Ranulfo aprendera pelo menos uma coisa na sua vida de excursões em puteiros, clínicas, privês, prediões e similares: uma boa foda é algo que se leva para o túmulo. É algo que ninguém confisca. Mulher alguma pode pleitear em caso de divórcio. Não estraga, não quebra e não definha. Os ecos das estocadas nunca deixam de ser ouvidos: basta uma leve lembrança, um olhar mais travesso da estagiária, uma buzanfa anônima que se insinua no estacionamento ou na fila do banco, para que as mesmas sejam evocadas automaticamente. Uma gozada homérica era um item de alto valor em sua lista de prioridades.
Naquela tarde de sexta, portanto, daria um belíssimo perdido no trampo, e teria o fim de semana todo para refletir nalguma justificativa para servir de álibi. Às vezes, na vida, o putanheiro precisa de ousadia para poder gozar gostoso. Puteamento vespertino, feito dessa forma, trazia consigo um estímulo embutido; o da consciência de estar burlando regras e do risco que isso pode acarretar.
11:45. Aquele dia estava uma loucura. Tinha acabado de fazer as tarefas da parte da manhã. Logo, o contínuo ou a secretina trariam alguma coisa que lhe tomaria a tarde toda. Sextas costumavam ser assim. Decidiu ir embora naquele minuto. Arrumou rápido suas coisas e avisou que estava saindo para almoçar naquele momento. E sabe lá que horas voltaria, se é que voltaria.
Nisso, seu chefe, o Zéfiro, passou pela sua mesa.
- Ranulfo, se você quiser pode tirar o resto do dia pra você. Semana que vem vai ser um pouco corrido, vai ter umas horas extras aí. Terça e quarta – feira o expediente será mais longo. Eu sei que você não gosta longo, mas vai ter de engolir, está bem?
- Ok...
- Até segunda, então, meu príncipe.
- Hã... até...
Seu chefe não era dos mais formais, mas nunca lhe dirigira a palavra naqueles termos. Seria algum tipo de brincadeira? Ou será que o velho ficara gagá ? Ou era uma bicha velha e ele nunca dera conta disso?
No elevador, percebeu que havia uma nova ascensorista.Achou a moça até bonita. Entrou e mesma lhe abriu um belíssimo sorriso. Retribuiu e logo sentiu uma pressão na cueca. Eram sete andares, e o elevador parava em todos os andares, mas , misteriosamente, ninguém entrava. Não falavam nada, mas ficavam trocando olhares. Ele, com um olhar fixo, ela jogando o cabelo pro lado, suspirando, olhando no relógio e , de vez em quando, lhe retribuindo o olhar de forma significativa. Ranulfo estava ficando louco e quase falando alguma gracinha no ouvido da moça. Ao chegar no térreo, ele saiu e lhe desejou boa tarde.
- Pra você também, gato.
Ranulfo achou aquilo tudo meio bizarro; pensou em chamar o elevador novamente e continuar com aquilo de onde haviam parado. Mas, por algum motivo qualquer desencanou , chegando a conclusão de que aquela desgraçada poderia lhe render algo interessante num futuro próximo. Com essa agradável perspectiva, caminhou até o estacionamento e se dirigiu ao funcionário de plantão para pagar o mês corrente.
- No próximo mês haverá um pequeno reajuste, seu Ranulfo.
- Eu sei , li o aviso pregado na parede. Não volto mais hoje. Até segunda.
- Até segunda, bebê.
Foi caminhando para o carro um pouco preocupado. Que liberdade era aquela, porra??? Talvez isso fosse fruto de uma certa licensiodade por parte dele, já que sempre papeava com aquele cara nas segundas feiras, falando sobre futebol. O cidadão era são paulino e vivia puxando assunto. Ia dar um corte nisso a partir dali. Era só o que faltava...
12:00.
Já que tinha a tarde livre, resolveu almoçar primeiro, com calma, antes de encontrar com a Mayara e sua boca de aspirador de pica. Comeu algo leve, num restaurante por kilo das imediações.Dirigiu-se ao caixa para pagar. Lá estava o seu Jadir, um aposentado que montara o restaurante para sua filha e que ficava lá de vez em quando, sempre no caixa.
- E aí, garoto, como vão as coisas?
- Tudo bem , graças a Deus. E com o senhor, tudo certinho?
- Não posso reclamar, Ranulfo... Gostastes do almoço? Estava ...picante?
- Não, estava do jeito que eu gosto mesmo. Especialmente o peixe. Muito bom.
- Gostou , é? Não estava... QUENTE demais? Hum? - perguntou, com um olhar desvairado, puxando o colarinho da camisa pra frente e para trás , repetidamente, como se estivesse com muito calor.
