Literatura – HQ´s - História – Filosofia –

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#106 Mensagem por Maestro Alex » 06 Abr 2006, 13:46

Pra quem gosta de ler uma boa putaria...

Henry Miller
Um militante contra a hipocrisia

Poucos escritores causaram tanto escândalo em seu tempo, e mesmo além dele, quanto o americano Henry Miller. Nascido em 1891, Miller escolheu Paris para viver, mas não como os bem sucedidos autores que residem na Cidade Luz, usufruindo da fama. Henry Miller tinha quase 50 anos quando publicou seu primeiro livro, Tropic of Cancer, uma narrativa confessional como as de Santo Agostinho ou Rousseau, mas baseada em suas experiências com as prostitutas francesas.

Nenhum escritor soube valorizar tanto a putaria como ele. Havia um rito sacro e mistérios cósmicos em cada trepada descrita. O sucesso foi imediato, e a censura também. O livro foi proibido em várias partes do mundo, e foi o que o promoveu, é claro. Na década de 30 a descrição crua do sexo, embora apaixonada e sincera, feria suscetibilidades. O livro passou a ser referência para masturbações adolescentes, e sua dimensão artística foi sufocada. Mas Miller chegara para ficar, e logo lançou "Tropic of Capricorn".


A sexualidade desenfreada

Para Henry Miller, descrever os homens em seu sexualismo extremo era uma obrigação da literatura moderna, conforme suas próprias palavras numa entrevista: "na realidade pouca revolta de qualquer espécie é permitida ao homem moderno. Ele já não age, ele reage. Ele é a vítima que, afinal, veio a ser apanhada na sua própria armadilha".

Em seus livros, Miller dá ao sexo uma dimensão sacra. Os personagens chafurdam na lama, são descritos com franqueza quase pornográfica, mas com tal naturalidade de estilo e humor que assumem uma grandeza indiscutível. A crítica literária européia saudou Miller como a culminância de uma corrente literária que remonta ao século XVIII.


A crucificação encarnada

Henry Miller tornou-se um clássico absoluto quando publicou a trilogia "Sexus, Plexus, Nexus", que ele chamou "A Crucificação Encarnada". Como nos outros livros, esses romances narram trechos de sua própria vida, embora ele negasse. Sobre seu processo, declarou: "fiz uso, ao longo desses livros, de irruptivos assaltos ao inconsciente, tais como sonhos, fantasia, burlesco, trocadilhos pantagruélicos, etc, que emprestam à narrativa um caráter caótico, excêntrico, perplexo". Tudo isso é verdade, mas também o é que Miller vivia na pândega e descrevia isso.


Bancarrota espiritual

O que faz afinal com que a literatura de Henry Miller seja forte, crua, sem ser vulgar, pornográfica? Aliás, essa é uma matéria para se colocar na discussão: o que é pornografia? Ou ainda, o que configura um texto pornográfico? Bem, Miller costumava dizer que vivemos numa bancarrota espiritual. O que ele queria dizer com isso? Que o homem se afastara de sua dimensão profunda, e só a liberação da carne poderia conduzir-lhe de volta ao convívio com a própria alma. As prostitutas, por rifarem o seu corpo com tal desprendimento, seriam as mais puras porque nada mais lhes restava que não a dimensão espiritual. Uma tese ousada, mas que Henry Miller, o americano boêmio que rolava pelas ruas de Paris, defende com brilhante prosa de ficção.


Os discípulos

Henry deixou uma legião de discípulos em todo o mundo, existe até um grego que mora na rua Prado Júnior, no Rio de Janeiro, chamado Alexei, se não me falha a memória, que tem vários livros em seu estilo, e foi casado com Elke Maravilha, sua musa nos romances. Mas outros mais famosos também admitem a filiação estilística, o poeta e prosador inglês Lawrence Durrel é um deles. Escritor de alto nível, é mais sofisticado do que Miller, e escreveu uma obra prima chamada "O Quarteto de Alexandria". Outro que lembra muito Miller é Charles Bukowski, americano que viveu também na sarjeta do sexo e do álcool.

Enfim, o mundo nunca mais será o mesmo depois de Henry Miller. Vale a pena lê-lo, ainda hoje.


O que há para ler:

A maioria de seus livros ainda pode ser encontrada nos sebos da cidade; são eles: Trópico de Câncer, Trópico de Capricórnio, Sexus, Plexus e Nexus, Sexo em Clichy e Pesadelo Refrigerado (impressões dos EUA).

