O Rolé - Autor: DANTE-RIO

Crônicas semanais sobre putaria

Regras do fórum
Responder

Resumo dos Test Drives

FILTRAR: Neutros: 0 Positivos: 0 Negativos: 0 Pisada na Bola: 0 Lista por Data Lista por Faixa de Preço
Faixa de Preço:R$ 0
Anal:Sim 0Não 0
Oral Sem:Sim 0Não 0
Beija:Sim 0Não 0
OBS: Informação baseada nos relatos dos usuários do fórum. Não há garantia nenhuma que as informações sejam corretas ou verdadeiras.
Mensagem
Autor
General
Forista
Forista
Mensagens: 6048
Registrado em: 07 Jun 2005, 17:48
---
Quantidade de TD's: 83
Ver TD's

O Rolé - Autor: DANTE-RIO

#1 Mensagem por General » 21 Ago 2008, 15:26

**Este relato está catalogado nos arquivos da FUDAM (Fundação Dante de Amparo as Meretrizes) e faz parte do valioso acervo dessa instituição. Todas as leituras a este Tópico serão contabilizadas para nossa obra social.

É certo que a maioria de nós obriga-se a uma atividade profissional; alguns, inclusive, exercem mais de uma. Eu, além de carregar as responsabilidades da cátedra, investi em táxi.

Levando em conta que uma vida confortável nos impõe assumir um ofício, conta-se que quando abraçamos duas lidas, ganhamos como brinde uma segunda existência.

E foi assim, entre a docência e o volante, que descobri uma outra identidade, o meu lado Indiana Dante..

Era um fim de tarde, eu passava pela Rua Hadock Lobo, no rádio rangia Macarena, avisto uma Loira curvilínea fazendo sinal, encostei o amarelinho e ela embarcou.

- Moço, me leva pra Barão de Itapagipe.

A distância seria curta, fiz a volta e seguimos. Chegando ao Rio Comprido, ela me pede que ingresse numa rua de ladeira, uma subida levemente íngreme. Atendi o seu pedido.

Íamos bem próximos ao Morro do Turano, a Loira era animada, bonita e articulada. Conversava sem trégua. De repente, solicita que eu pare. Freio o carro! Naquele deserto inclinado, só consigo perceber um Negro forte vendendo bananas numa banca montada na esquina. A loira faz um aceno e ele se aproxima...

- E aí, Dourada? O que vai ser hoje? – Indaga com um tom de malandro.

- O de sempre, negão. Sobe lá pra mim? – Replica a loira.

- Já é! Vai ser de cinqüenta? – Continua o Negro.

- Vai, mas pede um desconto. – Suplica a loira.

Não custei a entender o que se passava e creio que o meu leitor, com o seu perfil arguto e de larga experiência, também compreendeu o negócio nebuloso que se realizava. O que me atrevo a dizer é que a Loira não encomendava talco e nem farinha de trigo. A compra exigia coragem e cifras ousadas.

Fiquei tenso! Comecei a atinar em como me livrar da Kátia Flávia tijucana sentada no banco de trás do meu carrinho amarelo, isso antes que o negão retornasse. Foi quando o desespero me cedeu a inspiração.

- Eu queria pedir um favor, espero que não se incomode. Não almocei, estou cheio de fome, será que você poderia pegar um cacho de bananas ali pra mim? Eu pago ao seu amigo. Não posso sair do carro, o freio de mão está com defeito. – Mandei o 171.

- Claro! Eu pego pra você! – Diz a loira com gentileza e demonstrando alguma comoção pelo meu estômago.

Quando ela desce do carro e se aproxima da barraca de bananas, eu engato uma ré embriagada e desço a ladeira de costas, num só fôlego.

Não houve trilha sonora que transmitisse a emoção do momento, mas os gritos de filho da puta, viado e babaca, dentre outros impropérios de menor porte, foram os sons que me fizeram crer que eu havia me libertado. Senti falta da Macarena...

