Literatura – HQ´s - História – Filosofia –

Espaço para postagem de assuntos de teor cultural (TV, Rádio, Leitura, Eventos/Exposições e afins).

Regras do fórum
Responder

Resumo dos Test Drives

FILTRAR: Neutros: 0 Positivos: 0 Negativos: 0 Pisada na Bola: 0 Lista por Data Lista por Faixa de Preço
Faixa de Preço:R$ 0
Anal:Sim 0Não 2
Oral Sem:Sim 0Não 2
Beija:Sim 0Não 2
OBS: Informação baseada nos relatos dos usuários do fórum. Não há garantia nenhuma que as informações sejam corretas ou verdadeiras.
Mensagem
Autor
Maestro Alex
Forista
Forista
Mensagens: 14523
Registrado em: 17 Mai 2005, 13:43
---
Quantidade de TD's: 8
Ver TD's

#91 Mensagem por Maestro Alex » 22 Mar 2006, 20:18

BOCAGE...

SONETO (DES)PEJADO

Num capote embrulhado, ao pé de Armia,
Que tinha perto a mãe o chá fazendo,
Na linda mão lhe foi (oh céus) metendo
O meu caralho, que de amor fervia:

Entre o susto, entre o pejo a moça ardia;
E eu solapado os beijos remordendo,
Pela fisga da saia a mão crescendo
A chamada sacana lhe fazia:

Entra a vir-se a menina... Ah! que vergonha!
"Que tens?" — lhe diz a mãe sobressaltada:
Não pode ela encobrir na mão langonha:

Sufocada ficou, a mãe corada:
Finda a partida, e mais do que medonha
A noite começou da bofetada.

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Carnage
Forista
Forista
Mensagens: 14726
Registrado em: 06 Jul 2004, 20:25
---
Quantidade de TD's: 663
Ver TD's

#92 Mensagem por Carnage » 28 Mar 2006, 15:07

DEZ FRASES DE UM "REPOLHO"

Jornalista da revista Domingo, do Jornal do Brasil, enumera dez ítens a respeito do que "pensa" a juventude alienada dos dias de hoje, que o autor apelida como "repolhos"

Lula Branco Martins - da coluna Domingo Listas
Domingo - Jornal do Brasil - Rio de Janeiro, 13 de março de 2005.

Coisas que a garotada anda falando por aí, e que fazem, de cada um deles, uma verdura em potencial.

1. "ESTUDAR HISTÓRIA PRA QUÊ?"
É só isso que eles questionam na vida. Disciplinas como História, Filosofia e Literatura, as humanidades enfim, não fazem a cabeça dos jovens "repolhos". Dá a impressão que eles se bastam em sua ignorância.

2. "CHAPLIN? É MUITO CHATO!" (*)
É, eles acham chato tudo que é patrimônio cultural da humanidade. Deviam ser amarrados na cadeira, forçados a ver obras-primas.

3. "POLÍTICA E RELIGIÃO NÃO SE DISCUTEM"
Frase que os "repolhos" repetem pois não sabem nada, não se informam. Como então discutir alguma coisa?

4. "LER DÁ UMA DOR DE CABEÇA..."
Sim, pois a dita cuja está enferrujada. Porque esses vegetais não lêem livros, jornais e revistas, e aí ficam todos travados. (**)

5. SÓ NO BRASIL MESMO!"
Bordão que os "repolhos" levarão para a vida adulta se não se interessarem em conhecer melhor o que acontece pelo mundo.

6. "NÃO OUÇO BEATLES, NÃO SÃO DO MEU TEMPO."
Nem Beatles, nem Tom (Jobim), nem (Johann Sebastian) Bach (***). Nenhum clássico é do tempo de um "repolho" que só ouve bodegas na TV.

7. "PAPO INTELECTUAL ME DEIXA IRRITADO"
Claro, afinal de contas, pensar, refletir, criticar e questionar deve machucar demais essas cabecinhas de verdura.

8. "OOOOI, TEM ALGUÉM NA SALA?"
Melhor frase deles na Internet. Daí em diante é gatinho pra cá e "como você é" pra lá (****), numa grande rede de repolhagem virtual.

9. "QUE CORPO SARADO!"
Ninguém diz que um amigo ou amiga tem uma "cabeça sarada". Só corpo vale. Não percebem que as mentes estão doentes.

10. "NUM SEI..."
O professor pergunta: "Entendeu?". O aluno balança a cabeça e diz: "Entendi". O mestre prossegue: "Explica!". O "repolho" não consegue.



RETRATO DE UM "REPOLHO" (Exclusivo de "Faxina Cultural")

1. São altamente temperamentais. Não raro, gostam de ficar irritadinhos, porque acham que com isso a adrenalina está em alta e eles se sentem temidos por outras pessoas.

2. Têm um ritmo frenético de vida, daí o gosto por uma cultura descartável que eles julgam permanente, em detrimento de uma cultura permanente que eles odeiam e julgam descartável. Com isso, perdem a noção exata do tempo. Um ano para eles é como se fosse um milênio. Se Daniella Cicarelli sumir da mídia durante uma semana, eles pensam que ela caiu em ostracismo.

3. São reacionários, e por trás do visual altamente arrojado, cheio de tatuagens, piercings, visual "maluco" e uma linguagem altamente coloquial que eles usam até quando são entrevistados para emprego, possuem ideais conservadores. São apenas adeptos da libertinagem sexual, mas fora isso eles atacam a esquerda, que eles julgam "inoperante", atacam a geração dos anos 60 (que é a de seus pais ou avós), porque se "desperdiçou em causas inúteis", e só curtem hardcore quando sua temática se reduzir a carinhas legais e garotas gostosas (tipo a música do CPM 22). Não vamos nos esquecer que eles são protegidos pela pouca idade. Hoje eles dizem defender a "justiça social" e a "rebeldia juvenil", mas quando completarem 40 anos, eles ocuparão cargos de liderança e irão reprimir protestos estudantis com tropas de choque.

4. O tipo de música que eles ouvem é o menos melódico possível e o mais catártico impossível. O nível de variação dos ídolos entre esses jovens é pequeno: Charlie Brown Jr., Britney Spears, CPM 22, Backstreet Boys, 50 Cent, Linkin Park, Zezé Di Camargo & Luciano, Sandy & Júnior, Chiclete Com Banana, Rapazolla, DJ Marlboro, Marilyn Manson, Limp Biskit, Eminem. Se esses ídolos, todavia, saírem da mídia, eles serão logo esquecidos pelos mesmos "repolhos", tal como ocorreu com o "eterno" e "inabalável" Guns N'Roses, que até pouco tempo integrava a galeria dos "inatacáveis" citada neste parágrafo.

5. Arrogantes, chamam qualquer um que discordar de seus pontos de vista de "imbecil". Não sabem, e não querem saber, que os imbecis são eles mesmos.

6. Seu perfil é exatamente o perfil de playboys, mauricinhos, patricinhas e outros tipos "folclóricos" atuais. Mas vai uma pessoa racional usar um adjetivo para defini-los e eles vão reagir com um e-mail antipático - que, se depender da alta adrenalina do remetente, pode vir com um vírus de presente para o computador do destinatário - dizendo que eles odeiam os estereótipos que eles mesmos representam. Neste sentido, Gabriel O Pensador não foi muito feliz em "Retrato de um playboy". A principal caraterística de um playboy é não se assumir como tal e atacar os playboys de outra freguesia. Neste sentido, Chorão do Charlie Brown Jr. é um verdadeiro retrato de um playboy.