- N-não... estava.... no ponto... por favor, o meu troco, seu Jadir... – respondeu olhando para trás, já que se formava uma pequena fila atrás dele. Como falavam em um tom de voz normal, os outros podiam ouvir perfeitamente o teor da conversa. Logo atrás dele estava uma senhora que via sempre por ali, sempre carrancuda.
- Não deixe de vir na terça, menino. Venha provar a minha... RABADA...- disse estendendo o troco e roçando as mãos dele nas de Ranulfo de propósito, com a boca entreaberta.
- Hum ... a rabada dele é ótima. Melhor que a minha! Uma diliça!!!!!!! - observou a mulher da fila, lambendo os beiços, literalmente, com os olhos arregalados.
Saíra do restaurante quase correndo. Alguma coisa estava fora da ordem, como já diriam , uníssonos, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Naquele momento, no entanto, chegara o momento de curtir aquele começo de tarde livre. Portanto, tratou de tomar o rumo da clínica de Mayara, a FronhaBell, que ficava a pouco tempo de lá. Ligou e reservou um horário de uma hora e meia para cerca de trinta minutos. Desligou o celular, esfregou as mãos e não pôde deixar de admitir que, naquele momento, a vida era bela e a miséria, a inflação, a dívida externa, o mensalão, o Daniel Dantas e falta de um estádio para o Corinthians eram simples bobagens.
- Mayara, hoje você vai ver o que é rola, minha filhinha, disse Ranulfo, de si para si, enquanto ligava o carro.
Chegara a clínica logo depois, dizendo o seu nome de guerra na recepção.
- Sou eu quem reservei o horário das duas com a Mayara. Mendonça, não é isso?
A suíte já estava pronta. Subiu aquelas escadas com as paredes brancas tão conhecidas por ele, já antevendo o show de sexo explícito hard core que protagonizaria dali a cerca de quinze, vinte minutos.
Mayara entrava na sala pouco depois. Ao menos, entrava lá uma moça com o mesmo codinome. Não era a Mayara das outras sessões, e sim uma moça de olhar reservado e vestida de branco como se fosse uma massagista de verdade, com uma camiseta branca e uma calça branca. Entrou na sala com uma prancheta , cumprimentou Ranulfo com um aperto de mãos, enquanto este estava boquiaberto com tanta formalidade e apenas com a toalha enrolada na altura da cintura.
- Boa tarde, senhor... Mendonça, não é isso?
- Sim. Você é que não é a moça que me atendeu nas últimas vezes que vim aqui. Tem duas massagistas com o mesmo nome, seria isso?
- Não. A Mayara não trabalha mais aqui. Se o senhor quiser, pode chamar outra. - respondeu a massagista, com a solicitude de uma atendente de telemarketing.
Olhou para a moça com mais calma e , apesar de não ser a mesma vadia da outra vez, parecia promissora, com aquele olhar cheio de retidão e profissionalismo. Isso deixou Ranulfo bastante excitado, sempre tivera uma certa tara de atacar uma médica ou enfermeira gostosa. Na sua fantasia, ele abordava a médica delicinha e perguntava, apontando para a pica: " Doutora, estou com um comichão na pica. A senhora poderia examiná-lo com a boca? "
- Não... de forma alguma, Mayara...- deixa a toalha cair , com o seu pau a mostra, já em posição de combate – ops... olha só , a toalha caiu – murmurou, salivando, já despindo a moça com os olhos.
- Senhor, por favor, deite-se na maca, de bruços.
Ranulfo franziu a sombrancelha ao ouvir aquilo.
- Olha... eu costumo pular a massagem; aliás, sempre que posso , procuro partir direto para o ... relaxamento... se é que você me entende... o tempo urge... - comentou, dando três batidinhas com o indicador no relógio.
- Senhor, por favor, deite-se na maca. – disse novamente a massagista, agora com um tom um pouco mais ríspido.
- Não. Se você quiser massagear, já pode começar – disse, no mesmo tom e já um pouco irritado, apontando a rola – Depois, eu vou usar isso aqui pra te fazer umas cócegas no seu útero, entendeu?
- Senhor, o serviço que pagastes foi o de uma massagem e é exatamente isso o que estou disposta a lhe proporcionar, mais nada – disse a moça, com um tom de sacristã ofendida.
- Claro que não. Sempre que venho aqui recebo uma massagem sim, mas geralmente ela é feita com a boca e com a bu-ce-ta e a parte massageada é o meu pau. Entendeu?
- Senhor, por fav...
Nesse momento, Ranulfo vai até o interfone e liga para a recepção.
- Por favor, eu quero trocar a massagista.
