Rivaldo - Autor: Fortimbrás

Crônicas semanais sobre putaria

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Rivaldo - Autor: Fortimbrás

#1 Mensagem por Fortimbrás » 06 Jan 2010, 20:24

-Cara,mas essa mina é a cara do Rivaldo!

Mendoncinha parecia um tanto quanto admirado com a semelhança e não podia conter o seu assombro com o silêncio cínico dos pseudo amigos de Lúcio. E me cutucava de cinco em cinco minutos, cada vez mais bêbado e inconveniente, confidenciando exatamente a mesma frase. O único problema era que, apesar de colocar a mão na frente da boca e pretender sussurrar a sua descoberta, Mendocinha a repetia, entre perdigotos, cada vez mais alto.

Estávamos em uma mesa razoavelmente grande e comemorávamos o anúncio do noivado de nosso amigo com Renée, uma moça que ele conhecera no Peru, em uma viagem a negócios. Nos últimos meses , Lúcio praticamente não tinha outro programa que não fosse ciceronear sua noiva pelas ruas da cidade, visitando monumentos históricos, museus, teatros, cinemas e restaurantes. Eu seria capaz de apostar dez reais com qualquer um que Renée já tinha um conhecimento maior do que o meu ou o do Mendoncinha em relação ao circuito cultural e gastronômico da paulicéia desvairada.

Mendoncinha , eu e o Negão, amigos do longínquo ginásio de Lúcio, não poderíamos, jamais, ficar de fora de um jantar como esse. Afinal de contas, por muitos e muitos anos, fomos os melhores amigos do então durango Lúcio e protagonizávamos semanalmente o "Senzala Conection", uma sessão de pinga e cerveja toda segunda feira à noite, em que nos reuníamos no já extinto bar do seu Diógenes e colocávamos em dia nossas impressões sobre os acontecimentos mais importantes da semana anterior e debatiámos, quase sempre acaloradamente, os nossos pontos de vista sobre os rumos da política nacional, internacional e os melhores momentos do jogo de futebol do dia anterior.

- Como é que pode uma coisa dessas, Dimas? Essa mina é o Rivaldo , com o cabelo liso e comprido e um corpo espetacular. Não nego que a moça seja mesmo muito bonita, mas ... olha lá. Repara no olho. No olho. Repara no nariz, no nariz. É o nariz do Rivaldo ou não é? Agora, o pior de tudo é boca: como é que alguém pode beijar uma moça dessas sem, em algum momento, ficar com a impressão que se está beijando o próprio Rivaldo?

- Abelardo, dá pra falar mais baixo? Que merda, dá pra ouvir essa sua conversa de bêbado de longe, porra - disse, rindo , bem baixinho , de forma que, quem me visse de longe teria a impressão que eu estava contando alguma piada ou coisa parecida. - Vê se pára de uma vez com essa conversa, por favor.- a minha preocupação se explicava também, em parte, pelo fato de nós estarmos um pouco deslocados ali. Não conhecíamos ninguém além do próprio Lúcio.

Mendoncinha ficou alguns segundos em silêncio, tempo suficiente para resmungar alguma coisa e depois voltou a carga, completamente transtornado:

- O cara é meu amigo. É meu amigo, tá ouvindo? Tá me entendo, não? Olha direito pro rosto da moça e me diga que ela não é o Rivaldo de buceta.

Eu sempre tive o Mendoncinha na conta de um péssimo fisinomista, já que ele sempre esquecia não apenas o nome, mas o próprio rosto de quase todo mundo. Durante aquela noite, no entanto, fui aos poucos me convencendo que havia, realmente, algo do Rivaldo na moça. E o pior é que não era apenas nos traços ; seu corpo também era esguio, longilíneo e de uma estatura considerável para uma mulher. Renée deveria ter, com aquele sapato alto que usava então algo em torno de um metro e noventa de altura. Porém havia algo que não passou desapercebido pelo Mendoncinha que acabou me convencendo: Renée falava pouco, sorria menos ainda e não parecia estar muito à vontade ali. " Olhe só pra ela, Dimas. Se pudesse, mandava todo mundo agora mesmo à merda e ia jogar uma bolinha com a Marta e a Cessi, eu aposto com você " .

