ARTISTA: Michael Jackson
ALBUM: Thriller
ANO: 1982
Até 1979 Michael era conhecido apenas como mais um dos irmãos formadores do Jackson 5. As lembranças mais generosas o remetiam ao longínquo ano de 1969, quando do estouro de hits como “I Want You Back” e “ABC” pela gravadora Motown. Ali convivendo com músicos do naipe de um Smokey Robinson, Marvin Gaye, Stevie Wonder, Diana Ross, Temptations e tantos outros, ele aprendeu as bases do melhor soul possível, se disciplinando para se transformar num futuro próximo, um astro de primeira grandeza.
Com “Off the Wall” em 1979, ele iniciou parceria com o músico de jazz Quincy Jones e lançaria um excepcional disco de R&B. Ai, Michael se apresentaria ao mundo como artista solo, adulto e amadurecido. Músicas como “Rock With You” e “Don’t Stop Till You Get Enough” são o crème de la crème da soul music e já seria suficiente para colocá-lo entre os grandes do gênero de todos os tempos. O detalhe é que o cantor tinha apenas 21 anos e já escrevia, arranjava e ajudava na produção da maioria das músicas. Off The Wall além do grande êxito comercial, seria aclamado como um dos grandes lançamentos do ano de 1979 e contaria com participações de Stevie Wonder e Paul McCartney.
Mas a música americana e os meios de produção e distribuição ainda eram marcadamente segregacionistas. Por mais que músicos como Aretha Franklin, Stevie Wonder e Marvin Gaye conseguissem vez ou outra romper barreiras, o espaço destinado à maioria dos músicos negros ainda era limitado, quando comparado com os seus compatriotas brancos. A própria idéia de música era bem burra, com rotulações como “música de branco”, “música de negro” que acontecia em rádios, revistas e qualquer outro meio de divulgação. A então incipiente MTV americana, por exemplo, se negava a colocar no ar artistas negros e muitas rádios conceituadas seguiam no mesmo caminho. Foi neste cenário que veio a luz o álbum “Thriller” no final do ano de 1982.
Um músico negro como astro absoluto ainda era algo inconcebível no inicio dos anos 80. A idéia era que músicos negros deveriam ser tocados apenas para negros e vice-versa em relação aos brancos. Mas essa idéia existia apenas em tese, muito em função de uma cultura racista retrógrada, truques antiquados de publicidade, que já vinha perdendo força desde os anos 60. O sucesso da gravadora Motown, Stax e Atlantic Records e posteriormente o sucesso de músicos, especialmente do cast da CBS como Lionel Ritche, Marvin Gaye e Stevie Wonder mostrava que as pessoas pouco se importavam com a cor da pele de quem estava cantando, as pessoas queriam era dançar, curtir, enfim, ouvir boa música.
Os anos 80 também marcaram a era dourada dos meios de produção musical tal como são conhecidos hoje. Foi o auge dos “superastros”, das grandes vendas e dos grandes lances de publicidade. Uma conjunção feliz de fatores apontaria, para o que seria o apogeu da indústria em várias mídias possíveis na época, em particular o tridente: LP de vynil, videoclip na TV e rádio FM (somando ainda a mídia escrita e a publicidade televisiva). Tudo isso canalizaria em shows e shows que eram cada vez mais grandiosos e rentáveis, em turnês mundiais gigantescas.
Ouvindo “Thriller”, hoje, até parece um produto proposital, mas não foi bem assim...é certo que Quincy Jones e Michael Jackson queriam fazer um produto que alcançasse o máximo de audiências possíveis, mas sem perder a originalidade, pois aprenderam em Off The Wall, que honestidade era o quesito mais importante. Desta forma, o disco desde a música de abertura, até a última leva o ouvinte a uma viagem de estilos, mas a real é que o disco foi lançado no final de novembro de 1982 em meio a dúvidas e ceticismos. Brigas entre Quincy e Michael sobre qual o melhor material a ser aproveitado na gravação do disco e principalmente, com Quincy condenando o resultado final de Thriller, dizendo que o álbum nunca alcançaria o sucesso de “Off The Wall”. O certo é que o resultado final do álbum pode ser questionado do ponto de vista estético, artístico, mas seu apelo comercial se mostraria imbatível e provavelmente nunca mais igualado na história.
