Tem um corpo estendido no chão - Autor: ElPatrio

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Tem um corpo estendido no chão - Autor: ElPatrio

#1 Mensagem por ElPatrio » 31 Out 2005, 18:17

Relato a seguir, em parcas palavras, um dia de bobeira pelo centrão sem sequer ter feito um td e nem mesmo ter entrado em algum puteiro ou coisa que o valha.Então vamos lá:

Uma enorme fila se formava no meio da Rua Barão de Limeira, pensei até em entrar naquela fila para matar saudades dos tempos em que eu engrossava as estatísticas de desemprego. De ter o prazer de chegar na agência, preencher uma ficha, ser chamado, chegar na frente da entrevistadora e mandar ela enfiar minha ficha no rabo dela dizendo que eu não preciso daquela porra de emprego. Seria minha vingança contra essas agências de merda. Mas claro que não fiz nada disso, foi só uma pensamento maluco que numa fração de segundos se desfez.

Segui em frente pela Barão lembrando dos NÃOS que já levei nessas agências e do dinheiro contado no bolso que só dava para tomar um lanche e entrar no Orion. Sim. Foi nessa época que conheci o Orion, procurava trabalho e encontrei diversão. O predião eu já conhecia mas eu não tinha 15 reais, tinha 7. Minha estratégia era a seguinte ir ao Orion duas vezes por semana e juntar grana para fazer um td no predião por semana, por vezes essa estratégia falhava e eu acabava seduzido por alguma garota do Orion fazendo com que eu lhe pagasse um drink em troca de uns amassos. Bons tempos, bons tempos...Lembro do dia em que acordei de manhã no apartamento de uma gp em plena avenida São João e quando liguei a TV vi um avião se chocando com uma das torres gêmeas do World Trade Center. Na hora pensei "putz! é mais fácil cair as torres gêmeas do que eu comer essa daí de graça".

Saindo dos devaneios e voltando ao presente entrei numa das galerias da Barão, meu destino era a livraria Triângulo, uma ótima livraria principalmente na área cientifica. Entrei na livraria que agora ocupa só metade da área que ocupava antes. Infelizmente essa livraria está para fechar, eles tentaram abrir uma nova loja na própria Barão de Limeira mas não vingou. A loja não durou nem um ano e já fechou as portas e a livraria original está reduzida pela metade só aguardando a queima do estoque para também fechar as portas. Lamentável. Bom, na verdade não queria procurar livros mas sim matar saudade da garotinha vendedora, uma gatinha a menina. Não é lá muito simpática. Ela procura sempre manter o semblante de indiferença e um certo distanciamento e é isso que me atrai nela além de sua beleza. Mas eu nunca a cortejei, nunca joguei qualquer xaveco pro lado dela mesmo pq trata-se de uma garota bastante nova. Quando eu comecei a frequentar a loja talvez ela fosse menor de idade, hoje ela deve ter seus vinte e poucos anos se muito. Já tem os peitinhos salientes e as formas arredondadas. Uma delicia. Entrei na loja e fui recebido com a mesma cara de indiferença de sempre, mexi nas pratileiras fingindo interesse em adquirir algum livro e no final acabei encontrando um livro interessante e bastante em conta. Acabei comprando. Paguei o livro e me despedi da garotinha. Adeus minha cara, adeus...Vou lembrar de te homenagear dia desses.

