Eu consigo adivinhar a tara de qualquer pessoa. Eu olho a cara do cliente que está entrando na loja e digo para mim mesmo, "cu rosado".
Ele entra caminhando devagar, como quem entra em território desconhecido; Conheço todo mundo que mora nesta pequena cidade do interior e sei que ele é de fora. O cliente coloca o chapéu no balcão e olha em volta, parecendo inquieto. Eu sei o que ele vai pedir.
"Preciso de uma coisa", ele diz.
"Bom, aqui na minha sex shop tem de tudo", eu digo, enquanto passo um pano no balcão. "O que você está procurando? Bonecas infláveis? Revistas? Lubrificantes? Xoxotas de látex?"
"Não, nada tão comum assim"
Eu faço a melhor cara de desentendido que consigo e digo a ele:
"Exatamente o quê você procura?"
"Uma puta"
"Ah, então estás com sorte. Acabo de receber um carregamento de bonecas infláveis indianas de seda com cara de puta, e ainda tenho em estoque as bonecas infláveis coreanas de borracha. Tudo com selo de aprovação do governo."
"Não é isso que estou procurando. Eu não andei 600 quilômetros para comprar a mesma coisa que tem para vender na capital. Eu quero uma puta de verdade!"
"Você quer uma puta de verdade, é?" eu digo, enquanto fito ele nos olhos. "Você sabe muito bem que uma puta de verdade é ilegal. Eu poderia ir para a cadeia se comesse uma puta ou te ajudasse a conseguir uma para comer."
E eu já sabia que ele estava atrás de uma puta com cu rosado. Eu havia aprendido a perceber isso no decorrer destes últimos quinze anos, e hoje em dia acertava a tara de qualquer um só de olhar.
Quinze anos... Como passaram rápido, já estamos em 2025. Nem parece que já fazem quinze anos que o governo decidiu que estava gastando muito dinheiro tratando pessoas doentes com enfartos, cirroses, câncer, diabetes e STDs e que muitas mortes estavam ocorrendo devido a essas doenças. Com tantas mortes acontecendo e os pedidos públicos de "algo tem que ser feito!", os governantes se viram em uma situação onde precisavam decidir se protegeriam a privacidade e liberdade de seus cidadãos ou se faziam algo drástico e estúpido. Naturalmente, optaram por fazer algo drástico e estúpido. O Presidente declarou uma "Calamidade na Saúde" e o congresso passou uma lei chamada "morte zero", declarando que em nome do interesse público e da proteção da população e da vida, certos produtos e atividades seriam proibidas.
Comidas com muito colesterol vieram primeiro. Depois, as gorduras saturadas, tabaco e qualquer bebida alcoolica com graduação superior a 30. Vários setores protestaram, o Sindicato dos Produtores de Manteiga tentou uma ação, alguns cidadãos reclamaram que o governo não tinha nada que se meter na vida das pessoas. Mas o governo permaneceu determinado e usou termos como "catástrofe arterial", "holocausto pulmonar", "interesse público" enquanto divulgava pesquisa após pesquisa demonstrando que as mortes haviam, de fato, diminuído drasticamente. "A Lei da Vida", era assim chamada por grande parte da imprensa. Logo ela foi ampliada - Era proibido se embebedar pois isso causava acidentes mesmo em quem não estava dirigindo, o que logo levou à proibição de todo o álcool. Com a proibição do sal vieram mais quedas nas mortes, decorrentes da diminuição de casos de hipertensão e AVCs. Com a proibição do açucar, as mortes por diabetes despencaram. O governo, orgulhoso, propalava os números e ficava cada vez mais poderoso. Exames de próstata mensais mandatórios baixaram ainda mais os números de mortes e o gasto do governo.
Só faltavam as STDs. E o próximo passo não poderia tardar, como de fato não tardou. Logo o governo baixou a MP que determinava a proibição da prostituição em todo o território nacional, afirmando que a proibição de tal prática representaria "milhares de vidas sendo salvas através da prevenção de várias doenças sexualmente transmissíveis". O Ministério da Saúde criou uma divisão de investigação e as blitzes começaram. Foi criada uma força-tarefa para fechar todos os puteiros do país. Putas foram presas em seus flats e pontos de rua, juntamente com seus clientes. Criou-se a censura prévia na Internet para evitar sites de cafetinas (curiosamente foram proibidos também sites críticos do governo, mas poucos perceberam). Fóruns de putaria foram extintos, com direito à operação espetacular da PF na qual um servidor HP Proliant do GPGuia foi preso e algemado com transmissão exclusiva da Globo. Infratores eram multados e presos. Desenvolveu-se o "Putanheirômetro", um aparelho capaz de determinar pela largura do sorriso se a pessoa havia comido uma puta naquele dia. Alguns reclamaram das ações como sendo uma invasão do governo na vida das pessoas, mas novas pesquisas mostrando mais quedas na mortalidade e o apoio das religiões e da imprensa fizeram com que a lei fosse aceita e cumprida por todos.
