Dimas não se reconhecia mais, desde que reencontrara uma garota de programa que julgava ter perdido o contato, depois de quase três anos. Há cerca de três dias, marcara um encontro, com uma dessas garotas de site que não mostram o rosto. Agora, sabia que, inconscientemente, o que o fizera ligar para a garota e marcar o programa foram as medidas , iguais, e o sorriso ( sem o olhar, devidamente “cortado” na foto). Pelo telefone, a voz não suscitou nenhum tipo de lembrança de alcova mais apimentada. Certamente por ter sido um tipo de conversação diferente da que costumavam travar,já que falaram superficialmente sobre valores e o atendimento, em si; Dimas não tratava dessas coisas nos tempos de clínica, já que, quando ela chegava na suíte, essas questões já estavam resolvidas na recepção. “Mirella” nem bem fechava a porta da suíte e Dimas já a agarrava, e o que se seguia depois era a ... “massagem”... E pouco falavam também, o que deve ter contribuído para que não guardasse o som de sua voz.
Da última vez,há exatos três dias, no entanto, o que se seguiu foi apavorante. Ao contrário do que acontecia antes, Dimas estava solteiro. Disponível como nunca esteve e extremamente vulnerável. Por mais estranho que possa parecer, exatamente por isso, Dimas praticamente não vinha se utilizando dos serviços profissionais de garotas como a Mirella. Não estava mais atrás , apenas, de sexo. Quando estava casado, garotas como a Mirella faziam mais sentido, eram apenas prestadoras de serviço, que faziam sexo oral e anal mediante uma taxa. Dimas saciava sua sede de aventuras, sem envolvimento afetivo algum, pagava e caia fora. Perfeito!
Contudo, agora, o cenário estava completamente diferente. Dimas estava envolvido em um processo doloroso de divórcio, inclusive com uma descoberta terrível de infidelidade por parte de sua esposa. Sua ex cônjuge, aliás, ao contrário dele, havia buscado algo mais substancial que a mera satisfação carnal; cruzara no supermercado perto da casa onde moravam, por acaso, com um amigo dos tempos do colégio. Ela fôra apaixonada por ele, que namorava, então, com sua melhor amiga; claro para ele estava agora que ela sempre deve ter tido vontade louca de dar para ele, enquanto fingia ser amiga de sua namoradinha. Depois de alguns dias, após novo encontro “casual”, no mesmo supermercado, trocaram telefones, fingindo que eram apenas bons amigos se reencontrando para colocar em dia todos os assuntos após tanto tempo, ela falando sobre a filha de três anos e sobre o marido, ele sobre a mulher (não foi com a amiga do colégio...) e o tempo em que moraram no sul até retornar para Sampa; e, quando os dois deram por si, estavam sob os lençóis sórdidos da casa dele. O caso estava rolando solto, sem que ele soubesse, por quase um ano; escapadas, mentiras, falsidade, leviandade, todas as vezes que o evitou por já estar com sua lascívia satisfeita. Até que, um belo domingo, aos prantos, após uma repentina crise de consciência, ela disse tudo. Com todos os detalhes, mesmo os que eram dispensáveis. Dimas saiu de casa para nunca mais voltar poucas horas depois.
Dimas estava, portanto, com a guarda baixa. Se julgava o último dos mortais. Não apenas porque lamentava o fim do seu casamento, algo que sinceramente sentia; não apenas por estar podendo ver a sua filha de três anos em dias certos , semanalmente; não apenas por saber que , na casa em que ela morava agora, que ele havia comprado, um galalau safado qualquer dormia com sua mulher e criava sua filha; no íntimo, Dimas se sentia responsável pelo fim do seu casamento, porque reconhecia que não dera o devido valor ao que possuía. Agora, Inês era morta. E a vida seguia.
Após algum tempo, entrou no site que sempre visitava, apenas para ver fotos. Dimas gostava de fazer isso, embora nunca tenha ligado para alguma delas. Dimas preferia inferninhos, boates e prives. E gostava também de clínicas de massagem. Nunca se detinha por muito tempo em uma especificamente, mas aquela foto lhe chamou a atenção de uma forma estranha. Não sabia se eram os seios, delicados e pequenos, ou o sorriso . Mas havia alguma coisa ali. Nesse momento, Dimas percebeu que uma das únicas coisas boas do seu divórcio era poder ligar e falar com uma garota de programa da sala de seu apê, em voz normal, sem sussurros. E sorriu. Perguntou o tempo do programa, se ela era completa e se tinha local. No meio dessas tratativas, descobre que a moça estava de carro, perto da sua casa. Ele, incontinente, pergunta:
- Você poderia vir para cá agora?
- Claro. Devo estar chegando aí em alguns minutinhos.
Poucos minutos depois, tempo suficiente para fazer uma rápida higiene pessoal, ele abre a porta para ela, enrolado em uma toalha. Lá estava ela: a Mirella.
Dimas a reconheceu imediatamete e sorriu para ela; Mirella, por sua vez, demonstrou uma surpresa muito grande.
