Há muito tempo já venho ensebando para escrever esta tão justa e merecida crônica. Alguma força estranha e sobrenatural me impelia a escrevê-la, enquanto outra força ainda mais poderosa e nada sobrenatural, a minha preguiça, me impelia a não escrevê-la.
Agora, com a proximidade do Dia dos Finados, a consciência me pesa e necessitando expurgar um pequeno percentual dos meus pecados, decidi homenagear aqueles que comigo dividiram bons momentos nesta vida, ainda que de forma involuntária.
Mas, daí, alguns hão de me perguntar: “O que raios têm a ver os comborços com o Dia de finados?” E outros, intrigados, hão de questionar: “Mas que merda é essa de comborço? Tem alguma coisa a ver com um caminhão basculante ou é similar a um caroço de azeitona?”
Comborço, para aqueles que não são versados nas lides exploratórias de bucetas comprometidas, é “aquele que é amante de uma mulher em relação ao marido ou outro amante” (Novo Dicionário Aurélio, 1ª edição, Ed. Nova Fronteira, pág. 349). Em outras palavras, se você dá uns picotes numa mulher casada, você é o comborço do marido dela. Ou ainda, se dois homens comem uma mesma mulher, eles são comborços. Exemplo: Se você come sua sogra, você, além de genro de seu sogro, é também seu comborço. Não chega a ser algo animador, mas é um bom exemplo para fixar, especialmente se a sua sogra ainda render um bom caldo, como a Priscila Presley, a Madonna, a Xuxa ou a Luíza Brunet.
Esclarecido o que seja um comborço, passo agora a explicar a relação dos meus comborços com o Dia de Finados.
Por um desses vaticínios que me foi lançado por alguma cigana do Viaduto do Chá, do Parque Dom Pedro ou Feirinha do Masp tenho uma sina que me acompanha há anos, qual seja, a de ser um tremendo “Pinto-Frio”. Algumas pessoas são denominadas de “Pé-Frio” porque dão azar onde chegam. Eu não sou propriamente um azarado, até longe disso, mas sou “Pinto-Frio”.
Como todos aqui sabem, não sou um louco babão desenfreado a fazer TDs como vários foristas, especialmente alguns que já andam na casa das centenas e são a alegria das putas e cafetões. Eu não; sou um sujeito mais contido em relação às bucetas de aluguel, mas tenho o grave defeito de não resistir a uma bela dama casada. Trata-se de uma irresistível atração, que me impele a cobiçar aquelas mulheres compromissadas e que, exatamente em função deste compromisso, haverá menores probabilidades de me atormentar para casar, pois se há uma coisa que eu não sou é bígamo. Sou um homem de família e de respeito, portanto, não compactuo com sem-vergonhices juramentadas. Sou conservador e o casamento é uma união indissolúvel, embora gelatinosa.
O problema que me leva a ser o tal “Pinto-Frio”, não está relacionado à vascularização e irrigação sangüínea do meu membro (ainda) viril. Tem a ver com o azar que ele transmite aos meus infelizes comborços. Há casas que são assombradas porque construídas sobre um cemitério indígena, onde enterrados os ossos dos pajés que protegem os membros da sua tribo.
Pois bem, no meu caso, as bucetas onde eu enterro meu tão amado falo, tornam-se, por obra de alguma maldição, assombradas, levando a óbito meus comborços. Antes que as vozes maledicentes se levantem, eu já esclareço que não tenho AIDS, sífilis ou gonorréias em estágio avançado e nem mesmo inicial. Não, meus comborços não morrem de doenças sexualmente transmissíveis. Eles morrem das mais diversas causas, como as vítimas do filme “A Profecia”, que se põem em rota de colisão com Damien, o Coisa-Ruim.
Vejam vocês o rastro de sangue que meu “Pinto-Frio” já deixou por essa vida afora.
O primeiro de meus comborços deu um tiro nos miolos.
O segundo, espatifou-se numa batida de frente em uma das BRs cento e alguma coisa desse Brasil.
O terceiro, teve um enfarto fulminante durante uma sessão da Câmara dos Vereadores.
O quarto levou a pior num confronto moto x caminhão.
O quinto, soube recentemente, está com câncer, isso se não morrer de cirrose hepática antes.
Meus caros, sou obrigado a confessar que cada vez que vou dar uma mijada, tenho até medo de pegar no meu pau. Que sinistra maldição tem ele, que deixa um rastro de choro e ranger de dentes pelo caminho? Que vibrações deletérias ele transmite às vaginas de minhas amantes e que terminam por se alojar na alma de meus comborços? Ou será que meu pau simplesmente encontrou nas bucetas, o canal para descarregar minhas energias negativas e meus comborços, por não terem seus corpos fechados, tomam-nas para si?