7. Gostam de programas de tevê e rádio caraterizados pela "irreverência". "Pânico da Pan", "Do Balacobaco", "Hora dos Perdidos", "Rock Bola" e "Estádio 97" são alguns de seus preferidos. Odeiam rádio segmentado, embora finjam gostar. Não ouvem rádio AM e pouco se lixam de sua crise. Dizem que a TV aberta está ruim, mas dão apoio a ela (em especial Ratinho, Luciano Huck, João Kleber e os "gurus" do Pânico na TV, o mesmo 'Pânico da Pan' do rádio). Emissoras de rádio prediletas: 89 FM (São Paulo), Jovem Pan 2 Sat, Rede Transamérica, Rádio Cidade (RJ), Mix FM e Energia 97 (ambas de SP).

8. Odeiam o passado. O primeiro contato que eles agora têm com o passado é através do revival dos anos 80. No entanto, fora o Rock Brasil, tudo o que eles relembram da década de 80 corresponde unicamente a referenciais da infância ou da cultura trash. Nenhuma menção existe sobre a redemocratização do Brasil, que em 1985 saiu do já cansativo regime militar.



10. Não costumam ter autocrítica. Quando muito, percebem os erros quando é tarde demais. Ficam felizes com suas vidas alienadas porque são muito jovens e acham que, com as técnicas e dietas de preservação da aparência divulgadas na mídia, serão jovens a vida inteira (e olha que muitos deles descuidam da saúde, bebendo até cair no chão e fumando maconha). Mas um dia ficarão bem mais velhos do que imaginam e, se tiverem uma vida longa (o que, pelos excessos, é muito difícil), e aí sentirão melancolia por sua vida vazia, que perderá o sentido com o aparecimento das primeiras rugas e do desaparecimento da cor nos fios de cabelo.

NOTAS DO "FAXINA CULTURAL"

(*) Se fosse Chapolin, aquele herói brega do mesmo comediante mexicano de Chaves (SBT), para essa juventude alienada seria bem melhor, adequado à vocação brega e trash que tem a "galera" (note as aspas dessa gíria).

(**) E eles tentam escrever blogs falando sobre o que não sabem, com um português errado, com ranços de mirquês (tipo dizer "vc q sb" quando uma pessoa racional diria "você que sabe"), etc.. Não gostam de ler, mas ainda se sentem ofendidos quando alguém diz que tais "repolhos" não são inteligentes. "Como não, seu imbecil? Eu vou com a galera toda pra praia, na maior balada, com esportes radicais e tudo, sacou?", é o que provavelmente diria uma "erva daninha" (o tal "repolho") dessas.

(***) E nem The Who, Rolling Stones, Deep Purple, Led Zeppelin, AC/DC, e daqui a algum tempo nem Ramones, nem The Clash, nem Smiths, nem Iron Maiden, nem The Police, nem sequer Legião Urbana. Cortesia dos "repolhos" que por sinal ouvem a rádio dos mesmos patrões de Lula Branco Martins, a Rádio Cidade, uma das rádios mais ridículas, arrogantes e conservadoras do país, sintonizável em 102,9 mhz do Rio de Janeiro e na Internet pelo endereço http://www.radiocidade.fm.

(****) Isso descontando besteiras aberrantes tipo "e aí galera, blz?" (blz="beleza"), "vamo pra balada?", "show de bola, mermão", "essa é déiz" e outras "pérolas" do colóquio oficial da repolhagem "radical".
1

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Maestro Alex
Forista
Forista
Mensagens: 14523
Registrado em: 17 Mai 2005, 13:43
---
Quantidade de TD's: 8
Ver TD's

#93 Mensagem por Maestro Alex » 03 Abr 2006, 11:23

PREOCUPANTE

fonte revista Época

EDUCAÇÃO

Um país que não lê

O Brasil tem índices humilhantes de leitura. E o problema não está no preço do livro. Está na escola


BAIXA PROCURA Mesmo as raras bibliotecas de qualidade, como a Mário de Andrade, em São Paulo, não têm filas na porta nem mesas lotadas
Na última década, praticamente todas as crianças brasileiras em idade escolar foram matriculadas. A taxa nacional de analfabetismo também recuou. Hoje, cerca de 98% dos jovens brasileiros conseguem escrever o próprio nome ou ler um letreiro de ônibus. Mas o país ainda está alguns capítulos atrás do aceitável em termos educacionais. Dados da Câmara Brasileira do Livro (CBL) mostram que, em média, cada brasileiro lê o equivalente a 1,8 livro por ano. Longe do que se vê em países como França e Estados Unidos, onde cada pessoa lê de cinco a sete livros por ano. Em rankings internacionais de leitura de países ricos ou em desenvolvimento, o Brasil é lanterninha, atrás de outros latinos como Argentina e México. Um terço dos alunos brasileiros de 1a a 4a série nunca pegou espontaneamente um livro para ler.

Um dos argumentos mais usados para justificar isso é o preço do livro. Não é uma explicação convincente. Cerca de 45 milhões de lares no país têm TV em cores. A mais barata sai por R$ 300, o que equivale a um pacote de livros. Além disso, as bibliotecas públicas e das escolas - quando existem - são pouco usadas. Os motivos populares para a aversão nacional ao livro são revelados por um levantamento da CBL. As justificativas mais citadas pelos entrevistados são a falta de tempo, o desinteresse e a pura preguiça. O quarto motivo: eles preferem outras formas de entretenimento. A razão menos citada é falta de dinheiro.

Essa vergonha assumida tem origem na escola. "Os brasileiros não lêem simplesmente porque não sabem ler", afirma Ilona Becskeházy, diretora da Fundação Lemann, um instituto de pesquisa educacional. Segundo o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, apenas 2,5% dos alunos do ensino médio da Região Norte têm nível adequado de leitura. No Sudeste, os resultados também são ruins. Apenas 7,6% dos alunos têm nível adequado de leitura.


PROJETO DE ENSINO
Na Amazônia, alunos adquirem hábito de ler com a ajuda
de ONG

Um dos problemas é a falta de biblioteca na escola. Segundo o Ministério da Educação, metade dos alunos que estudam no ensino fundamental tem acesso a elas. No Nordeste, esse índice é ainda mais baixo. As bibliotecas estão disponíveis para somente 35,2% das crianças e dos adolescentes. Mas não basta rechear as estantes. É preciso também desenvolver o hábito de ler.

Essa é a chave de um projeto simples, criado por três garotas de São Paulo, a Expedição Vaga-Lume. Além de montar bibliotecas comunitárias em regiões distantes da Amazônia, elas investem na formação de professores, pais e alunos, para incutir neles o prazer de ler e contar histórias. "O brasileiro adora novelas. Elas nada mais são que histórias, que também estão contidas nos livros. É isso que mostramos às pessoas e que as faz mudar de comportamento", diz Sylvia Guimarães, da Vaga-Lume.

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Maestro Alex
Forista
Forista
Mensagens: 14523
Registrado em: 17 Mai 2005, 13:43
---
Quantidade de TD's: 8
Ver TD's

#94 Mensagem por Maestro Alex » 04 Abr 2006, 18:29

William Shakespeare

TRABALHOS DE AMOR PERDIDOS

Mas o amor, primeiro aprendido em uns olhos de mulher,
Não vive sozinho fechado na cabeça,
Mas, com a agilidade de todos os elementos,
Corre com a rapidez de nossos pensamentos
E dá a cada faculdade dupla potência,
Acima de suas funções e seus ofícios.
Acrescenta preciosa visão aos olhos;
Os olhos de um amante vêem mais longe que uma águia;
Os ouvidos de um amante ouvem o mais tênue som,
Que passa despercebido ao ladrão cauteloso:
O tato do amor é mais fino e sensível
Que as sensitivas antenas do caracol;
Ao paladar do amor desagradam os petiscos vulgares de Baco.
Pela coragem, não é o amor um Hércules
Ainda galgando as árvores nas Hespérides?
Sutil como a Esfinge; doce e musical
Como o alaúde do brilhante Apolo,
Encordoado com seus cabelos;
E quando o Amor fala, a voz de todos os deuses
Deixa os céus estonteados com a harmonia.
Nunca deve o poeta tocar um pena para escrever
Até que sua tinta seja temperada pelos suspiros do Amor.

