
- Pra onde? – Ela pergunta.
- Um lugar em que possamos ficar sozinhos, na rua é muito chato pra namorar. Depois, quando formos embora, dou uma carona. Você mora onde?
- Jacarepaguá.
Pisque os olhos, meu amigo confidente, e já estamos numa Suíte do Motel Te Adoro em Vila Isabel.
Não vou me prolongar descrevendo os detalhes do sexo com a Gari. Só preciso dizer que vi, um corpo magnífico; só preciso contar o que provei, uma mulher ardente, uma fogueira alimentada pelo Ébano.
Acredite, leitor sem fé, a vida não se ergueu pelo concreto, ela foi fundada sobre a mágica e é por isso que o amor entre um Professor e uma Gari é permitido, mesmo que seja um fugaz momento de luxúria.
Descendo a Grajaú-Jacarepaguá, em direção a Freguesia, paro num sinal. Num boteco ao lado, com mesas na calçada, um grupo de jovens que me pareceram embriagados entoavam animados a Marselhesa...
“Allons enfants de la Patrie
Le jour de gloire est arrivé !..”
Observando aquele ato peculiar, não consigo evitar um pensamento infame: Se a Igualdade é Branca, a Liberdade Azul, e a Fraternidade Vermelha, o Tesão deve ser laranja, da cor do uniforme da Comlurb...
Girei a cabeça, toquei os lábios da negra bonita e lá estava eu, outra vez, sob um Céu sem nuvens, numa praia deserta...
DANTE