Voltei para a Barão e fui tomar uma vitamina no Rei do Mate. Acabando de tomar minha vitamina, com a sacola da Triângulo na mão, me dirigi até o Largo da Paissandú para ver algumas putinhas. Entrei na 24 de Maio, desviei de algumas barracas e resolvi passar antes em uma das galerias. Não a famosa galeria do Rock (que hoje é mais black do que Rock) mas na outra, que hoje é totalmente hip-hop e rap. Subi as escadas até o segundo andar onde está a sede da temida Torcida Independente. É para lá que fui. Na loja sede tinha três caras conversando sobre a época de escola, entrei na loja e comecei e olhar a vitrine mas na verdade minha atenção estava mais na conversa dos caras. Meus ouvidos trabalhavam mais que meus olhos. Os caras, todos membros da torcida, elegiam seus melhores e piores professores. Um deles referenciava um professor de Matemática como sendo super rigoroso e que "todo mundo respeitava". "Esse impunha respeito, mano, ninguém zuava na aula dele". Dizia o rapaz. O outro já declarava que tinha por hábito cabular aulas enquanto um terceiro, com cara de bom garoto, ouvia tudo calado. Isso me fez pensar que pessoas como aquelas só respeitam a autoridade tirânica como disciplina. Já que há todos seus professores parece faltar conteúdo então professor "linha dura" vira sinônimo de bom professor. E isso parece servir para vida toda, inclusive na condição de torcedores. Não tem autoridade e rola impunidade? Então eu quebro, jogo bomba, mato e azucrino. Sem parâmetros e sem limites esses caras se manifestam através da violência, isso é oq lhes resta. Satisfeito abandonei os caras na idéia de nostalgia escolar e sai fora.


Lá fui eu para o Largo do Paissandú a procura da Kelly. Ela não estava lá. Dei meia volta e segui rumo ao CineGlobo pela Av. Rio Branco. Passei em frente a uma loja de videos e resolvi entrar. Hoje, confesso, não ter lá muito entusiasmo em filmes pornô mas resolvi conferir as "novidades". Bem, estava eu lá olhando os filmes, mexendo nas fitas com uma mão e segurando o livro com a outra, quando uma percebo uma mulher obesa se aproximar do cara da loja e perguntar "Vcs tem infantil?" e o cara foi taxativo "Não." A mulher gorda virou as costas e foi embora sem falar nada. Caralho! pensei, que mulher xarope, filme infantil aqui?! Acho que essa bebe. Mas logo depois caiu a ficha e eu levei um baque. Puta que o pariu, acho que não é filmes de Walt Disney que essa mulher procura. Naquele instante pensei em ir falar com o cara da loja e matar minha curiosidade na expectativa dele confirmar minha suspeita, mas achei melhor deixar pra lá.

Deixei a loja sem levar nada e pensativo em relação ao episódio que relatei.Passando em frente ao CineGlobo não vi nada de interessante e acabei não entrando. Segui rumo a Rua da Consolação, quando já era por volta da 4 da tarde. Atravessei a Pça. da República que passa por obras do metrô. Uma cidade como São Paulo deveria ter no mínimo o dobro da extensão do metrô que tem hoje, é oq dizem os especialistas. Mas esse governo parece acordar muito tarde pra isso resolvendo agir as vésperas de uma eleição. Como tipicamente fazem os políticos no Brasil. E com o picolé de chuchu não poderia ser diferente.

Atravessei a Rua da Consolação e observei uma aglomeração de pessoas do outro lado da rua, uma verdadeira muvuca se instalara em frente a um prédio. Um carro de policia parado e um circulo de gente em volta de alguma coisa que logo imaginei oq seria. Chego ao outro lado da rua, vou abrindo caminho entre as pessoas dando vazão a minha curiosidade mórbida, inerente a qualquer um. Não consigo me aproximar muito. Olho de espreita e oq vejo são dois pés brancos e uma barriga branca pertencentes a um corpo, possivelmente feminino, deitado absolutamente inerte no asfalto. Pergunto para um cara "O q aconteceu?" "Ela caiu de lá de cima", ele diz apontando para o alto do edificio bem em frente. "Morreu na hora". Olhei melhor para o corpo e percebi uma poça de sangue ao redor dela.O primeiro pensamento que me veio a cabeça foi "Ela se jogou ou foi jogada?"

Não sei e provavelmente nunca saberei, só sei que tem lá mais um corpo estendido no chão. Isso me lembra uma canção. Já era tarde, hora de ir embora...