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Maestro Alex
Forista
Forista
Mensagens: 14523
Registrado em: 17 Mai 2005, 13:43
---
Quantidade de TD's: 8
Ver TD's

#95 Mensagem por Maestro Alex » 04 Abr 2006, 20:02

mais um soneto W. Shakespeare

SONETO CV

Não chame o meu amor de Idolatria
Nem de Ídolo realce a quem eu amo,
Pois todo o meu cantar a um só se alia,
E de uma só maneira eu o proclamo.
É hoje e sempre o meu amor galante,
Inalterável, em grande excelência;
Por isso a minha rima é tão constante
A uma só coisa e exclui a diferença.
'Beleza, Bem, Verdade', eis o que exprimo;
'Beleza, Bem, Verdade', todo o acento;
E em tal mudança está tudo o que primo,
Em um, três temas, de amplo movimento.
'Beleza, Bem, Verdade' sós, outrora;
Num mesmo ser vivem juntos agora.

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Maestro Alex
Forista
Forista
Mensagens: 14523
Registrado em: 17 Mai 2005, 13:43
---
Quantidade de TD's: 8
Ver TD's

#96 Mensagem por Maestro Alex » 04 Abr 2006, 20:50

um pouco de mitologia...

Afrodite
(Aphrodite)

De acordo com uma das tradições a respeito de seu nascimento, Afrodite seria filha de Zeus e de Dione. Mas uma versão mais antiga conta que os órgãoes sexuais de Urano, cortados por Cronos, teriam caído ao mar e dado origem à deusa. E ainda numa terceira versão, ela teria nascido da espuma do mar.

Após surgir na superfície das águas marinhas, Afrodite foi levada pela força dos ventos à Citera e depois à costa do Chipre, onde as Horas a receberam, vestiram e enfeitaram, conduzindo-a depois para a morada dos imortais (Olimpo).

As lendas a respeito de Afrodite são muitas e às vezes divergentes. A deusa teria se casado com Hefesto, o deus coxo de Lemnos, embora amasse Ares, o deus da guerra. Dos seus amores adúlteros nasceram Eros (cupido) e Anteros, Deimos e Fobos (o Terror e o Medo) e a Harmonia.

Afrodite tinha um temperamento irascível, era vingativa e possuía um cinturão mágico bordado cujo nome era Cestus (do grego kestós, que significa picado, bordado). Este cinto tinha a propriedade de inspirar o amor. Uma outra variante diz que Afrodite possuía uma fita bordada de desenhos variados que ela usava cingindo o seio, onde residem todos os encantos. Ali estão a ternura, o desejo e a conversação amorosa sedutora que enganam o coração dos mais sábios.

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Tricampeão
Forista
Forista
Mensagens: 13803
Registrado em: 22 Set 2005, 16:06
---
Quantidade de TD's: 56
Ver TD's

#97 Mensagem por Tricampeão » 04 Abr 2006, 21:04

maestroalex escreveu:Afrodite tinha um temperamento irascível
De acordo com Homero, a Guerra de Tróia teria sido causada, em última análise, pela ira de Afrodite por Páris ter julgado que Helena era mais bonita que a própria deusa. Também nos relata o bardo que os olhos da perva divina eram de um azul acinzentado.

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

DragonballZ
Forista
Forista
Mensagens: 1061
Registrado em: 12 Nov 2005, 23:49
---
Quantidade de TD's: 63
Ver TD's

#98 Mensagem por DragonballZ » 05 Abr 2006, 00:12

Tricampeão escreveu:
DragonballZ escreveu:
Tricampeão escreveu:
maestroalex escreveu:Afrodite tinha um temperamento irascível
De acordo com Homero, a Guerra de Tróia teria sido causada, em última análise, pela ira de Afrodite por Páris ter julgado que Helena era mais bonita que a própria deusa. Também nos relata o bardo que os olhos da perva divina eram de um azul acinzentado.
Caríssimo, pelo que me lembro, a Guerra de Tróia foi realmente provocada pelos caprichos celestiais. Mas Afrodite ofereceu a Páris, Helena( a mais bela das humanas) como recompensa de ser escolhida entre as três Deusas: Atena, Hera e Afrodite.
Provavelmente minha memória me traiu, é o que dá cismar em ficar velho. Mas realmente não rolou uma revolta de alguma preterida, não?
Pois é a memória é falha p/ nós humanos. Não quer dizer que somos velhos. A discórdia e ira dos Deuses, é que Páris; aquele fraldinha FDP, escolheu Afrodite como a mais bela das belas devido ao presente que a vencedora ofereceu(Helena) a ele. Vale a pena lembrar que esta resposta deveria ser respondida pos ZEUS, que como senhor dos céus, putanheiro e querendo tirar o seu da reta nomeou Páris p/ tal decisão. Vale lembrar ainda que Hera é mulher de Zeus, Atena é sua filha e Afrodite, sua "amante"dentre outras mais.
Daí a discórdia. Mulher e filha do homem ficaram Putas da vida pois a amante ganhou o título e prêmio que era uma maçã de ouro. Como Deusas femininas são vaidosas e como humanas resolveram se vingar de Afrodite, mas no plano dos mortais. Ai é uma outra história.
Abs, Tricampeão(do morumbi, espero)
DBZ

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Maestro Alex
Forista
Forista
Mensagens: 14523
Registrado em: 17 Mai 2005, 13:43
---
Quantidade de TD's: 8
Ver TD's

#99 Mensagem por Maestro Alex » 05 Abr 2006, 09:47

RELIGIÃO

A igreja invisível

O que está por trás da cientologia, a misteriosa religião de astros como Mimi Rogers, Chick Corea, John Travolta e Tom Cruise?

Ricardo Amorim

PREGADOR
Tom Cruise faz propaganda da religião, mas evita as entrevistas sobre o assunto
No dia 22, o primeiro episódio da décima temporada de South Park registrou nos Estados Unidos a maior audiência da série em quatro anos. O motivo foi a exploração de um tema polêmico entre os americanos, mas praticamente desconhecido no Brasil: a Igreja da Cientologia. Os roteiristas do desenho animado aproveitaram o pedido de demissão do cantor de soul Isaac Hayes, que dublava a voz do personagem Chef, para fazer piada com a religião. Hayes decidiu se retirar do elenco depois da exibição, em novembro do ano passado, de outro episódio que satirizava a cientologia.

Adepto da igreja, o cantor afirmou que o seriado praticava atos de 'intolerância e fanatismo religioso'. O que chama a atenção é o fato de Hayes ter, até então, tolerado e participado das mais politicamente incorretas piadas com praticamente todas as demais religiões. O caso acabou revelando uma faceta pouco conhecida de uma das mais fechadas religiões do planeta.

A Igreja da Cientologia é uma religião peculiar. Ao mesmo tempo que precisa divulgar sua doutrina e atrair novos fiéis, costuma fugir aos questionamentos do mundo exterior e poucos são os adeptos que conhecem a fundo seus preceitos.

CRIADOR
Hubbard, fundador da religião, testa o eletropsicômetro em um tomate
O seguidor mais famoso, o ator americano Tom Cruise, corre o mundo pregando as maravilhas da cientologia nos eventos da igreja. Mas não gosta de dar entrevistas sobre o assunto. Quando cede, invariavelmente discute com o repórter. Recentemente, ele se envolveu em uma polêmica com a editora Wenner Media, que edita a revista Rolling Stone nos EUA. Cruise sairia na capa de outra publicação do grupo, mas desistiu depois que a Rolling Stone trouxe uma extensa reportagem sobre os bastidores da cientologia. Seu agente nega haver relação entre os fatos. Mas o longo histórico de choques entre os cientologistas e a imprensa americana empresta credibilidade à versão do rompimento unilateral.