Já pensei em mandar minha história para o “Além da Imaginação” ou para os redatores de “Amazing Stories”, mas não creio que eles me dêem crédito. Talvez eu possa levar meu caso para o “Fala que eu te escuto”, mas só fico acordado de madrugada se tiver uma mulher para comer, jamais para conversar com um pastor rouco, com cifrão nos olhos.
Esta minha sina já está me causando sérios problemas. O primeiro deles é o sentimento de culpa. Que um comborça morra, é natural. Dois pode-se reputar mera coincidência. Três já causa pânico. Mas quatro mortos e um com câncer, aí já me faz pensar que eu sou um anti-cristo colecionador de viúvas.
Alguns mais canalhas poderiam tentar me consolar e dizer que as viúvas são de uma sensualidade digna da melhor literatura erótica. De fato, algumas vezes são, especialmente quando estão com teia de aranha na buceta. Mas isto não me comove. No meu caso eu não cheguei após o fato nefasto e peguei a viúva mordendo o batente. Ao contrário, eu estou a encaçapar a mulher comprometida que, de repente passa apenas a ser metida. Some o “com”. Sai o “com”borço, que parte desta para melhor, abotoa o terno de madeira e vai comer grama pela raiz.
Aí começam os meus dramas. A mulher que antes trepava feliz, passa a ter crises de consciência, devastada pelo remorso. Chora como uma carpideira profissional. Depois que passa a choradeira, querem casar e então, quem começa a chorar sou eu.
A primeira delas passou meses debulhando-se em culpas. Mas, sabem como é, o tempo fecha as feridas, mas não fecha as bucetas.
A segunda, no início até que deu graças a Deus pela colisão frontal, especialmente quando viu o número de zeros no cheque da seguradora. Mas, com o passar do tempo começou a sentir falta do finado e a dizer que afinal ele não era assim tão ruim. Também no caso dela o tempo fechou a ferida e manteve a buceta aberta. Porém, houve situações em que ela parava de trepar, fechava-se em copas e dizia que uma médium havia comentado que o finado estava sempre ao lado dela. Cheguei até a pensar em dizer que poderíamos fazer um “menáge” transcedental ou até levá-lo a um swing no Chico Xavier, mas o momento não era próprio a piadas. Está certo que sou da filosofia “perco o amigo, mas não perco a piada”. Mas entre a piada e a buceta, ainda fico com a buceta, já que minha testosterona é mais poderosa que meu senso de humor.
A terceira, ah, a terceira é mais safada. A morte de meu infeliz comborço não lhe alterou em nada o exacerbado apetite sexual. Continua a trepar como sempre o fez, sem culpas ou remorsos. E ainda promete fazer uma festa de arrasar, com direito a dar o cu em grande estilo, no dia em que receber o seguro de vida do finado, posto que a seguradora não quer pagá-la. O mais curioso dessa vagabunda, é que ela estampou um foto do finado em sua página da Orkut, dizendo que ele era o anjo da vida dela. Pois, sim! Esta é a primeira vez que eu vejo um anjo de chifres.
A quarta pranteou o finado por longos meses, afinal ela era de fato um bom sujeito, embora péssimo piloto de moto. Foi difícil quebrar a resistência dela, que parecia ter colado as coxas com Super Bonder. Mas, sabem como é, o tempo fecha as feridas, etc, etc... Uma bela noite, cansada de prantear o finado, ela lançou-se com tal volúpia sobre meu amigo zarolho, que mais parecia uma legionária perdida no deserto quando acha uma moringa d’água. Poucas vezes recebi um boquete tão inspirado.
A quinta, bem, a quinta ainda é mera candidata. Afastei-me dela por um tempo e tenho mandado rezar missas para meu comborço, escrevo o nome dele em mesa branca em dias de sessão espírita, faço despachos de descarrego na encruzilhada, coloco um copo de água sobre o rádio, quando o Missionário Davi Miranda reza cultos evangélicos com tradução simultânea para o espanhol na Igreja Deus É Amor e, se tudo der certo, vou fazer meu testemunho na Igreja Universal.
Isso me fez lembrar a cena final do filme “O homem com visão de raio-x”, um “trash movie” da década de 50. O personagem principal, cansado de ver o que via, entra numa igreja evangélica e o pastor, em ato de pentescostes, diz a ele: “Se seus olhos te são motivo de escândalo, arranca-os!” E ele arranca os próprios olhos.
Meu pinto me é motivo de escândalo, mas ele fica onde está.
Neste Dia de Finados, no máximo mandarei rezar uma missa para cada um de meus comborços.
Que meus comborços descansem em paz e Deus proteja aqueles que ainda vivem.