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#2 Mensagem por shaman2005 » 31 Out 2005, 19:25

hummm muito bom mesmo.... parabéns !!
talvez por "viver o centrão" há muitos anos me identifiquei bastante... :roll:

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#3 Mensagem por Trankera » 01 Nov 2005, 03:06

Legal essa crônica... ainda bem que a mulher não caiu em cima de ninguém :-)

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karlmarx
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#4 Mensagem por karlmarx » 01 Nov 2005, 11:14

Patrio, a música é cantada pelo MPB-4, é do João Bosco e do Aldir Blanc:

Tá lá um corpo estendido no chão
Em vez de rosto uma foto de um gol
Em vez de reza uma praga de alguém
E um silêncio servindo de amém

O bar mais perto depressa lotou
Malandro junto com trabalhador
Um homem subiu na mesa de um bar
E fez discurso pra vereador

Veio o camelô vender anel, cordão, perfume barato.
E baiana pra fazer pastel e um bom churrasco de gato
Quatro horas da manhã baixou o santo na porta-bandeira
E a moçada resolveu parar e então...

Boa crônica!

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OrionManiaco
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Re: Tem um corpo estendido no chão.

#5 Mensagem por OrionManiaco » 01 Nov 2005, 11:44

ElPatrio escreveu: Não sei e provavelmente nunca saberei, só sei que tem lá mais um corpo estendido no chão. Isso me lembra uma canção. Já era tarde, hora de ir embora...
Ta lá o corpo estendido no chão
Em vez de rosto uma foto de um gol
Em vez de reza uma praga de alguém
E um silêncio servindo de amém

(De frente pro crime - João Bosco - Aldir Blanc)


Parabéns cara...
Lindo e poético... Sou apaixonado pelo CENTRÃO... Porque... Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João (Sampa - Caetano Veloso)
.
Acho que vou começar a fazer parte daquela ONG VIVA O CENTRO ( http://www.vivaocentro.org.br ). O CENTRÃO tem muito para ser contado em átomos, palavras, alma, cor, em gesto e cheiro
em sombra, em luz, em som magnífico (Um Índio - Caetano Veloso)
, enfim, em todos os sentidos...

Um abraço

OrionManiaco

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#6 Mensagem por Carnage » 01 Nov 2005, 15:45

Se não me engano essa ONG tem como um dos objetvos acabar com os "antros de prostituição"....

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Então tô fora...

#7 Mensagem por OrionManiaco » 01 Nov 2005, 16:57

Carnage escreveu:Se não me engano essa ONG tem como um dos objetvos acabar com os "antros de prostituição"....
Então tô fora... Admiro o trabalho desta ONG, mas tem que deixar as primas em paz. Tentaram fazer isso também na Europa (Paris - Londres - Amsterdã - Etc) e não deu certo. Para nossa alegria, as primas sempre voltam.

Um abraço
e bom feriado para todos... vou ver mamãe... em Barra Bonita... Fui...

OrionManiaco

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#8 Mensagem por MOREL » 02 Nov 2005, 16:20

Legal, El Pátrio.

Além da música, existe um conto muito bom do Dalton Trevisan, também sobre o "corpo estendido no chão" :
Uma Vela para Dario

Dalton Trevisan


Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo.

Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.

Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca.

Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado.

A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado á parede - não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.

Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse um gesto para espantá-las.

Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delicias da noite. Dario ficou torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.

Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis, retirados - com vários objetos - de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira era de outra cidade.

Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora, ocupavam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu a multidão. Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes.

O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo — os bolsos vazios. Restava a aliança de ouro na mão esquerda, que ele próprio quando vivo - só podia destacar umedecida com sabonete. Ficou decidido que o caso era com o rabecão.

A última boca repetiu — Ele morreu, ele morreu. A gente começou a se dispersar. Dario levara duas horas para morrer, ninguém acreditou que estivesse no fim. Agora, aos que podiam vê-lo, tinha todo o ar de um defunto.

Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não pôde fechar os olhos nem a boca, onde a espuma tinha desaparecido. Apenas um homem morto e a multidão se espalhou, as mesas do café ficaram vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos.

Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.

Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá estava Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó, e o dedo sem a aliança. A vela tinha queimado até a metade e apagou-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair.

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#9 Mensagem por ElPatrio » 02 Nov 2005, 19:03

Só fazendo uma correção:

Onde escrevo Barão de Limeira, por duas vezes, na verdade deveria escrever Barão de Itapetininga pois essa é a rua certa. É que estou tão acostumado com a Barão de Limeira que acabei por confundir os Barões.

Então se algum moderador puder fazer a correção eu agradeço.

Abraço.

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