No Brasil, a dificuldade da cientologia em crescer passa justamente pela falta de famosos que lhe dêem publicidade. De acordo com declarações da ministra Lucia Winther, principal líder da religião no Brasil, há 15 mil simpatizantes no país. O número de templos é reduzido. Há apenas duas igrejas em São Paulo e outra em Jundiaí, no interior paulista. O material de divulgação é extenso.

A Editora Ponte já traduziu mais de 50 publicações e 400 CDs com palestras e informações sobre os fundamentos da cientologia. 'Eu vejo a cientologia crescer no Brasil. A cada ano que passa, mais e mais pessoas descobrem os seus benefícios', disse Lucia a ÉPOCA.

Fundada em 1954 por Lafayette Ronald Hubbard (1911-1986), um escritor de livros de ficção científica, a cientologia mistura elementos de várias religiões, como hinduísmo, budismo e cristianismo. Os fiéis acreditam que a vida na Terra começou com uma deportação interplanetária em massa.

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Warum
Forista
Forista
Mensagens: 1341
Registrado em: 05 Jan 2006, 18:47
---
Quantidade de TD's: 10
Ver TD's

#100 Mensagem por Warum » 05 Abr 2006, 12:33

Caro Maestro, prefiro esta igreja, estou pensando seriamente em me tornar sacerdote da Primeira Igreja Presleyteriana de Elvis, o Divino.

Como dica de filme tem o filme Elvis Ainda Não Morreu, tem im cadillac cor de rosa na capa. òtimo filme e uma boa introdução ao culto do noso Messias. rsrsrsrsrsrsrsrsrs

No céu com Elvis
Fãs congregados em seitas chamadas presleyterianas adoram o rei do rock and roll como o filho de Deus

LU GOMES

Em Graceland – a mansão onde Elvis morou em Memphis (no Tennessee, não no Egito), hoje transformada numa lucrativa mistura de tumba faraônica, shopping center religioso e meca do rock – a decoração natalina permanece por mais alguns dias para que dezenas de milhares de fãs comemorem seu nascimento em 8 de janeiro de 1935. A expectativa para este ano é de que a maluquice se repita em uma escala maior. Até porque o culto ao rei está tomando proporções inacreditáveis. Em seu nome estão sendo fundadas seitas e uma nova versão do testamento circula com Elvis tal qual Jesus. A peregrinação não é só mental. Imitadores têm se submetido a cirurgias plásticas para se transformar em cópias do ídolo.

O rei do rock and roll morreu em 16 de agosto de 1977. Mas este não foi o final da história – a morte de Elvis Aaron Presley, na verdade, representou mais um grande passo na sua gloriosa carreira. Como acontecia com os fa-raós, Elvis deixou de ser rei para tornar-se uma divindade, um santo adorado pelos fãs de todo o planeta – e com isso conseguir vender mais discos e bugigangas do que quando estava vivo. Quando morreu, seu patrimônio foi avaliado em US$ 7 milhões. Hoje, os negócios que usam seu nome em vão geram US$ 300 milhões por ano.

Elvis Presley nasceu numa família pobre na cidadezinha de Tupelo, Mississippi, o gêmeo sobrevivente de um parto difícil. A vida do filho único e precioso de Vernon e Gladys Presley foi o sonho americano. De um berço humilde ele se ergueu para se tornar o maior astro mundial da música pop. E agora ele está sendo transformado em um messias, sua vida sendo comparada à de Jesus Cristo. Elvis veio ao mundo numa gelada noite de inverno, em um barraco de madeira pouco maior do que um estábulo. Seu pai, que era meio mio-lo mole, contou que no instante do seu nascimento “uma forte luz azul brilhou sobre a casa”. E um livro intitulado The new, improved testament, que faz uma releitura do Novo Testamento, afirma que três bluesmen apareceram guiados por essa luz levando oferendas ao recém-nascido: guitarra, pasta de amendoim e anfetaminas.

Obra divina – O próprio Elvis acreditava que seu súbito e avassalador sucesso só podia mesmo ser obra divina e, talvez pelo efeito das drogas que consumia, estava convencido de que era mesmo um messias, um daqueles seres privilegiados que surgem uma vez a cada milênio para iluminar uma civilização. Hoje seus devotos se autodenominam “presleyterianos” e estão abrindo igrejas em lugares “sagrados”, como Memphis e Las Vegas, e na Internet.

Não se pode saber entre os presleyterianos quem está enganando quem. A Primeira Igreja de Jesus Cristo Elvis foi fundada pelo artista Chris Ryell, que criou imagens de Presley no estilo católico clássico, sobrepondo o rosto do cantor ao de Jesus. A Primeira Igreja Presleyteriana de Elvis o Divino, em Denver (Colorado), proclama representar “a única religião que será importante no próximo milênio”. O negócio não surgiu como uma igreja de verdade, mas acabou ganhando vida própria e está sendo levada cada vez mais a sério – tanto que está reivindicando junto ao Congresso americano um feriado nacional em homenagem ao rei do rock. O dia do seu aniversário é a data proposta. “A falta de um feriado para Elvis é uma desgraça nacional”, lamenta o dr. Karl Edwards, co-fundador da igreja. “Um selo de correio não basta; os Estados Unidos devem reconhecer a poderosa obra de Elvis com um feriado oficial. Precisamos trazer o país de volta ao sagrado Espírito do Rock.”

Aproveitando o embalo, o dr. Edwards ainda questiona o valor de outros feriados do calendário americano que homenageiam uma variedade de figuras históricas. “Quantos discos de ouro teve Geor-ge Washington?”, provoca. Ele ainda espera contar com o apoio presidencial e argumenta: “Bill Clinton até se parece com o Elvis gordo dos últimos anos e tenho certeza de que ele é um presleyteriano devotado.”

Sacerdócio – Mas a divindade do rei está mais bem traduzida por um simbolismo que ultrapassa a noção de ícone da Idade Média, quando em vez de estátuas numa igreja temos como emblema da sua santidade uma legião de efí-gies vivas em seus imitadores. Essas esquisitas figuras nascidas do culto a Elvis, que só encontram paralelo nos emuladores de Charles Cha-plin, não são simples imitadores, mas replicantes que rezam segundo o evangelho de São Xerox. Algumas dessas efígies humanas são tão dedicadas à identidade do ídolo que, como os transexuais, submeteram seus corpos à cirurgia plástica para realçar ainda mais a semelhança com Elvis.

Para muitos fãs, esses imitadores de Elvis tornaram-se uma espécie de sumo sacerdotes da nova religião. David Moore, por exemplo. Ele imita Elvis em sua fase crepuscular e diz que faz isso por vocação: “Desde quando tinha cinco anos, sinto uma forte ligação com Elvis e quero que as pessoas saibam como aquele homem era bondoso.” Como outros fãs, Moore dedica-se a trabalhos de caridade em memória de Elvis, mas seu sacerdócio não chega a ser como o de alguns imitadores de Memphis e Las Vegas, que realizam casamentos em nome de Elvis.

O reverendo Tommy Foster é o responsável pela Primeira Igreja dos Imitadores de Elvis, em Memphis, com altares e santuários dedicados ao cantor. “No dia dos namorados casamos até 30 casais”, orgulha-se ele. Em Vegas, casamentos são celebrados por um Elvis balofo cantando Viva Las Vegas e com os casais trocando votos recitando as letras de suas canções românticas.

Imagens, peregrinações e locais sagrados são comuns a quase todas as tradições religiosas. Mas as comparações não param por aí. O fã Robert Campbell nos fala das revelações de Elvis e suas visões apocalípticas. Ele garante que Elvis é Emanuel, “o único filho gerado que Deus prometeu nos enviar”, e acredita piamente que ele irá voltar para o juízo final, o que deve acontecer dentro de uns dez anos. Camp-bell compara as escrituras sagradas com a vida de Elvis. “Na Bíblia está escrito que quando Cristo foi posto em seu túmulo, foi envolto em uma mortalha. Elvis foi enterrado em uma mortalha de cobre. Cristo foi enterrado por seu amigo José e quem cuidou do funeral de Elvis foi seu amigo Joseph B. Samuel. Cristo ressuscitou três dias depois e o corpo de Elvis foi ‘sequestrado’ três dias depois de enterrado e desde então tem sido visto por muitas pessoas.”