A música de abertura “Wanna Be Startin’ Somethin’” é uma pancada, um aula de soul music, com pitadas de hard funk, bem ao estilo de “Don’t Stop Till’ You Get Enough”, parece até uma previsão do que estaria por vir, porque algo grandioso estava para ser iniciado:
“I Said You Wanna Be Startin' Somethin'
You Got To Be Startin' Somethin'
I Said You Wanna Be Startin' Somethin'
You Got To Be Startin' Somethin'
It's Too High To Get Over
Too Low To Get Under
You're Stuck In The Middle
And The Pain Is Thunder
It's Too High To Get Over
Too Low To Get Under
You're Stuck In The Middle
And The Pain Is Thunder… “
“The Girl is Mine” é escrita e arranjada por Michael e conta com a participação preciosa de Paul McCartney, foi número 1 nas paradas americanas. O hit seguinte, “Thriller”, inovaria a história da música com um vídeo promocional de 14 minutos, revolucionariao para época, onde se conta com a participação narrativa do ator Vincent Price. “Billie Jean” com sua forte batida funk, seria o single mais executado do disco, o mais premiado e talvez seja a melhor faixa de todo o disco. Uma música genial.
Várias fórmulas foram tentadas para se misturar soul music e rock’n’roll nos últimos anos. Betty Davis fez 3 excelentes álbuns onde se vê presente uma forte pegada rock. Stevie Wonder em algumas faixas de “Talking Book” e “Innervisions”, incluiu participações de Jeff Beck e despeja solos ferozes de guitarra sobre uma base soul, bem como as experimentações de Prince em “Dirty Mind”, já nos anos 80. E isto para falar sobre “Beat It” e “PYT – Pretty Young Thing”, onde se destacam a forte pegada rock, num genial crossover entre o soul e o rock. “Beat It” conta com um magnífico solo de guitarra de Eddie van Halen e o mais curioso desta música é que muitas rádios americanas que nunca tocavam soul music, tiveram que tocá-la e ela sempre era a mais pedida pelos ouvintes.
Ao final do ano de 1983 os números de Thriller impressionavam:
- 7 das 9 músicas do álbum original ficaram entre as 10 mais tocadas da Bilboard;
- 3 músicas foram número 1;
- liderou por 37 semanas as paradas norte-americanas;
- ficou por 80 semanas entre os 10 mais vendidos;
- “Billie Jean” ficou 7 semanas seguidas no topo das paradas americanas;
- em 1 ano de lançamento havia sido vendido mais de 40 milhões de cópias do álbum;
- até novembro de 2006 haviam sido vendidas 104 milhões de cópias;
- é o disco de artista internacional mais vendido no Brasil em todos os tempos.
Mesmo 26 anos depois, o disco continua interessante e bastante agradável de seu ouvir. De certa forma criou um novo tipo de astro que seria a regra até os dias de hoje. Michael seria o artista total, o primeiro astro global da história, o maior de todos, que soube trilhar bem o caminho aberto por músicos-performers como James Brown. Thriller seria talvez seu melhor registro, seria talvez o triunfo máximo da música pop.
http://www.youtube.com/watch?v=dPTsmswQVwg – Wanna Be Startin’ Somethin’
http://www.youtube.com/watch?v=EeOpc_Gu-og – Baby Be Mine
http://www.youtube.com/watch?v=VX8GvRfQkk4 – The Girl is Mine
http://www.youtube.com/watch?v=QkjtctcuQ9Q – Thriller
http://www.youtube.com/watch?v=ZkGOiS75Lwk – Beat It
http://www.youtube.com/watch?v=9lfWirgPkTo – Billie Jean
http://www.youtube.com/watch?v=6BlKDXmdiUQ – Human Nature
http://www.youtube.com/watch?v=PdV7Kb1RG8Y – PYT (Pretty Young Thing)
http://www.youtube.com/watch?v=q1XVkLiPseM - The Lady In My Life