Bem, quase todos. Alguns não conseguiram abandonar os velhos hábitos. Especialmente eu, que não estava disposto a abrir mão de nada disso.
Comprei uma fazendola escondida em um distrito remoto de Quaraí, perto da fronteira com Uruguai, e lá fiz uma bela casa para mim, cheia de quartos para receber amigos. Eu atravessava a fronteira e trazia carne, cerveja, vinho, charutos, banha e temperos do lado castelhano, mantendo tudo escondido atrás de uma parede falsa no porão. Eu mandava as putas virem de Porto Alegre até mim, custava caro mas era seguro, nunca a polícia iria bater no meu refúgio. Porém, algumas das putas vinham e não queriam ir embora. Elas adoravam o lugar, estavam sendo perseguidas, seriam presas com certeza na capital e não tinham para onde ir. Insistiram para irem morar comigo e eu não podia deixar umas gostosas daquelas ao relento para serem presas. Então reformei alguns quartos no subsolo para elas, que me pagavam o aluguel com sexo. Me tornei o dono e guardião do segredo da existência de um harém de putas de primeira linha em plena época de proibição de sexo pago. Logo convidei o Malevo e o Sereno, dois amigos das antigas, para jantarem lá em casa, oficialmente para comer um churrasco sintético, já que o verdadeiro estava proibido. Quando chegamos, mostrei a eles duas putas e ambos mal conseguiram controlar a felicidade e emoção. Até esqueceram o churrasco de verdade, item raríssimo, que tive que contrabandear do Uruguai. Deixei que eles se fartassem e depois, quando eles me agradeciam a oportunidade com lágrimas nos olhos, percebi que não poderia esconder este tesouro dos meus amigos putanheiros. Resolvi que iria montar uma sex-shop, afinal essas lojas estavam aparecendo em todos lugares desde a proibição das putas, e que essa loja seria só fachada para o meu harém/puteiro clandestino, onde as putas só poderiam foder comigo e atender aos meus amigos, elas não iam presas, ficavam com toda a grana e só me pagavam aluguel na forma de sexo, e a mim cabia controlar os poucos que sabiam daquele oásis. Eu não ganhava um centavo com isso, e funcionava assim haviam quinze anos...
"Eu ouvi dizer que você pode me ajudar a conseguir uma puta". A insistência do cliente me trouxe abruptamente de volta ao presente.
Eu balanço a cabeça com cara de incrédulo. "E de onde você tiraria um absurdo desses?"
"O Mr Blonde me falou. Sou amigo dele e estávamos esses dias enchendo a cara de uísque contrabandeado e lamentando que não existem mais putas. Ele me falou daqui, me contou como é, disse que eu merecia saber e que eu poderia vir, dizer que fui mandado por ele até aqui e pedir uma puta."
Eu faço cara de desconfiado, mas a história faz sentido e se o Blonde mandou ele aqui, é porque só pode ser putanheiro da gema e de confiança. "Ok", eu digo. "Vou pedir que as duas que estão em casa venham falar contigo". Mando as duas putas subirem para acertar o programa, entre elas uma loira que eu sei que tem um cu bem rosado. As gostosas chegam logo.
"Oi", ele diz para elas, com cara de feliz.
"Oi gato, como você é sarado, você malha? Nossa, você deve ter um pau enorme! Ah, eu só estou nessa casa aqui há dois meses. Me paga um képi culer, gato? Como você é simpático! Gostei de ti. Vamos namorar?"
"Com esse papo só podem ser putas mesmo!", ele diz, sorrindo. "Me diz uma coisa, fazem anal?"
"Fazemos sim gato, com uma pequena taxa extra é claro, e se o pau não for muito grande."
"Maravilha! Está confirmado!", ele diz, enquanto põe as mãos nos bolsos e tira de lá uma arma com a mão direita e um distintivo com a direita."Agenor Fontoura, agente do ministério da saúde, divisão de investigação de crimes sexuais. Vocês estão presos, a casa caiu. Ponham as mãos na cabeça!"
Eu tento não deixar transparecer o nó no estômago que sinto. Pergunto se ele não acha irônico um agente de saúde andar com uma arma.
"Nem um pouco Sr. North. Agora ponha as mãos nas costas para que eu possa colocar as algemas. Depois vamos para a delegacia."
Eu olho para as duas putas ao meu lado, e ambas estão com cara de aterrorizadas. Eu preciso pensar rápido e agir. Olho para a puta morena e digo:
"Cu rosado!"
