Filho de pais milionários, o norte-americano Percival Farquhar nasceu na Pensilvânia, dia 19 de outubro de 1864. Engenheiro civil, formado pela Universidade de Yale, EUA, desfrutava de grande prestígio em Wall Street, na Bolsa de Valores de Nova York. Foi graças a esse prestígio que se tornou vice-presidente da Atlantic Coast Elétrica Railway Company e da Staten Island Eletric Railway, que controlavam o serviço e bondes na cidade de Nova York.
Ao raiar do século XX, Percival Farquhar já era diretor da Companhia de Eletricidade de Cuba e vice-presidente da Guatemala Railway, e lançou-se à construção de seu grande sonho: controlar todo o sistema ferroviário da América-Latina. A partir de 1904, começou a construir seu império brasileiro, quando, ainda sem conhecer o Brasil, comprou a Rio de Janeiro Light & Power Company e as concessões da Societé Anonyme du Gaz. No ano seguinte, comprou, na Alemanha, a Brasilianische Elektriztatsgesellshft, empresa que deu origem à Companhia Telefônica Brasileira. Em 1905, organizou a Bahia Tramway Ligth & Power Companhy e obteve a concessão das obras do porto de Belém do Pará. No ano seguinte, ganhou a licitação para a construção da estrada de ferro São Paulo / Rio Grande do Sul, comprou vinte e sete por cento das ações da ferrovia Mogiana e trinta e oito por cento das da Paulista, ambas em São Paulo. Em seguida, constituiu as empresas Companhia de Navegação do Amazonas, Amazon Development Company, e Amazon Land & Colonization Company.
Em 1907 fundou a empresa The Madeira-Mamoré Railway Company e adquiriu do brasileiro Joaquim Catramby, os direitos de construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, na qual aplicou, inicialmente, onze milhões de dólares. Empreendedor decidido, o “Último Titã”, como era chamado pela imprensa norte-americana, além de comandar a épica construção da ferrovia Madeira-Mamoré foi o responsável pelo surgimento da cidade de Porto Velho, na madeira em que, naquele ano autorizou à empreiteira May, jeckyll & Randolph a transferir a estação inicial da estrada de ferro Madeira-Mamoré, do povoado de Santo Antônio, pertencente ao mato Grosso, para o local situado a sete quilômetros cachoeira abaixo, em terras do Amazonas. Com essa decisão, ele não apenas alterou a rota e a distância dos pontos extremos da ferrovia, como proporcionou o surgimento de Porto Velho como núcleo habitacional. Para isto, contratou, em Belém, mais de uma centena de trabalhadores para o desmatamento da área onde seriam implantados o centro administrativo, a estação inicial da ferrovia, as oficinas e as casas para técnicos e operários. Em 1908, ordenou que fossem traçadas ruas e avenidas com a finalidade de organizar a cidade que ele imaginava surgir. No entanto, o criador de Porto Velho jamais esteve na região. Baseava-se exclusivamente em Belém, de onde comandava seu império amazônico.
Percival Farquhar continuou ampliando seus domínios no Brasil. Em 1911, fundou a Southerm Brazil Lumber & Colonization, com o objetivo de explorar madeira em larga escala no Paraná. Para construir a estrada de ferro São Paulo / Rio Grande do Sul, recebeu do governo federal uma faixa de terra de trinta quilômetros de largura, equivalente a 180 mil hectares, que atravessava quatro Estados, São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grandes do Sul, onde instalou dezenas de serrarias e explorava o comércio de madeira.
A partir de então, gerou-se um problema de graves proporções. A Southern Brazil Lumber & Colonization, subsidária da Brazil Railway Company, também de propriedade de Farquhar, utilizou em exército de jagunços e expulsou os posseiros da região para, mais tarde, vender as terras a colonos portugueses e alemães. Além disso, essa empresa contratou milhares de homens no Rio de Janeiro e em Pernambuco, para trabalharem nas obras da ferrovia São Paulo / Rio Grande do Sul e na exploração da madeira. No final das obras, demitiu oito mil operários e não os reconduziu aos seus Estados de origem. Formou-se assim, uma massa de desempregados, humilhados e arruinados que reacenderam a velha questão do Contestado, uma briga de limites entre Santa Catarina e o Paraná, iniciada em 1747, de caráter religioso, que haja sido ganha pacificamente por Santa Catarina, em 1904.