Esse último comentário se deu bem no momento em que um dos amigos ricaços do anfitrião propôs um brinde. Confesso que não percebi como isso aconteceu, mas, de alguma forma, Mendoncinha se levantou tropegamente e com o copo sempre cheio à mão, pediu a palavra.

- Conheço o Lúcio desde os tempos do Salesiano. Sempre foi um grande camarada, o Lúcio. Sempre que eu escolhia os times, na hora do recreio, o Lúcio era o primeiro. O cara foi, de longe, o melhor goleiro de futebol de salão que aquele colégio já viu. O Dimas e o Negão aqui são minhas testemunhas. Juntos, nós formamos um time que ganhou, invicto, o campeoanato dos times da sexta série. Foram quatro jogos, quatro vitórias. E, em todas elas, o Lúcio fechou o gol.

Isso era verdade mesmo, mas, confesso, não me lembro de termos conquistado o épico "inter-sextas" de forma invicta. O que lembro, é de que, na final, eu e o Mendoncinha começamos a zoar o esquema todo e corríamos com a bola nas mãos , como se fosse um jogo de hand boll , rindo como dois cretinos e jogando a bola no gol adversário.O próprio Lúcio gritava, da baliza :" Parem com essa merda, porra!" Isso acabou rendendo uma pequena pancadaria no final do jogo e uma merecida fama de idiotas no colégio até meados da oitava série.

- De modo que, com todo esse histórico pessoal, não posso deixar de entender a escolha do nosso amigo. Ninguém mais do que eu torceu por aquela seleção de 2002. Ninguém. Me apontem alguém que torceu muito e ficou completamente louco com a coisa toda e eu direi: " Irmão, você está certo. Aquele time era o fino!"

Lúcio, que , inicialmente sorria de forma leve ao recordar dos tempos do ginásio, começou a suar frio ao ouvir as últimas palavras do amigo. Naquele momento, mesmo estando um pouco longe de onde Abelardo estava, Lúcio deve ter percebido o tom de sua voz e o dilatar de suas pupilas;o olhar que parecia fixo em alguma coisa ou em alguém, mas que, na verdade, estava muito longe dali. Seu sorriso nostágico foi,aos poucos, se tornando amarelo. Vez por outra, lançava olhares enigmáticos para mim, na esperaça, talvez, de que eu tomasse a palavra e evitasse que o Mendoncinha fobasse tudo a qualquer momento. Eu sabia o que estava acontecendo, mas , confesso, fiquei curioso por saber até onde a bestialidade de nosso ébrio camarada poderia chegar.

- Eu mesmo, sempre achei que houve uma injustiça ali. Ficaram incensando o gordinho com aquele cabelo do Cascão, quando o grande herói tinha sido outro.

Aqui a luz verde apareceu e eu , atendendo ao olhar já completamente apavarado de Lúcio, prevendo uma grande catástrofe, comecei a tentar tomar a palavra e fazer também um brinde ou dedicatória ao nosso anfitrião e amigo. Mendoncinha, no entanto, estava completamente transtornado:

- Gostaria , inclusive de aproveitar a ocasião para expressar aqui o meu asco pelas somas completamente estapafúrdias que esses caras ganham por mês , pra ficar jogando futebol. Como é que pode uma coisa dessas? Isso não tem sentido . Esses caras ganham rios de dinheiro e mal sabem falar português. Nós, que ralamos nos colégios e nas universidades estamos por aí, trajados todos de laranja, trabalhando como garis enquanto esses manganões circulam pela europa montados no dinheiro! Essas cifras, são sérias? Eu pergunto aqui, são sérias? - nesse momento, seu olhar desvairado e inquiridor se dirigia à Renée. - Como é que pode um descaramento desses? O mundo à beira de um cataclisma social, onde pessoas passam fome, vemos esses mulambentos cheios de ouro!!!