Lembrei que tinha pulmões e eles inflaram-se aliviados... Perdi a Dourada, mas ganhei o asfalto. Segui pela Frei Caneca, embiquei pela Rua do Riachuelo e alcancei a Lapa.

Havia anoitecido...

Depois de contornar os Arcos, fui retornando em direção ao Estácio pela Men de Sá. Vejo um sujeito sinalizando, ancoro o meu amarelo voador, o homem entra e acomoda-se no banco traseiro. O nosso personagem devia ter cerca de 40 anos, gordinho, voz pausada, mostrava-se desconfortável.

- Boa noite! Faz o seguinte, companheiro, segue em direção a Lapa.

Entrei na primeira Rua a esquerda e retornei.

Diminuí a velocidade em frente ao Asa Branca e aguardei novas instruções.

- Companheiro, faz o seguinte, segue pela Rua da Lapa.

Obedeci e adentrei na rua da Igreja com uma torre só. Fui em frente...

Logo surgiu o Motel Diamond, fiquei a espera da rota definitiva...

- Companheiro, faz o seguinte, retorna pela Augusto Severo.

O alarme tocou em algum lugar, não sei onde, mas tocou e acendeu a luz da minha preocupação.

Peguei a Augusto Severo e o sujeito rompeu a ordem fatal.

- Companheiro, vai mais devagar, hoje eu estou puto e quero comer alguma coisa diferente.

Novamente, a tensão afanou o espaço do oxigênio, meus pulmões travaram.

O incrível nesses momentos é que um troglodita qualquer poderia afirmar:

“Pó, eu colocaria esse viado pra fora do meu carro, dava porrada!...”

Concordo, prezado silvícola, mas tive o reflexo de querer demonstrar um pensamento cosmopolita, liberal, livre de preconceitos, procurei agir com a naturalidade dos que aceitam cordialmente as diferenças. Porém, fiquei preocupado com o possível desfecho daquele percurso.

Eu, um carro amarelo, táxi, um número de cooperativa preso nas laterais do auto, andando em velocidade de cruzeiro pela Augusto Severo e levando um quarentão no banco de trás repetindo uma ladainha que precisava provar algo novo, que estava insatisfeito.

O desespero não quis mais me prover de inspiração, invadiu-me com a sua inquietação, mas não trouxe as idéias.

Veio o golpe...

- Pára aí, companheiro, pára aí!

Parei...

- Abre o vidro, gostei dessa!

Abri...

Então, a conversa entre o sujeito que eu conduzia e aquele Centauro urbano com voz de goiabada fluiu como se dois velhos amantes se reencontrassem.

Eu aguardava o desenlace do cortejo enquanto observava aquele cenário desolado da Glória. Lembrei de algo que li em algum lugar, onde se dizia que os Travestis são figuras shakespearianas, de grande dramaticidade, encarnando duas vidas num só corpo. Dizia mais, teorizava sobre Garotas de Programas serem conservadoras, servindo a um sistema sexual vigente e o Travesti um revolucionário, que não enfrentava a moral vigente, mas contrariava a biologia, um ser revolucionário que quer mudar o mundo.

Minhas profundas reflexões foram desfeitas pela falta de consideração, palavras secas vieram de supetão.

- Motorista, abre a porta, ela vai comigo.

Acredite, Forista sem Fé, eu destravei as portas e “ela” entrou.

- Nossa! Que gatos! Vão os dois? – Soou a voz do Centauro..

- Não, você vai ficar só comigo! Companheiro, segue pra Lavradio.

E, num táxi onde o motorista estava mais amarelo do que o carro, seguimos eu, o gordinho e o Centauro.

Na Rua do Lavradio me fizeram entrar numa garagem quase camuflada, era um Motel.

- Quanto deu, companheiro?

O valor do taxímetro era baixo.

- Segura aí, fica com o troco pra você tomar uma cerveja – O sujeito dizia isso por inocência, não poderia adivinhar que a minha necessidade mais urgente era um Lexotan.

Desceram, o gordinho e o Centauro.