Os fãs estão mitificando Elvis e tentando expressar em linguagem religiosa o que ele significava para suas vidas, exatamente como foi feito com Jesus Cristo e Maomé. Apesar de parecer muito estranho, essas pessoas estão convictas de haver encontrado o sagrado em Elvis Presley. E, por Elvis ser um ícone do século XX, ele continua vivo em seus filmes e em sua música, podendo ser ressuscitado por qualquer um apenas com o toque de um botão.

Warum

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Tricampeão
Forista
Forista
Mensagens: 13803
Registrado em: 22 Set 2005, 16:06
---
Quantidade de TD's: 56
Ver TD's

#101 Mensagem por Tricampeão » 05 Abr 2006, 14:33

DragonballZ escreveu:
Tricampeão escreveu:
DragonballZ escreveu:
Tricampeão escreveu:
maestroalex escreveu:Afrodite tinha um temperamento irascível
De acordo com Homero, a Guerra de Tróia teria sido causada, em última análise, pela ira de Afrodite por Páris ter julgado que Helena era mais bonita que a própria deusa. Também nos relata o bardo que os olhos da perva divina eram de um azul acinzentado.
Caríssimo, pelo que me lembro, a Guerra de Tróia foi realmente provocada pelos caprichos celestiais. Mas Afrodite ofereceu a Páris, Helena( a mais bela das humanas) como recompensa de ser escolhida entre as três Deusas: Atena, Hera e Afrodite.
Provavelmente minha memória me traiu, é o que dá cismar em ficar velho. Mas realmente não rolou uma revolta de alguma preterida, não?
Pois é a memória é falha p/ nós humanos. Não quer dizer que somos velhos. A discórdia e ira dos Deuses, é que Páris; aquele fraldinha FDP, escolheu Afrodite como a mais bela das belas devido ao presente que a vencedora ofereceu(Helena) a ele. Vale a pena lembrar que esta resposta deveria ser respondida pos ZEUS, que como senhor dos céus, putanheiro e querendo tirar o seu da reta nomeou Páris p/ tal decisão. Vale lembrar ainda que Hera é mulher de Zeus, Atena é sua filha e Afrodite, sua "amante"dentre outras mais.
Daí a discórdia. Mulher e filha do homem ficaram Putas da vida pois a amante ganhou o título e prêmio que era uma maçã de ouro. Como Deusas femininas são vaidosas e como humanas resolveram se vingar de Afrodite, mas no plano dos mortais. Ai é uma outra história.
Abs, Tricampeão(do morumbi, espero)
DBZ
Isso explica por que Atena protege tanto os gregos quando estes vão foder com os troianos. Valeu, DBZ, vamos combinar que você resume a Ilíada pra me dar um descanso? Ainda faltam duas óperas pra fechar o ciclo dos nibelungos.
Na verdade, sempre confundi Afrodite com Atena. Nem preciso dizer que quem tem olhos azuis acinzentados é esta última, né?
Já que estamos aqui falando de mitologia grega e de confusões e esquecimentos, acrescento que a deusa da memória é Mnemosyné, e suas filhas, as musas, taí o Hesíodo que não me deixa mentir.

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Maestro Alex
Forista
Forista
Mensagens: 14523
Registrado em: 17 Mai 2005, 13:43
---
Quantidade de TD's: 8
Ver TD's

#102 Mensagem por Maestro Alex » 05 Abr 2006, 14:48

Mnemosýne e lesmosýne:
os atributos das Musas em Hesíodo


Nove filhas nascidas do grande Zeus:
Glória, Alegria, Festa, Dançarina,
Alegra-coro, Amorosa, Hinária, Celeste
e Belavoz, que dentre todas vem à frente (2).
Hesíodo. Teogonia vv. 75-79.


Na crítica de Platão a Homero encontra-se em questão o papel do aedo (aoidós) como educador. O filósofo tem, para com o poeta, uma atitude ambígua: ele ao mesmo tempo o elogia e o critica. Reconhece-o como educador dos gregos, mas censura o efeito que suas composições podem ter na formação de jovens educados em uma cidade fundada sobre as virtudes da justiça e da temperança. O mesmo reconhecimento e a mesma atitude crítica, implícitas ou explícitas, em relação ao aedo, encontramos nos poetas, historiadores e filósofos que se apropriaram dele, já antes de Platão. A atitude crítica em relação a Homero mostra-se, portanto, não como exclusiva de Platão, mas como uma constante entre os pensadores gregos.

Mesmo entre os aedos, os relatos de Homero são tomados, seja como modelos para suas próprias composições, seja como contraponto aos valores defendidos pelos heróis. Hesíodo, seguidor, como Homero, da técnica do hexâmetro dactílico, será o primeiro a afastar-se da épica homérica, em razão não de sua forma, mas de seu conteúdo. Diferentemente de Homero, cujo parâmetro ético-político sustenta-se entre o heroísmo guerreiro e a confrontação com a vontade dos deuses, o tom da poesia hesiódica, por sua vez, é genuinamente moralizante, religioso e didático. No proêmio da Teogonia, encontramos um Hino às Musas, em tudo semelhante aos Hinos homéricos, cujo diferencial está na relação privilegiada que Hesíodo estabelece com as Musas.

A despeito de iniciar o proêmio da Teogonia (3), fazendo a habitual invocação às Musas, Hesíodo quebra com a tradição homérica alguns versos adiante, quando, definindo a nova condição do aedo, instaura-se como o porta-voz da divindade.

Elas (as Musas) certa vez, a Hesíodo, ensinaram belo canto
Quando ovelhas ele apascentava sob o Hélicon divino
(22-23) (Trad. Brandão. In: Hartog, 2001, p. 25).

Apesar de Hesíodo continuar nomeando a sua atividade como canto (aoidé) (4), a distinção entre ele, Homero e os demais aedos de sua época justifica-se de duplo modo: primeiro, pelo fato de as Musas dirigirem-se nominalmente a ele, e segundo, pela constatação de ter sido ele, o primeiro a assumir a autoria de seu trabalho (5). Na seqüência desta passagem, deparamo-nos com outra expressão pela qual o bardo define a atividade das Musas e a sua própria.

E a mim, antes de tudo, as deusas, estas palavras (mýthon) dirigiram
Musas Olimpíades, filhas de Zeus que tem a égide
(24-25) (Tradução de J.L. Brandão. p.25).

Quando Hesíodo emprega, no verso 24, a expressão mýthos (6) para indicar a palavra das Deusas para ele, esta "tem o sentido de palavra divina que se apresenta em forma de palavra humana e que por assim se apresentar revela o canto como fonte de conhecimento relativos ao sentido do ser e às formas divinas do mundo" (Torrano, 1987, p.9). Ao apresentarem-se para Hesíodo, as Musas habilitam-no como portador do conteúdo de seus discursos, assim como lhe revelam o seu próprio conhecimento acerca da origem, do gênero, do ser e do devir dos deuses do Olimpo.

"Pastores agrestes, maus opróbios (elénkhea), ventres só,
Sabemos muitas mentiras (pseúdea) dizer a fatos semelhantes (etýmoisin homoía)
E sabemos, quando queremos, verdades proclamar (alethéa gerýsasthai)"


Esse novo discurso é mais flexível, e nele Hesíodo vem anunciar o seu próprio critério de verdade com o aval das Musas (7). Se as Musas homéricas pronunciam "mentiras semelhantes a fatos verdadeiros", as Musas hesiódicas ultrapassam-nas em poder, pelo fato de permitirem-se não apenas proferir o discurso tradicional, mas ainda terem o privilégio de declarar "verdades". Detentoras desse atributo, elas transmitem-no ao aedo beócio, responsabilizando-o pela transmissão desse mýthos aos seus ouvintes. Hesíodo formaliza essa função ao afirmar:

E a mim, como cetro, deram um ramo de florido loureiro
Que cortaram, admirável
(30-31) (Trad. Brandão, p.25).