Nisso, a Mayara já havia saido do quarto, com lágrimas nos olhos , puta da vida, literalmente.
- Algum problema, senhor Mendonça?
- Sim, muitos problemas. Vocês não me avisaram que a Mayara não trabalha mais aqui. Essa outra moça não sabe trabalhar. Ficou insistindo em fazer a massagem primeiro quando eu prefiro começar pelo relaxamento.
- Senhor Mendonça, a clínica não trabalha com esse tipo de atendimento. Somos uma empresa de mais de dez anos no mercado e temos uma polít...
- Não me venha com essa conversa mole! Tratem de mandar uma piranha pra minha suíte agora mesmo!
Disse isso e colocou o fone de novo na parede, resoluto. Era só o que faltava! Pensava que a clínica de massagem que freqüentava fosse um lugar de respeito, não um antro de recepcionistas espertalhonas e megeras vestidas de branco...
Poucos minutos depois, surge na porta o manobrista, que também fazia as vezes de segurança; um crioulo de uns dois metros de altura, que sempre lhe tratara amistosamente , já que costumava lhe dar dez reais de caixinha quando o mesmo lhe entregava as chaves após manobrar o carro.
- Grande, pode tratar de colocar a roupa e vazar rapidinho, se não a casa vai cair prucê, entendeu ? - intimou , com um tom de voz decidido e cara de poucos amigos.
Como que por mágica, todo o stress e nervosismo de Ranulfo com a massagista e a recepcionista logo se dissiparam. Tratou de seguir à risca o conselho de Jorjão, o manobrista, e , em pouco mais de trinta segundos, já estava vestido e com o cabelo penteado.
Passou pela recepção, onde a recepcionista o aguardava, com um sorriso irônico nos lábios.
- Gostou da massagem, senhor Mendonça? São cento e noventa reais.
- Como cento e noventa reais? Eu não fiquei nem dez minutos com a massagista no quarto.
Nisso, Jorjão , o segurança dublê de manobrista, julgou que seria oportuno dar a sua opinião sobre a divergência surgida naquele momento entre Ranulfo e a recepcionista.
- Maluco, ou você paga essa porra agora ou vou te moer de pancada de um jeito que você nunca mais vai esquecer, está entendendo?
Ranulfo achou de bom tom e extremamente sensato de sua parte ouvir esse lado da argumentação e pagou logo a conta, sem maiores ponderações a cerca do atendimento da clínica e dos funcionários da mesma.
Ao pegar o carro, Jorjão, que agora fazia as vezes de manobrista novamente, ainda lhe confidenciara:
- Aí grande, desculpa alguma coisa aí. Mas eu tenho que fazer o bagúio daquele jeito mesmo, se não fica ruim pra mim, né?
- Entendo , sim. Toma aqui a sua caixinha, véio. Vou agora pra casa dar uma espairecida.
- Brigado, gato.- agradeceu o negão, um pouco comovido.
- De nada – respondeu, sem entender mais nada.
Chegara em casa por volta das cinco da tarde, algo que não acontecia há muito tempo. Sua esposa estava na academia, naquele horário. Decidiu tomar um banho de novo, dessa vez frio, pra ver se desbaratinava um pouco de toda aquela doideira.
Saiu do chuveiro, e de roupão foi pro quarto. Quem sabe não descontava toda a sua libido reprimida na patroa mesmo? Mesmo sendo um pouco protocolar e pouco afeita ao tipo de sacanagens que costumava fazer com as primas, já era alguma coisa. Melhor que bater punheta, certamente.
Deitou –se na cama , nu, para esperá-la. Dormiu e acordou apenas algumas horas depois. Debaixo do edredon, sua mulher estava lhe fazendo uma bela chupeta. Muito bem feita!
‘Ueba’ , pensou, enquanto ficava cada vez mais consciente. Deixou-se chupetear por algum tempo, até que mais alguém entrara no quarto. Parecia um vulto de mulher. Mas, na penumbra, não conseguiu identificar. Quando a mesma se aproximou da cama , pode vislumbrar a sua mulher, Juliana, que costumava fazer ginástica todo dia com a sua prima Zuleika, a Lekinha. As duas eram muito amigas.
- Ju... - disse , aflito, apontando para o edredon, onde havia, claramente alguém por baixo.
- Hoje eu e a Lekinha decidimos te dar uma surra de buceta, amor... – disse isso e logo depois submergiu para dentro do edredon, como a outra.
Voltou a se concentrar na peta, que agora era feita por duas bocas, sem tentar entender mais porra nenhuma, sorrindo, enquanto mandava a mayara tomar no cu mentalmente..
A vida voltara ser bela.
Fortimbrás - Mendoncinha Enterprises Inc.