Percival Farquhar, na ânsia de dominar tudo, foi um dos principais responsáveis pela reativação da guerra civil do Contestado, que custou ao Brasil três mil contos de réis, uma verdadeira fortuna na época, cinco anos de luta e vinte mil homens mortos.
Visando ampliar seus domínios nas terras rondonienses e dinamizar as ações da empresa The Madeira-Mamoré Railway Company, ele comprou dois grandes seringais: o Seringal Júlio Muller State, que se estendia do rio Mutum-Paraná até Guajará-Mirim, e o Seringal Guaporé Rubber State, cuja área abrangia de Guajará-Mirim à localidade de Príncipe da Beira. Também comprou em 1912, a Fazenda do Descalvado com cem mil reses, no sertão dos Parecis, adquirida do sindicato belga “Produtis Cibilis”.
Percival Farquhar lançou a base para o início de inúmeros serviços públicos, como gás e iluminação, Telefonia, Hotelaria, Madeireiras e Empresas e sistemas aduaneiros, havendo construído inúmeras obras de grande vulto, como cais de portos, ferrovias, etc., sendo digno de reconhecimento por parte do Brasil, que deve ter, com esse empresário, uma dívida de gratidão, como pode ser verificado pela análise do patrimônio de Percival Farquhar no início do século e pela percepção de que muitas dessas companhias (ou suas sucessoras após o fim da "Era-Farquhar") prestaram e ainda prestam serviços valiosíssimos ao País:
38% das ações da Cia Paulista de Estradas de ferro;
27% das ações da Cia Mogiana de Estradas de Ferro;
A Estrada de Ferro Sorocabana, de 1910 a 1920;
As ferrovias do Rio Grande do Sul (2.100 km);
A Estrada de Ferro Paraná;
A Estrada de Ferro Norte do Paraná;
A Estrada de ferro Dª Tereza Cristina, em Santa Catarina;
A Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande;
A Companhie Auxiliaire des Chémins de Fer au Brésil (R.S.);
Serviço de bondes de Salvador.;
Havia incorporado:
Rio de Janeiro Light and Power Co.;
São Paulo Tranway Light and Power Co.;
Brasilianische Elektrizitätsgesellschaft (Cia Telefônica Brasileira);
Bahia Gás Co.;
Bahia Tranway Light and Power Co.;
Cia Française du Port de Rio Grande do Sul;
E mais:
Concessão das obras do Porto de Belém;
Concessão para as obras da Estrada de Ferro Madeira Mamoré;
Companhoa de Navegação do Amazonas;
Direitos da E. F. Vitória a Minas;
A "Compagnie du Port de Rio de Janeiro";
A "Southern Lumber and Colonization Co.", possuidora da maior serraria da América do sul na época e fato gerador da "Guerra do Contestado", na região Sul do País;
A "Amazon Devellopment Co";
A "Amazon Land and ColonizationCo.";
67.000 alqueires de fazendas de gado em Descalvado (São Paulo) e no Pantanal;
Hotéis no Rio de Janeiro e São Paulo;
Loteamentos em Santa Catarina;
Indústrias de papel;
O primeiro frigorífico do Brasil (o atual Frigorífico wilson).
É inegável que ele desfrutava de imenso prestígio no Brasil. Em reconheciemnto por seus serviços, o governo brasileiro concedeu-lhe sessenta mil quilômetros quadrados de terras no extremo norte do país. Nada menos que todas as terras formadoras do Amapá. Mas, o azar de Percival Farquhar foi a bolsa de valores de Nova York. Em 1913, por dificuldades financeiras ou ambição, não se sabe ao certo, ele jogou todos os seus títulos e perdeu tudo. Ficou arruinado, mas não se afastou do Brasil. Seis anos depois, fundou a Itabira Iron Ore Company e, como última investida, criou a Acesita.
No dia 04 de agosto de 1953, o ex-dono do Brasil e da Madeira-Mamoré, responsável pelo surgimento de Porto Velho como núcleo habitacional, faleceu em Nova York, aos 89 anos de idade, após uma cirurgia mal sucedida no cérebro, na simples condição de diretor assalariado de suas ex-empresas, que fundou e perdeu em Wall Street.