Devidamente habilitado (9), o aedo de Ascra passa a ter a competência e a autoridade necessárias para revelar os saberes das Musas entre os mortais.

Mas a magnanimidade das legítimas filhas de Zeus para com Hesíodo ultrapassa esse domínio, pois além de dotarem-no de seu próprio saber e, portanto, de sua própria verdade como o mesmo declara solenemente, estas

Insuflaram-me um canto
Divino, para que celebrasse o que será e o que foi antes
E mandaram-me hinear a raça dos ditosos que sempre são
E a elas primeiro e por último sempre cantar
(31-34) (Trad. Brandão, p.25).

Portador dessa insígnia admirável, o pastor ultrapassa a sua condição humana e transforma-se num homem divino, num profeta, capaz de desvendar os mistérios do futuro e do passado, graças ao poder divinatório e ontofânico das Musas, quando estas assim determinarem. Este dom da clarividência elas recebem de sua mãe, Memória (Mnemosýne). Só esta é capaz de resgatar os acontecimentos esquecidos e revelá-los às Musas. Estas, por sua vez irão transmiti-los a seus legítimos representantes no mundo dos homens, os aedos.

Diferençando-se de Homero que resgata e recria para sua época as leis, os costumes e as tradições do tempo passado, Hesíodo, por seu lado, além do passado, fala dos acontecimentos vivenciados por ele mesmo, em seu próprio tempo, e ainda do futuro. Como elo da corrente envolvendo Memória, as Musas e ele próprio, o mesmo beneficia-se dessa relação recebendo diretamente das divindades o dom de cantar o passado, o presente e o futuro, pois estas, no Olimpo,

a Zeus pai
hineando alegram o grande espírito no Olimpo
dizendo o presente, o futuro e o passado
vozes aliando (36-39).

Cantando infatigavelmente os fatos revelados por Memória, as Musas utilizam seu canto para alegrar e agradar o espírito de Zeus, o detentor da prudência (métis) entre os deuses e os homens (O Escudo 27-29), assim como estabelecem a oposição entre o mundo dos deuses do Olimpo e o mundo dos simples mortais. Tal habilidade as torna passíveis de reterem, da parte de Zeus, o dom da prudência e da sabedoria. Como resultado dessa mistura (migeîsa) entre reflexão e memória, as Musas encontram-se aptas tanto a rememorar como a esquecer as coisas sobres as quais falam. Ao dotar suas Musas dessa memória reflexionante, Hesíodo concede-lhes a capacidade de decidir não apenas sobre os fatos a serem lembrados ou esquecidos, mas acerca do conteúdo de seu discurso, onde elas tanto podem proferir verdades como mentiras.

Diferenciando-se das Musas homéricas, cujo canto promete ser verdadeiro, embora nem sempre os discursos de seus personagens representem verdades, como na aparição de Ulisses disfarçado de mendigo diante de Penélope na Odisséia (XIX100 ss.), as Musas hesiódicas anunciam sua dupla faculdade em pronunciar discursos verdadeiros ou mentirosos. Quando Hesíodo dá as Musas o poder de decisão sobre o discurso mais conveniente a ser utilizado, se aquele capaz de representar mentiras semelhantes a verdades, ou aquele apto a proclamar verdades, este realiza uma quebra com a tradição poética anterior a ele, onde o canto das Musas era marcado pelo critério de narrar mentiras semelhantes a fatos reais e não a verdade. O que Hesíodo parece condenar, através das Musas, não é o fato de a verdade ser adotada como juízo de valor, mas aqueles que, "em sua rudez, não distinguem pseúdea de aléthea, tomando tudo por verdadeiro" (Brandão, 2000, p.20).

Nessa correlação entre mentira (pseudés) e verdade (alethés), se verdade for tomada como a negação de esquecimento (léthe), isto é, como "coisas que se rememoram ou que se tiram do esquecimento" (Brandão, 2000, p.16), então teríamos dois níveis de antagonismos, compreendendo, por um lado, dizer mentiras (pseúdea légein) oposto a verdades proclamar (alethéa gerýsasthai) e, por outro, mentiras (pseúdea) contrapondo-se a fatos semelhantes (etýmoisin homoía). Mas esse jogo de palavras utilizado por Hesíodo e devidamente desmembrado por Brandão (2000, p.17), não é tão inocente assim e comporta uma estrutura maior, capaz de conter, em primeiro plano, a oposição entre mentira e fatos semelhantes e, secundariamente, o conteúdo dos fatos semelhantes contraposto ao de verdades proclamar. Não é uma mera oposição entre verdade e mentira, portanto, a discussão central dos versos 27 e 28, mas a valorização da verdade como um atributo específico das Musas.

Em Hesíodo, portanto, deparamo-nos com a mesma relação implícita entre a Musa e a Memória encontrada em Homero, assim como a mesma atribuição às Musas resultante da união entre Zeus e Memória.

Na Piéria gerou-as, da união do Pai Cronida,
Memória (Mnemosýne) rainha nas colinas de Eleutera,
Para oblívio (lesmosýnen) de males e pausa de aflições (53-55).

Frutos dessa mistura, as Musas têm a propriedade não apenas da memória (mnemosýne) como do esquecimento (lesmosýne). O esquecimento das Musas, porém, é seletivo. Afinal, elas foram geradas para esquecimento dos males e pausa dos sofrimentos. Como filhas de divindades tão opostas, elas trazem em si o poder da memória e da não-memória. Dotar as Musas de uma não-memória não significa representá-las desprovidas de toda e qualquer memória, mas dotá-las de uma memória mais organizada, mais seletiva, mais influenciada por Zeus, o responsável pela distribuição das honras e dos castigos, na ética hesiódica.
O impacto dessas reflexões acerca do caráter ambíguo das Musas certamente tem como alvo, embora indireto, Homero e, com ele, toda uma geração de aedos e rapsodos. Todo o proêmio da Teogonia parece ser delimitado pela preocupação em estabelecer um contraponto entre a relação de intimidade de Hesíodo com as Musas, a ponto de o canto das divindades confundir-se com os seus e, a relação de reverência e submissão de Homero às mesmas Musas. Distanciando-se do conteúdo da épica homérica, cuja narrativa centra-se, sobretudo, na ação humana, a Teogonia concentra sua temática no divino, mais especificamente em Zeus, cujo caráter organizador e ordenador transparece no canto das Musas:

Ele reina no céu
tendo consigo o trovão e o raio flamante,
venceu no poder o pai Crono e os imortais
bem distribuiu e indicou cada honra;
isto as Musas cantavam, tendo o palácio Olímpio
(71-75).

As Musas cantam para Zeus e ensinam para Hesíodo esse canto. Sentindo-se privilegiado em receber delas o dom sagrado de ser aedo, o bardo exulta:

Próspero é quem as Musas
Amam: doce lhe corre, da boca, a voz.
Pois se alguém, triste no ânimo recém-ferido,
Teme com aflito coração, tão logo o aedo,
Servo das Musas, a fama dos primeiros homens
Cante - e os ditosos deuses que têm o Olimpo,
Súbito esquece ele as aflições e de nenhuma preocupação
Se lembra: rápido o revolvem os dons das deusas
(96-103) (Trad. J. L. Brandão, 2001, p.25).

Hesíodo regozija-se de tal maneira com essa dádiva, a ponto de incorporar os atributos das Musas e julgar-se ele próprio apto a fazer seus ouvintes lembrarem ou esquecerem os seus descontentamentos e os seus desgostos. Nessa integração de seu canto com o das Musas, Hesíodo pede às Musas para suscitarem nele o mesmo canto divino da qual são dotados.