"Como assim?", a puta responde.
"Cu rosado! Ele gosta é de cu rosado. Vê se entende isso, ele gosta de cu rosado!"
A puta foi esperta e entendeu o que tinha de fazer. Ela levantou a mini-saia da outra puta, a alemoa que tinha um cu rosado. Esta, por sua vez, também havia entendido o que fazer e arrebitou a bunda. Uma bela bunda, por sinal, e com um belo cu bem rosado.
"O que vocês estão fazendo?" o agente pergunta, assustado.
"Vem aqui comer o meu cu rosado", diz a loira, abrindo a bunda e mostrando um cu belo e impecavelmente rosado. A morena, que não era boba, começou a passar KY na loira e ajudar na tarefa de tentar o agente da lei. "Vem aqui comer o cu rosinha da minha amiga, vem Agenorzão", ela chamava.
O agente olha para o cu, olha para a puta, olha para mim, olha de novo para o cu e começa a ficar com um ar de transtornado. Ele mal consegue balbuciar "Vistam-se, parem com isso", mas com uma entonação que denunciava pouca determinação.
"Vem logo, vem comer meu cuzinho cor-de-rosa, vem Agenor gostosão, vem seu pauzudo", a loira clamava, enquanto o agente começava a suar frio.
O agente está hipnotizado pelo cu rosado. Pelo olhar dele dá para ver que ele é um cara cumpridor de regras, o típico "bom cidadão" que obedeceu as leis assim que elas foram promulgadas. Como sua mulher não lhe dava o cu, ele estava há pelo menos 15 anos sem comer um anel. 15 anos de fissura acumulados. 15 anos de morte em vida.
"Vai, fode ela", a morena insiste, enquanto coloca um dedo no cu da loira, que rebola e geme. Ele não resiste mais, coloca a arma sobre o balcão e se aproxima do cu da loira, lentamente, como se estivesse com medo daquele cu. Elas insistem, em coro, para que ele coma aquele curosado e finalmente, ele abaixa as calças, dá dois passos em direção à loira e enfia o pau no cu lubrificado e rosado que ele tanto desejava. Ele começou a foder desesperadamente, e quando vi que ele havia se rendido saí da sala, afinal não gosto de ver homem fodendo. Porém, da sala dava para ouvir tudo, e a julgar pelos gritos e gemidos, o agente Fontoura gozou naquele cu como nunca havia gozado em sua vida. Ao final, ele só conseguia balbuciar "que cu rosado... bem rosadinho, ah que cu... delícia...".
É, pelo visto eu estava certo sobre a tara dele.
Após se vestir e descansar, o agente vem em minha direção, sem falar uma palavra. Antes que ele possa abrir a boca, eu digo: "A loira mandou dizer que essa é cortesia, e que você pode voltar sempre que quiser, que ela te atende".
Ele está com a arma na cintura, a mão na arma e me fitando mas sem dizer uma palavra. Eu tento aparentar calma e continuo:
"Você é um agente da lei, deveria ajudar as pessoas e prender criminosos e não quem está envolvido em algo que não faz mal a ninguém. Volte para a capital, e sempre que precisar de um cu rosado, apareça aqui. Ah, eu tenho cerveja e carne de boi e porco de verdade também. apareça para um churrasco."
O agente leva a mão ao rosto, e o cheiro de cu rosado que emanou do dedo dele ajuda na decisão. "Ok", ele diz, "temos um acordo."
"Só uma última coisa: Como você sabe da existência do Mr Blonde?"
"Ele foi preso em sua casa portando uma garrafa de úisque, e as novas leis permitem que um suspeito seja torturado se a informação a ser extraída ajudar a salvar vidas. Privamos ele de bebida e xoxota até ele enlouquecer e falar tudo o que sabia. Agora ele está solto, mas sob vigilâncioa da polícia dos bons costumes."
"Pobre Blonde, tenho que trazê-lo para um churrasco com cerveja e putas urgente", eu penso, enquanto o acompanho até a saída e observo ele dirigir estrada afora. Posso não reconhecer um agente da lei, mas reconheço a tara de alguém. De qualquer pessoa.
Ao voltar para dentro da loja, vejo que o jornal do dia chegou. A noticia de capa dá conta que o governo pretende proibir os desenhos do "Pernalonga", porque em alguns de seus desenhos o personagem demonstra desrespeito pela lei e portanto é má influência para as crianças. "Tom e Jerry" também será proibido, para evitar que crianças possam se ferir imitando os personagens. O noticiário termina informado que o governo pretende salvar vidas com essa iniciativa. "Lamentável", eu penso, enquanto providencio alguns HDVD-Rs destes ótimos desenhos para a posteridade. Um dia vou ter filhos e quero que eles tenham alguma coisa divertida para fazer.