- Não acredito!
Ela entra e o comprimenta com um beijo no rosto, como se fosse a sua dentista, ou coisa parecida. Após a surpresa inicial , ela pareceu um pouco desconfortável e pediu para usar o banheiro. Poucos segundos depois , voltou para a sala,e parou na porta , encostando a cabeça no ombro esquerdo:
- Eu ainda não acredito!
- Vem cá... Mirella...Vanessa...
O que se seguiu depois, foi uma das melhores trepadas que já teve na sua vida. Muito diferente do que costumava ser na época da clínica, quando havia, da parte dele, um instinto animal e uma premência em penetrar que remetia muito mais ao tempo que restava do que a mulher em si. Ali, por algum motivo que lhe escapava naquele momento, ele a possuiu sem pressa, desfrutou de cada milímetro daquele corpo macio , esbelto e bem cuidado; ela , por sua vez, não demonstrou estar ali por ser o que era, uma prestadora de serviço , uma garota de programa.
Parecia o reencontro de dois amantes, do soldado que retorna da guerra após três ou quatro anos em que ambos estiveram numa secura dos infernos.
Mirella, agora Vanessa, não disse” não” uma única vez durante todo o tempo. Fizera tudo o que Dimas lhe pediu, inclusive algo que ela nunca havia aquiescido antes, sempre alegando não poder molhar o cabelo, de tomarem banhos juntinhos. Embaixo da ducha, mesmo depois de quase uma hora de carícias e de todo tipo de esfregação e bolinação e fodelança e chupança possíveis, tudo começou novamente; uma ereção muito forte, muitos e muitos beijos, sexo oral e ... nova enxurrada de hormônios nas coxas de Mirella ou Vanessa...
Talvez nem ela soubesse bem que era naquele momento; pelo menos era isso o que ele gostaria que fosse verdade...
De volta para cama, já com o tempo do programa pra lá de estourado, deitaram juntinhos e ficaram conversando com o rosto muito próximos um do outro, ela com as longas pernas enroscadas nas suas. Conversaram como namorados. Não se lembrava de ter tido nenhum momento parecido com aquele com a sua ex mulher. Sentiu , em inúmeros momentos, por parte dela, um tipo de carinho, de ternura que jamais poderia ter esperado de uma garota de programa. E, ali, naquele momento, esqueceu de todo o lixo em que sua vida havia se transformado e conseguiu relaxar um pouco.
Depois de alguns instantes, ela diz que precisa ir embora, e fala de uma forma quase que como se estivesse se desculpando. Ela se levanta, se veste enquanto os dois conversam sobre assuntos triviais, dando risadas. Ela já estava vestida, procurando a bolsa enquanto Dimas pediu que ela tomasse alguma coisa com ele antes de ir embora; ela vestida, ele completamente pelado; tomam um pouco de vinho branco, e ele ainda arrancou mais uns beijos maravilhosos e molhados antes que ela saísse.
Claro que ela acabou indo embora mesmo, com direito a uma crise nervosa de risadas , na acepção da palavra , já que o psicopata do Dimas a seguiu nu em pelo até a porta do elevador.
Voltou para o apartamento se sentindo completamente revigorado, quando olha para o criado mudo e vê a sua carteira. Vanessa foi embora, e ele não tinha feito o pagamento do seu cachê. Abriu a carteira, conferiu a quantia que havia em dinheiro e não faltava um único real. Seu cartão de crédito e talão de cheques estavam lá; deu uma examinada rápida nas gavetas , no armário para ver se havia algum sinal de alguém que poderia ter mexido. Nada. Não faltava nada. A chave do carro? Estava lá também, e conferiu mesmo sabendo que era inútil, já que ela mesma estava de carro e havia dito isso.
Sentou no sofá e esperou um pouco. Ela não tardaria a voltar, quando desse por si. Ou pelo menos ligaria, já que deveria ter o número da sua chamada na bina de seu celular.
No entanto, Vanessa não fez nem uma coisa nem outra.
Naquele momento, três dias após, em seu escritório, fingia trabalhar, ler o que lhe cabia ler, tratar o que deveria tratar, mas havia uma questão para a qual não encontrava resposta. Uma pergunta que não podia mais calar.
Porque ela não voltou?
Porque não lhe ligava?
E ele? Ligava para ela? Não ligava? Esperava mais uns dias, para não dar pinta de que estava com vontade de vê-la novamente? Que, aliás, estava desesperado para encontrá-la de novo, de tê-las nos braços?
Ou ligava para perguntar como faria para pagar o programa que haviam feito, que tinha parecido para ele tudo, menos um programa?
Percebeu então que estes tipos de perguntas, de questionamentos, eram muito reveladores e ele, agora , bebia uma de uma água que, como putanheiro experiente que sempre fora, sempre havia dito que nunca beberia.
Dimas havia se apaixonado por uma puta.
Dimas agora era um BOP. Dos bravos, por sinal.
Apavorante...
Autor: Fortimbrás