Isso mesmo, eu, um macho, um dono de pau, um fodedor (pelo menos eu julgava ser um), um putanheiro freqüentador dos randevus e demais ambientes da putaria, eu, me sinto e me intitulo prostituído, um ser quer se vende em troca de alguma vantagem, por mais sórdido que o preço seja e supere o lucro. Como alguém que usa as putas para descarregar suas pulsões sexuais pode se equiparar a elas? Que caralho está ocorrendo? A inversão de valores e papéis chegou a esse extremo? Ou será que este que vos escreve é um caso hiperdeformado de bop? Vamos lá, mergulhar na depravação e degradação humana e quem sabe extrair alguma lição e luz disso (se bem que nós putanheiros sabemos melhor que quase todo o resto da rastejante humanidade: a sabedoria mais luminosa e extasiante costuma vicejar a partir da lama mais infecta e mal-cheirosa e muitas vezes adora nela chafurdar).
Ocorre, caros companheiros, que este sujeitinho estava numa situação mais melodramática que clássico sobre dor de cotovelo de Waldick Soriano. Fodido, literalmente mal pago, rádio-patroa tentando controlar até a hora em que ele ia para o banho, amante bem longe da cidade, do estado, do país, dinheiro para putarias nenhum, em suma, sem perspectivas para porra nenhuma e ainda longe da decrepitude física ter se apossado do corpo ou do conformismo ter tomado a alma (putanheiro tem alma?), o amigo aqui teve de ceder aos cada vez mais escassos encantos da sua senhora e voltar a dar bimbadas regulares com ela para liberar a porra do corpo e ficar mais ou menos bem com ela – era isso ou a ruína social, material e sexual – e isso era infelizmente uma necessidade, não um desejo ou alegria. Em suma, passou a trepar com alguém que gostaria de ver bem longe, alguém do qual não queria sentir sequer o cheiro da pele, quanto mais a umidade e calor de sua xava, por simples cálculo, interesse e necessidade.
O grande Machado de Assis, em sua grande obra Quincas Borba mostrou como todos nós brasileiros mergulhamos de cabeça na prostituição literal ou figurada que é inerente à sociedade capitalista e à vida burguesa, quando essas baixaram por aqui. Pois tantos anos depois eu finalmente entendera as lições do grande Bruxo do Cosme Velho, de uma maneira que minha magricela e literalmente despeitada professoras de português do colegial, que me obrigou a ler esse livro – o qual, claro detestei na época – resumiria no seu bordão favorito: “que horror!”. Eu me prostituí em troca de uma situação social, familiar e material minimamente estável (mas, para ficar numa rima barata, insuportável). Claro, tinha filho nesse lance. Afinal, tanta auto-imolação e covardia de enfrentar a situação e mudá-la necessitam de algo realmente forte para mantê-las.
Mas um resquício de dignidade canalha eu mantive, após ter essa dolorosa consciência: supus saber como elas as putas se sentiam, mas não me solidarizei com sua condição. Agarrei-me a essa idéia como a lição de sabedoria que faria esse aparentemente interminável capítulo da minha vida ter algum sentido do mesmo modo que agarraria na cama uma mulher gostosa e desejada: pelas suas ancas firmes e macias. Eu ainda era um cafajeste e como tal, tinha de manter uma certa distância para com as gps, pervas, vadias, devassas, meretrizes, com as marafonas, que essa condição exige. Nós as usamos, por mais que gostemos delas. O que seria de mim se me apiedasse da condição das “primas”, ao supostamente ter compreendido sua condição, e passasse a ser doce, carinhoso e generoso? Ou pior, se me deixasse dominar pela boa consciência e não mais as freqüentasse? Em nome de um espírito superior? Para a puta que pariu com a ascensão espiritual! Canalha que é canalha é um rato e se delicia com seus esquemas e tramóias para penetrar aqui e ali, lá e cá em todas as brechas úmidas e quentes que conseguir, sempre da maneira mais subterrânea possível. Assim, em meio aos meus pensamentos perturbados, veio a resposta à possibilidade de me tornar um homem elevado e decente: a cara medonha da mediocridade, da loucura e da destruição final pareciam me sorrir, no fim da rua escura, enquanto eu esperava o farol abrir. Pisei bem fundo no acelerador e mergulhei na noite.
Ocorre, caros companheiros, que este sujeitinho estava numa situação mais melodramática que clássico sobre dor de cotovelo de Waldick Soriano. Fodido, literalmente mal pago, rádio-patroa tentando controlar até a hora em que ele ia para o banho, amante bem longe da cidade, do estado, do país, dinheiro para putarias nenhum, em suma, sem perspectivas para porra nenhuma e ainda longe da decrepitude física ter se apossado do corpo ou do conformismo ter tomado a alma (putanheiro tem alma?), o amigo aqui teve de ceder aos cada vez mais escassos encantos da sua senhora e voltar a dar bimbadas regulares com ela para liberar a porra do corpo e ficar mais ou menos bem com ela – era isso ou a ruína social, material e sexual – e isso era infelizmente uma necessidade, não um desejo ou alegria. Em suma, passou a trepar com alguém que gostaria de ver bem longe, alguém do qual não queria sentir sequer o cheiro da pele, quanto mais a umidade e calor de sua xava, por simples cálculo, interesse e necessidade.
O grande Machado de Assis, em sua grande obra Quincas Borba mostrou como todos nós brasileiros mergulhamos de cabeça na prostituição literal ou figurada que é inerente à sociedade capitalista e à vida burguesa, quando essas baixaram por aqui. Pois tantos anos depois eu finalmente entendera as lições do grande Bruxo do Cosme Velho, de uma maneira que minha magricela e literalmente despeitada professoras de português do colegial, que me obrigou a ler esse livro – o qual, claro detestei na época – resumiria no seu bordão favorito: “que horror!”. Eu me prostituí em troca de uma situação social, familiar e material minimamente estável (mas, para ficar numa rima barata, insuportável). Claro, tinha filho nesse lance. Afinal, tanta auto-imolação e covardia de enfrentar a situação e mudá-la necessitam de algo realmente forte para mantê-las.
Mas um resquício de dignidade canalha eu mantive, após ter essa dolorosa consciência: supus saber como elas as putas se sentiam, mas não me solidarizei com sua condição. Agarrei-me a essa idéia como a lição de sabedoria que faria esse aparentemente interminável capítulo da minha vida ter algum sentido do mesmo modo que agarraria na cama uma mulher gostosa e desejada: pelas suas ancas firmes e macias. Eu ainda era um cafajeste e como tal, tinha de manter uma certa distância para com as gps, pervas, vadias, devassas, meretrizes, com as marafonas, que essa condição exige. Nós as usamos, por mais que gostemos delas. O que seria de mim se me apiedasse da condição das “primas”, ao supostamente ter compreendido sua condição, e passasse a ser doce, carinhoso e generoso? Ou pior, se me deixasse dominar pela boa consciência e não mais as freqüentasse? Em nome de um espírito superior? Para a puta que pariu com a ascensão espiritual! Canalha que é canalha é um rato e se delicia com seus esquemas e tramóias para penetrar aqui e ali, lá e cá em todas as brechas úmidas e quentes que conseguir, sempre da maneira mais subterrânea possível. Assim, em meio aos meus pensamentos perturbados, veio a resposta à possibilidade de me tornar um homem elevado e decente: a cara medonha da mediocridade, da loucura e da destruição final pareciam me sorrir, no fim da rua escura, enquanto eu esperava o farol abrir. Pisei bem fundo no acelerador e mergulhei na noite.