Alegrai, filhas de Zeus, daí ardente canto,
gloriai o sagrado ser dos imortais sempre vivos
(104-105).

Inebriado por esse canto divino, Hesíodo intercede às Musas para ajudarem-no a construir o seu canto humano, acerca da origem dos deuses, com o mesmo conteúdo de seus próprios cantos, pois só inspirado pelas divindades, este conseguirá narrar a genealogia dos deuses gregos.

Dizei-me isto, Musas que tendes o palácio Olímpio,
dês o começo e quem dentre eles primeiro nasceu (114-115).

Dessa similitude entre o canto das Musas e a Teogonia, Hesíodo "constitui a imagem terrena, humana e finita do canto celeste, divino e eterno das musas no Olimpo" . Afinal, as filhas de Memória e Zeus portam, de nascimento, a preocupação com o canto (Teogonia 60-61). Envolvidas por esse dom de cantar e alegrar os seres divinos serão elas que,

nas festas, pelas bocas amável voz lançando
dançam e gloriam a partilha e hábitos nobres
de todos os imortais, voz e bem amável lançando (65-67).

Ao cantarem para os mortais as leis (nómous) e os costumes (éthé) dos imortais, as Musas hesiódicas traçam o mesmo limite já antevisto em Homero, entre o domínio das leis e dos costumes humanos e os divinos. Embora o bardo comece a afastar-se da técnica predominantemente oral da poesia grega, ainda encontramos nele resquícios dessa prática. A poesia de Hesíodo ecoa, portanto, como a tentativa de tornar mais racionalizado o mundo dos deuses e dos homens. Sem dúvida, no percurso que vai de Hesíodo a Platão, estas questões serão retomadas e reformuladas incessantemente, porém será no projeto ético-político platônico da construção da cidade com palavras que a exigência de uma poesia pensada pela filosofia e, portanto, guiada por princípios críticos e racionais terá o seu pleno desenvolvimento.

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Maestro Alex
Forista
Forista
Mensagens: 14523
Registrado em: 17 Mai 2005, 13:43
---
Quantidade de TD's: 8
Ver TD's

#103 Mensagem por Maestro Alex » 05 Abr 2006, 17:40

Literatura erótica - Anaïs Nin e Henry Miller (que foram amantes) já tiveram que escrever pornografia para sobreviver em Paris...

Anaïs Nin e Henry Miller formaram um dos casais de amantes mais badalados da história de literatura. Durante anos eles misturaram sexo e literatura, realidade e ficção como nunca ninguém tinha feito antes. Na década de 40, durante a Segunda Guerra, Anaïs descolou para ela, Henry e alguns amigos um jabá muito interessante: escrever contos eróticos para um mecenas que jamais se identificou. No entanto, nem tudo eram flores. O “chefe” muitas vezes reclamava dos textos e exigia que eles deixassem de lado a “poesia” e se concentrassem somente na pornografia.

Esta carta de Anaïs para o milionário, é uma das definições mais deliciosas de erotismo, além de desmitificar a vida de artista e mostrar que emprego é emprego em qualquer lugar, época e profissão.


Querido Colecionador: Nós o odiamos. O sexo perde todo o seu poder e sua magia quando é explícito, rotineiro, exagerado, quando é uma obcessão mecânica. Transforma-se em tédio. O senhor nos ensinou melhor do que ninguém o erro de não misturar sexo com emoções, apetites, desejos, luxúria, fantasias, caprichos, vínculos pessoais, relações profundas que mudam sua cor, sabor, ritmo, intensidade.

Não sabe o que está perdendo com sua observação microscópica da atividade sexual, excluindo os aspectos que são seu combustível: intelectuais, imaginativos, românticos, emocionais. Isto é o que dá ao sexo sua surpreendente textura, suas transformações sutis, seus elementos afrodisíacos. O senhor reduz seu mundo de sensações, o faz murchar, mata-o de fome, dessangra-o.

Se nutrisse sua vida sexual com toda a excitação e aventura que o amor injeta na sensualidade, seria o homem mais potente do mundo. A fonte da potência sexual é a curiosidade, a paixão. O senhor está vendo sua chaminha extinguir-se asfixiada. A monotonia é fatal para o sexo. Sem sentimentos, inventividade, disposição, não há surpresas na cama. O sexo deve ser misturado com lágrimas, riso, palavras, promessas, cenas, ciúmes, invejas, todos os componentes do medo, viagens ao exterior, novos rostos, romances, histórias, sonhos, fantasias, música, dança, ópio, vinho.

Sabe quanto está perdendo por ter esse periscópio na ponta do seu sexo, quando poderia gozar um harém de maravilhas diferentes e novas? Não existem dois cabelos iguais, mas o senhor não nos permite perder palavras na descrição do cabelo; tampouco dois cheiros, mas se nos expandimos nisto, o senhor berra: Deixem a poesia de lado! Não existem duas peles com a mesma textura e jamais a luz, a temperatura ou as sombras são as mesmas, nunca os mesmos gestos, pois um amante, quando está excitado pelo amor verdadeiro, pode percorrer a gama de séculos de ciência amorosa. Que variedade, que mudanças de idade, que variações na maturidade e na inocência, na perversão e na arte…!

Temos nos sentado durante horas nos perguntando como é o senhor. Se tem negado aos seus sentidos seda, luz, cor, cheiro, caráter, temperamento, agora deve estar completamente murcho. Há tantos sentidos menores fluindo como afluentes ao rio do sexo, nutrindo-o. Só a pulsação unânime do sexo e do coração juntos pode criar êxtase.

Anaïs Nin

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Maestro Alex
Forista
Forista
Mensagens: 14523
Registrado em: 17 Mai 2005, 13:43
---
Quantidade de TD's: 8
Ver TD's

#104 Mensagem por Maestro Alex » 05 Abr 2006, 23:18

Voltando ao tema de Anaïs Nin... ela era devassa...

trecho do Diario II

É o papel de Fred, inconscientemente, envenenar minha felicidade. Ele enfatiza as incongruências do amor de Henry. Eu não mereço um amor pela metade, diz ele. Mereço coisas extraordinárias. Mas o meio amor de Henry vale mais para mim do que todos os amores de mil homens.

Imaginei por um momento um mundo sem Henry. E jurei que no dia que perder Henry, eu matarei minha vulnerabilidade, minha capacidade para o verdadeiro amor, meus sentimentos, com a devassidão mais frenética. Depois de Henry não quero mais amor. Só foder, por um lado, e solidão e trabalho, por outro. Nada mais de mágoa.

Depois de não ver Henry por cinco dias por causa de mil obrigações, não pude suportar. Pedi a ele para se encontrar comigo durante uma hora entre dois compromissos. Conversamos por um momento, então fomos para um quarto do hotel mais próximo. Que necessidade profunda dele. Só quando estou em seus braços as coisas parecem direitas. Depois de uma hora com ele, pude continuar o meu dia, fazendo coisas que não quero fazer, vendo pessoas que não me interessam.

Um quarto de hotel, para mim, tem a implicação de voluptuosidade, furtiva, fugaz. Talvez o fato de não ver Henry tenha aumentado a minha fome. Eu me masturbo frequentemente, com luxúria, sem remorso ou repugnância. Pela primeira vez eu sei o que é comer. Ganhei dois quilos. Fico desesperadamente faminta, e a comida que como me dá um prazer duradouro. Nunca comi desta maneira profunda e carnal. Só tenho três desejos agora: comer, dormir e foder. Os cabarés me excitam. Quero ouvir música rouca, ver rostos, roçar-me em corpos, beber um Benedictine ardente. Belas mulheres e homens atraentes provocam desejos em mim. Quero dançar. Quero drogas. Quero conhecer pessoas perversas, ser íntima delas. Nunca olho para rostos inocentes. Quero morder a vida e ser despedaçada por ela. Henry não me dá tudo isso. Eu despertei o seu amor. Maldito seja o seu amor. Ele sabe foder como ninguém, mas eu quero mais que isso.

