Final de ano para Josimar é sempre muito difícil. Perdera a mãe numa anti-vespera de natal. O pai morrera subitamente na noite de reveillon. Ademais, fora num dezembro chuvoso que Josimar chegara de Pedra Azul, norte mineiro para morar e trabalhar em Belo Horizonte.
Lembranças de tempos turvos. Nessa época, Josimar fazia da marquise das Lojas Americanas na rua São Paulo sua residência. Seus pertences não passavam de uma pequena mala com algumas mudas de roupa e uma sacola com livros. Josimar gosta de ler.
Ficara cerca de três meses desempregado, pedia dinheiro no farol, comia o que sobrava do jantar do restaurante Vagalume, na avenida Olegário Maciel.
Josimar sabia ler e bem. Fizera o primário em Pedra Azul e tomara gosto pela leitura graças a Dona Mércia, sua professora primária. Nunca tinha dinheiro para comprar o jornal e queria ver os classificados de emprego. No fim da noite, quando a banca do Seu Agenor estava prestes a fechar, Josimar pedia para dar uma olhada nos classificados dos jornais que sobravam do dia. Seu Agenor era um homem generoso, nunca negava.
Numa dessas lidas vê o seguinte anúncio “ CONSTRUTORA DE GRANDE PORTE ADMITE 20 SERVENTES. URGENTE. SEGUNDA-FEIRA 08HS. Rua Rodrigues Caldas, 293.” . Uma das 20 vagas foi de Josimar, não se exigia muito, não era necessária experiência prévia.
Com o salário de servente na Construtora Arco, que era uma miséria, Josimar alugou um quarto na “Pensão para Rapazes” da rua Além Paraíba. Fazia sua quentinha no restaurante da Dona Dolores na mesma rua e ainda sobrava uma merreca para uma cervejinha e um torresminho no Buteco do Balaco, na Av. Santos Dumont, o seu predileto.
A vida melhorara sensivelmente, acabara de completar 19 anos e nesse tempo conhecera a Zona. O famoso “Sobe e desce”. A inconfundível rua Guaicurus.
Fora levado por um colega de trabalho numa sexta-feira após o expediente e depois desse dia passou a ir todo dia na Zona. Aos poucos foi trocando o bar do Balaco pela cantina da Tia Júlia no 3º andar do Hotel Imperial. O Imperial era o seu predileto, pois ali existia mulheres diferenciadas: gordas, velhas e feias, com o preço variando entre R$ 3,00 e R$ 5,00.
Freqüentava diariamente também o Hotel Brilhante, a Pensão Mineira, o Cabeça de Boi e o Aurora, podia fazer sol ou fazer chuva. Fizera muitos amigos e esvaziava o saco em média 04 vezes por semana. Parte substancial de seu soldo era direcionado a alimentar esse prazer/vício.
Morena, preta, mulata, oriental, ruiva, loira, albina...mulheres de tudo quanto é jeito, cor, peso, altura e credo. Em 02 anos Josimar ganhou o apelido de “Rei da Zona”, outros o chamavam de “King of King”.
Josimar continuava lendo Machado de Assis na biblioteca Pública da Praça da Liberdade e comendo putas na rua Guaicurus. Um dia resolveu comprar um caderno e fazer dessa brochura uma espécie de “Diário de Putaria”. A partir daquela data ele anotaria no caderno toda mulher que ele “fudesse” na zona, colocando suas impressões e características.
No dia que comprou o caderninho anotou dois nomes. Pâmela: Hotel Brilhante, peituda, cheirosa, boquete fraco, antipática. Jussara: Hotel Maravilhoso, preta, baixinha, corcunda, chupadeira.
Em 01 ano seu caderno já tinha 147 nomes. De A à Z. Era o passatempo predileto de Josimar. Passaram-se 05 anos de sua chegada a BH e podia-se dizer que a vida estava se estabilizando. Fora promovido para meio-oficial na construtora o que o possibilitou alugar um barracão de 03 cômodos no bairro Concórdia. Comia melhor, pagava as contas em dia e o resto putaria.
Os nomes no caderninho só aumentavam e era dezembro. Logo dezembro que não trazia boas lembranças a Josimar. Mas era dezembro e chovia muito. Décimo terceiro no bolso e ele resolveu inovar. “Vou chamar uma puta mais bacana aqui no barraco”.Comprou um jornal popular e foi até o setor de Relax e decidiu por Iasmim: Loira safada. Prazer total. Completa. R$ 100,00. 9999-9999. Ligou e a puta foi educada dizendo que chegava em meia-hora.
Meia-hora pra dar uma arrumada no barraco, trocar a roupa de cama e tomar uma ducha. A barba ficaria pra próxima. 40 minutos e ele abre a porta do barraco. Nada de mais. Iguais a essa ta cheio lá na Guaicurus, ele pensou.
- Meu bem, o pagamento é adiantado e eu vou ter que lhe cobrar o táxi, pois tive que quase atravessar toda a cidade para chegar aqui. R$ 30,00 está de bom tamanho!
Josimar abriu a carteira e entregou R$ 130,00 a vadia. Despiram-se e ela começou com um boquete profundo e molhado. Primeiro round foi rápido, talvez por nervosismo. Josimar foi para a ducha. O caderninho de anotações que levava na capa o nome “Diário de Putaria” estava escancarado na mesinha ao lado da cama. Iasmim, puta curiosa, não titubiou e começou a folhear o caderno. Josimar saiu do banho e pegou Iasmim lendo e dando altas gargalhadas.
- Ué, engraçado, você anota todas as saídas suas?
- Sim, algum problema?
- Nenhum, só é engraçado. Você sabia que tem uns caras na Internet que fazem isso. Eles relatam como foi o programa. Já tem dois relatos meu por lá.
- Não entendo de Internet.
Voltaram para a cama. Dessa vez, Josimar demorou um pouco mais para gozar. Despediram-se com beijinhos no rosto e ele pode observar a cara de nojo que a puta fazia ao observar o seu barraco humilde.
Ele pegou seu caderninho, abriu na letra Y, decidiu que colocaria Yasmim (pois a letra Y estava vazia). Yasmim. Jornal Estado de Minas. Engole Porra. Anal. Estrias. Não sabe quem foi Machado de Assis.