Pois, como eu dizia, gosto dos animais, da natureza lasciva de uma cadela, do olhar tímido de uma vaca, da umidade natural de uma perereca do pântano, da elegância de uma égua, de modos que o ocorrido comigo há uns meses atrás mexeu com meus sentimentos, uma coisa bruta, que estou tentando esquecer.
Em um sábado pela manhã, sol de primavera, fui correr num parque perto de Porto Alegre. No meio dele, tem um lago, onde se vê patos e também répteis, tartarugas e coisas assim. Em volta do lago, tem uma pista atlética de pouco mais de 900m, que é onde eu corro. Já tinha dado, no bom sentido, umas 10 voltas, já diminuindo o ritmo pra chegar nas 12, meu limite médio, quando vi a minha frente uma ninfeta morena, de cabelos curtos, bunda média, redonda e empinada, vestida de shortinho e regata pretos (aliás, quase todas usam pretos pra correr, e as gordas nem imaginam que isso não vai fazer com que elas não pareçam gordas, mas deixa pra lá...).
A ninfeta ia a passos mais ou menos rápidos, e eu, subitamente interessado apressei os meus para ver seu rosto. Passei por ela garboso, dei uma olhada de lado e pensei: “tem mais de 18, não dá cadeia”. Comecei a me desconcentrar da corrida, só queria correr próximo dela, acelerei mais o ritmo enquanto pensava “meu deus, ela me olhou de uma forma interessada...” (a gente pensa em cada coisa quando corre). Dei uma volta bem mais rápida e voltei a ficar atrás dela, agora diminuindo o ritmo, com olhos naquela bunda maravilhosa e seus movimentos diabólicos.
Meu pau começou a ficar duro, outras pessoas vinham em direção oposta e comecei a ficar meio sem jeito, o pau duro dentro do calção e eu tentando disfarçar, os olhos começavam a arder com o suor que caia da testa, tava ficando cansado, já tinha passado do meu tempo que costumava correr, o cérebro começava a ficar confuso, aqueles instantes em que você lembra da palavra “buceta” e já demora uns 4 segundos pra lembrar pra que serve, o cansaço chegava com tudo.
Foi quando aconteceu. A uns metros de mim, vi uma tartaruga lentamente saindo do lago indo em direção à pista. Foi muito rápido, o suor nos olhos, a tentativa de ajeitar o pau no calção, aquela bunda nos meus pensamentos....quando vi....splassch!!! Pisei na tartaruga. Não queiram passar por isso. Mesmo pra quem odeia animais nunca desejem pisar numa tartaruga. É muito desagradável, é como pisar num capacete com barriga e patinhas, e o barulho que faz, deusdocéu, vou ficar anos com aquele barulho na minha cabeça.
O certo é que fiquei atônito, parei de correr, juntei a tartaruga desmanchada em minhas mãos e olhei pros lados pra ver se havia testemunhas. Ainda lembro da ninfeta morena parando, olhando pra trás e balançando a cabeça num sinal de reprovação. Uma menininha de uns 4 anos perguntou pra mãe: “ela tá morta mamãe?”. Nesse momento, quase chorei. Sem saber o que fazer, rezei pela alma da vítima e a joguei no lago. Fui embora sem nem fazer alongamento, cheio de câimbras e dor.
O fato é que não tenho tido vontade de comer ninguém depois disso. Ando triste, sem libido, uma merda. Fiquei meses sem fazer um td. Tentei auto-hipnose, li Paulo Coelho, fiz yoga e nada. Aí lembrei do Euzébio, do gato maldito, da mulher e da sogra do Euzébio. Pensei que tudo pode estar interligado na natureza. Pensei em ligar pro Euzébio, pra mulher dele ou pra sogra, mas, porra, o General matou todo mundo, não se pode nem fazer uma crônica interativa...
No fim das contas, acho que tudo é só sentimento de culpa mesmo, por eu gostar de animais. Claro, não tanto como um amigo meu, o Chacal 2, esse sim gosta mesmo de animais, ama os animais, ama mesmo, mas isso já é outra história.
Autor: Hot Sereno