Novamente, meus pulmões cutucaram minhas costas, queriam saber se podiam se manifestar, assenti e não apenas respirei, emiti um suspiro, dos mais profundos e aliviados que já exprimi desde que nasci.

Fui deixando o hotel clandestino e vendo os dois amantes misturarem-se ao escuro. Não pude deixar de pensar que o Viado ama o Homem e o Travesti ama a Mulher que deseja ser. O que eu estava testemunhando não era um encontro, mas um desencontro, era a sodomia do impossível.

Prossegui pela Lavradio e esbarrei com a Praça Tiradentes.

Sinal vermelho; dou uma estancada; alguém batendo no vidro do carona; uma mulher falando sem que eu conseguisse escutar; arreio um pouco a janela...

- Moço, o Sr. está indo pra onde? – Ela pergunta

- Tijuca – Respondo.

- Poxa, moço, o Sr. pode me deixar na Central?

- Claro!

- Mas estou sem dinheiro, queria carona...

- E como eu fico?

- Posso fazer um carinho, um boquete...

Forista sem fé, creia-me, ela fez essa proposta!

Olhei, olhei, olhei.... Que órgão peculiar é o coração!... Quando não amolece pelo amor, amacia pela solidariedade. Mandei entrar...

Ela senta ao meu lado.

Olhei, olhei, olhei... Uma coroa um pouco passada, fofinha, situação difícil.

- Chegamos, é a Central, aqui que você fica? – Pergunto.

- É! Muito obrigado, moço. Vai querer o boquete? – Oferece a idosa.

- Não minha filha, vai com Deus, cuidado por aí. – Respondo repleto de comiseração.

Chego em casa e me deito, completamente exausto. Saí para um rolé e enfrentei um enduro.


DANTE

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

DANTE-RIO
Forista
Forista
Mensagens: 681
Registrado em: 18 Nov 2006, 21:36
---
Quantidade de TD's: 70
Ver TD's

#2 Mensagem por DANTE-RIO » 22 Ago 2008, 10:02

Complementando, para a galera que não possua conhecimento da geografia carioca, a Av. Augusto Severo é um famoso point de travecos do Rio e é importante confirmar que todos os acontecimentos esdrúxulos desta crônica são baseados em fatos absolutamente reais.

Abs.

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

BetoPuc
Forista
Forista
Mensagens: 444
Registrado em: 16 Jun 2006, 11:13
---
Quantidade de TD's: 7
Ver TD's

#3 Mensagem por BetoPuc » 22 Ago 2008, 12:08

Caralho ein!!! Vida de taxista é dura ein...

Falando em Taxista.. gostaria de mandar todos ir tomar no cu pois ontem fui fechado 4 vezes pelo mesmo taxista...

Quanto a sua Cronica... Sem palavras.. Mto divertida, engraçada, Não vejo a hora de ler a próxima..


Sds

BetoPuc

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

DANTE-RIO
Forista
Forista
Mensagens: 681
Registrado em: 18 Nov 2006, 21:36
---
Quantidade de TD's: 70
Ver TD's

#4 Mensagem por DANTE-RIO » 25 Ago 2008, 05:07

Agradeço a leitura, Beto!

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

QdoPosso
Forista
Forista
Mensagens: 5963
Registrado em: 02 Jan 2005, 18:37
---
Quantidade de TD's: 111
Ver TD's

#5 Mensagem por QdoPosso » 25 Ago 2008, 08:46

Foi só pedir pra loira pegar na banana que ela foi correndo.
Muito bom.

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

DANTE-RIO
Forista
Forista
Mensagens: 681
Registrado em: 18 Nov 2006, 21:36
---
Quantidade de TD's: 70
Ver TD's

#6 Mensagem por DANTE-RIO » 26 Ago 2008, 14:50

QdoPosso escreveu:Foi só pedir pra loira pegar na banana que ela foi correndo.
Muito bom.
Correu mesmo!...rs

Valeu a leitura!

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Responder

Voltar para “Crônicas”