Eu vou para o inferno, para o inferno, para o inferno.

Selvagem, selvagem, selvagem.



Trecho do Diário de Anais Nin

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Maestro Alex
Forista
Forista
Mensagens: 14523
Registrado em: 17 Mai 2005, 13:43
---
Quantidade de TD's: 8
Ver TD's

#105 Mensagem por Maestro Alex » 06 Abr 2006, 10:18

Mais um escritor devasso... Charles Bukowski

Talvez seja cedo para chamar de tradição, mas neste século vários escritores deixaram de lado a necessidade de criar personagens para contar suas histórias. Seja Henry Miller, atormentado por dúvidas, perdido em Paris, à beira de uma loucura iminente, ou então Jack Kerouac, tentando reproduzir o ritmo frenético com que tentava captar a velocidade da vida, os autores se transformaram em personagens e nunca mais foi simples diferenciar o que era realidade do que era ficção.

Henry Charles Bukowski, nascido em 16 de agosto de 1920, na cidade alemã de Andernach, foi uma criança atormentada por um pai extremamente autoritário e frustrado, que descontava seus problemas o espancando pelos motivos mais fúteis. Quando atingiu a adolescência, somou-se a este problema o fato de ter o rosto e toda a parte superior do corpo literalmente tomada por inflamações que o obrigaram a submeter-se a tratamentos médicos no hospital público de sua cidade.

A falta de carinho familiar e a humilhação de ter um rosto deformado obrigaram o pobre Charles a fugir. Abandonou a escola para só voltar um ano depois. Neste meio tempo descobriu duas coisas que o ajudaram a tornar sua vida suportável: o álcool e os livros. Começou a escrever, mas quando seu pai descobriu seus contos o expulsou de casa. Iniciou assim uma vida errante, trabalhando em empregos temporários em várias cidades americanas, bebendo em excesso e escrevendo alucinadamente.

O produtos destas noites e mais noites de trabalho era enviado para as mais diversas publicações literárias independentes dos Estados Unidos, mas quase sempre recusados. A editora da revista Harlequin, Barbara Frye, no entanto, estava convencida de que Bukowski era um gênio. Começaram a se corresponder e, em determinado momento, Frye declarou que nenhum homem nunca se casaria com ela. Bukowski respondeu simplesmente: “Eu me casarei”. Casaram-se logo depois de se conhecerem pessoalmente. Mas tão rápido quanto se conheceram, separaram-se.

A gênese de um mito

Até este momento, Charles Bukowski era apenas um poeta iniciante – apesar de ter quase quarenta anos. Se seus poemas eram bons ou ruins não vem ao caso (sim, elas já eram bons. Para quem quiser conferir, basta ler The Roominghouse Madrigals – Early Selected Poems 1946-1966). Mas foi a partir de sua separação que começou a surgir a imagem de Bukowski que o tornaria famoso, seu alter ego Henry Chinaski. Como bem disse Jim Christy, autor do livro The Buk Book, “ele havia sido um vagabundo, um imprestável, um proletário, um bêbado; bem, que fosse. Claro, outros trabalharam o mesmo território, mas o que diferenciava Bukowski do resto deles – os Knut Hamsuns, Jack Londons, Maxim Gorkys e Jim Tullys – era que Bukowski era engraçado.”

Trabalhando esta imagem, Bukowski conseguiu criar um mito ao seu redor. Sim, um mito no sentido estrito da palavra, como pode-se ver pela própria definição do Aurélio: “representação de fatos ou personagens reais, exagerada pela imaginação popular, pela tradição etc.”. Talvez não fizesse questão disto ou nem mesmo conseguisse imaginar que isto fosse possível, afinal seu personagem era tudo, menos inspirador.

Bem, pelo menos assim parecia. Mas a vida é irônica, e Chinaski, Bukowski, Buk, Hank, ou qualquer outro nome pelo qual quiserem chamá-lo, conquistou primeiro os Estados Unidos, depois o mundo.

Confissões de um homem insano suficiente para viver entre bestas

Apesar do inegável sucesso que Bukowski detém ainda hoje, mesmo depois de cinco anos de sua morte, sua independência não se deu da noite para o dia. Depois de sua separação com Barbara Frye, ele voltou a trabalhar nos Correios de onde só saiu em 1970, quando John Martin, prometeu-lhe uma quantia fixa por mês para que ele só escrevesse; algo em torno de cem dólares mensais, que continuou pagando até o fim da vida de Buk, quando os direitos autorais de seus livros já lhe rendiam milhões.

Nesta época, John Martin era apenas um admirador da obra de Bukowski, sem nenhuma experiência no ramo editorial. Apostou todas suas fichas no dirty old man, o primeiro contratado da Black Sparrow Press que ele havia fundado recentemente. Mas em pouco tempo viu seus riscos muito bem recompensados.

Sob influência de Martin, Bukowski sentou-se para escrever seu primeiro romance, Cartas na Rua (Post Office), sobre sua experiência nos Correios. O livro foi escrito em apenas 20 dias. Uma eternidade se comparado aos três que Kerouac diz ter levado para escrever o clássico Pé na Estrada, e nem chega a ser sua obra-prima. Mas sem esta primeira incursão pelos romances, não teríamos Factotum, Mulheres, Mixto Quente ou Hollywood. Cada um a sua maneira, uma pequena pérola autobiográfica que cobre praticamente toda a sua vida de forma magistral.

Shakespeare nunca fez isto

Uma vida muito pouco compreendida pelos seus fãs, conforme o próprio Bukowski lamenta em Notas de um velho safado: “o público retira de um escritor, ou de um texto escrito, o que ele precisa e deixa o restante passar. Mas o que eles retiram é geralmente o que eles precisam menos e o que eles deixam passar é o que eles mais precisam.”

Neste caso específico, Buk se refere ao sexo. Mais adiante, na mesma coluna (na verdade, Notas de um velho safado é uma coletânea da coluna homônima publicada no jornal independente Open Press, no final dos anos 60), ele diz, em seu estilo pouco delicado: “o sexo é interessante mas não é totalmente importante. quero dizer, não chega nem mesmo a ser tão importante (fisicamente) quanto a excreção. Um homem pode chegar aos 70 anos sem uma buceta, mas pode morrer em uma semana sem um movimento dos intestinos.”

Hank teve uma vida muito solitária. As noites eram passadas bebendo e escrevendo, “tocando o piano bêbado, como um instrumento de percussão até os dedos começarem a sangrar um pouco” (Bukowski chamava sua máquina manual Underwood de piano, só depois de se mudar para San Pedro, com sua segunda mulher, Linda Lee Beighle, em 1983, ele passou a usar um computador). Passava anos sem nenhuma companhia, transava raramente e até mesmo evitava companhias.

Só depois do sucesso literário, Bukowski conseguiu desfrutar uma espécie de “sucesso entre as mulheres”. Ele pode ter sido um gênio, mas nunca foi santo, claro que aproveitou. Mas ao ler suas poesias, seus contos, seus romances, suas colunas, suas cartas ou qualquer coisa que ele possa ter escrito em vida deve-se perceber a beleza e sensibilidade por trás das palavras rudes. Bukowski foi, ao mesmo tempo, um gentleman e um clown, só que preferia se passar apenas pelo último.

Charles Bukowski morreu de pneumonia em 9 de março de 1994, contraída durante um tratamento de leucemia. Foi enterrado em Green Hills Memorial Park, em San Pedro, e em seu túmulo, abaixo de seu nome lê-se apenas "Não tente." Porque não Buk? Não pode ser tão ruim assim... um brinde a você!

Link:
Esconder link da mensagem
🔗

Responder

Voltar para “Lazer & Cultura”