Aquilo precisava parar, já que o Mendoncinha se aproximava muito do ponto onde coroaria toda a sua linha argumentatória e isso seria, basicamente, um completo descalabro.Portanto, atendendo aos olhares completamente desesperados de Lúcio e à fisionomia assutadiça de Renée ao escutar as últimas e ensandecidas palavras de Mendoncinha, eu tive de agir. Levantei-me e comecei a bater palmas, efusivamente, na esperança de que os outros me acompanhassem e esse ritual de aprovação coletivo refreasse o entusiasmo de meu ébrio colega. O problema foi que, lamentavelmente, ninguém me acompanhou. O máximo que consegui angariar de apoio foi um comentário maldoso de um dos convidados presentes: "Que merda é essa? Quem são esses idotas? "

O Negão, até então calado, perguntou , entredentes, ao autor da observação, um sujeito todo empertigado e com o cabelo completamente empapado de gel : " Quem é idiota, seu pau no cu?"

Nesse momento, Renée apontou para o Mendoncinha e perguntou também, de forma pouco amistosa , para o seu noivo: " Você não vai convidar esse gordo para o nosso casamento, vai?"

Lamentavelmente, Mendoncinha ouviu a pergunta e a respondeu ele mesmo:

- Eu é que não vou querer ver o meu amigo Lúcio casar com o Rivaldo!

A isso , o próprio Lúcio respondeu, jogando uma garrafa de champagne na direção do Abelardo. A esse movimento impensado de Lúcio,o Negão se aproveitou para grudar no maluco do cabelo cheio de gel e , com uma violência que lhe era peculiar, enchê-lo de socos na face.

O furdunço, infelizmente se instalou e houve repercussões muito desagradáveis para todos os que estiveram presentes naquele jantar. A maior delas, porém, sentimos nós, os membros do Senzala Conection. Não fomos convidados para o casório , perdemos a festança e o amigo. Mesmo assim, nas poucas vezes em que se refere à Renée, Mendoncinha continua a chamá-la de Rivaldo.
Editado pela última vez por Fortimbrás em 12 Jan 2010, 08:32, em um total de 1 vez.

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#2 Mensagem por Tricampeão » 06 Jan 2010, 23:20

Mais uma magistral crônica do Fortimbrás, Nélson Rodrigues ao quadrado.
Vai ter continuação?
E Deus, não aparece na história? É um dos meus personagens favoritos.

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#3 Mensagem por Nazrudin » 07 Jan 2010, 08:25

=D>
Divertidíssima, bem escrita, e digna do sempre "coerente? :-k " com ele mesmo, Mendoncinha. ::ok::

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#4 Mensagem por Peter_North » 11 Jan 2010, 22:28

Parabéns Fortim, tá cada vez melhor!

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#5 Mensagem por Lesbos man » 12 Jan 2010, 00:36

Concordo com o Tricampeão, essa pérola precisa ter continuação.

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#6 Mensagem por Fortimbrás » 12 Jan 2010, 08:29

Meus caros , muito obrigado pelas palavras de apoio.

Trica, agradeço as palavras e devo confessar que fico muito orgulhoso com a comparação. O que mais me conforta, porém, é que o Nelson não tomou conhecimento dela.

Bem, na verdade, essa crônica é quase verídica e é o fruto de um exercício completamente doentio de imaginação do que poderia ter acontecido caso o Mendoncinha tivesse , de fato, tentado externar suas impressões a cerca de uma certa moça que agora frequenta o mesmo círculo social dele. O seu chapa Lúcio não precisa se preocupar muito com ele, já que a moça o tem na conta de um gordinho espirituoso, completamente inofensivo.

Ele não confessa pra ninguém, nem a ele mesmo, que, se pudesse, traçaria o tal "Rivaldo" com muito gosto. E como. E de tal maneira, e sempre e tanto.

Como todo bom putanheiro, não merece a menor confiança. Age como se fosse um lobo, esse filho da puta.

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Re: Rivaldo - Autor: Fortimbrás

#7 Mensagem por FABGRU » 18 Jun 2010, 16:18

Parabéns...Fortimbrás..Excelente...

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Re: Rivaldo - Autor: Fortimbrás

#8 Mensagem por infimaprincesinha » 04 Ago 2010, 13:48

:lol: :lol: :lol:
Dá até um pouco de aflição ler esse texto, esperando se haveria ou não a revelação dessa semelhança! Muito bem escrito!
As pessoas perdem o amigo, mas não perdem a piada...

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