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Maestro Alex
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#107 Mensagem por Maestro Alex » 06 Abr 2006, 15:59

Voltando ao tema... mais um escritor maldito...

CHARLES BAUDELAIRE


Baudelaire marcou com sua presença as últimas décadas do século XIX, influenciando a poesia internacional de tendência simbolista. De sua maneira de ser originaram-se na França os poetas "malditos". De sua obra derivaram os procedimentos anticonvencionais de Rimbaud e Lautréamont, a musicalidade de Verlaine, o intelectualismo de Mallarmé, a ironia coloquial de Corbière e Laforgue.
Poeta e crítico francês, Charles-Pierre Baudelaire nasceu em Paris em 9 de abril de 1821. Desavenças com o padrasto forçaram-no a interromper seus estudos, iniciados em Lyon, para uma viagem à Índia, que interrompeu nas ilhas Maurício. Ao regressar, dissipou seus bens nos meios boêmios de Paris, onde conheceu a atriz Jeanne Duval, uma de suas musas. Outras seriam, depois, Mme. Sabatier e a atriz Marie Daubrun. Endividado, foi submetido a conselho judiciário pela família, que nomeou um tutor para controlar seus gastos. Baudelaire permaneceu sempre em conflito com esse tutor, Ancelle.
Acontecimento capital na vida do poeta é o processo a que foi submetido em 1857, ao publicar Les Fleurs du mal (As flores do mal). Além de condená-lo a uma multa por ultraje à moral e aos bons costumes, a justiça obrigou-o a retirar do volume seis poemas. Só a partir de 1911 apareceram edições completas da obra.
Mal compreendida por seus contemporâneos, apesar de elogiada por Victor Hugo, Teóphile Gautier, Gustave Flaubert e Théodore de Banville, a poesia de Baudelaire está marcada pela contradição. Revela, de um lado, o herdeiro do romantismo negro de Edgar Allan Poe e Gérard de Nerval, e de outro o poeta crítico que se opôs aos excessos sentimentais e retóricos do romantismo francês.
Uma nova estratégia da linguagem. Quase toda a crítica moderna concorda que Baudelaire inventou uma nova estratégia da linguagem. Erich Auerbach observou que sua poesia foi a primeira a incorporar a matéria da realidade grotesca à linguagem sublimada do romantismo. Nesse sentido Baudelaire criou a poesia moderna, concedendo a toda realidade o direito de ser submetida ao tratamento poético.
A atividade de Baudelaire se dividiu entre a poesia, a crítica literária e de arte e a tradução. Seu maior título são Les Fleurs du mal, cujos poemas mais antigos datam de 1841. Além da celeuma judicial, o livro despertou hostilidades na imprensa e foi julgado por muitos como um subproduto degenerado do romantismo.
Tanto Les Fleurs du mal como os Petits poèmes en prose (1868; Pequenos poemas em prosa), depois intitulados Le Spleen de Paris (1869) e publicados em revistas desde 1861, introduziram elementos novos na linguagem poética, fundindo o grotesco ao sublime e explorando as secretas analogias do universo. Para fixar a nova forma do poema em prosa, Baudelaire usou como modelo uma obra de Aloïsius Bertrand, Gaspard de la nuit (1842; Gaspar da noite), se bem tenha ampliado em muito suas possibilidades.
Crítica de arte e traduções. Baudelaire destacou-se desde cedo como crítico de arte. O Salon de 1845 (Salão de 1845) e o Salon de 1846 (Salão de 1846) datam do início de sua carreira. Seus escritos posteriores foram reunidos em dois volumes póstumos, com os títulos de L'Art romantique (1868; A arte romântica) e Curiosités esthétiques (1868; Curiosidades estéticas). Revelam a preocupação de Baudelaire de procurar uma razão determinante para a obra de arte e fundamentam assim um ideário estético coerente, embora fragmentário, e aberto às novas concepções.
Extensão da atividade crítica e criadora de Baudelaire foram suas traduções de Edgar Allan Poe. Dos ensaios críticos de Poe, sobretudo "The Poetic Principle" (1876; "O princípio poético"), Baudelaire tirou as diretrizes básicas de sua poética, voltada contra os excessos retóricos: a exclusão da poesia dos elementos de cunho narrativo; e a relação entre a intensidade e a brevidade das composições.
Ainda um outro Baudelaire é o revelado em suas obras especulativas e confessionais. É o caso de Les Paradis artificiels, opium et haschisch (1860; Os paraísos artificiais, ópio e haxixe), especulações sobre as plantas alucinógenas, parcialmente inspiradas nas Confessions of an English Opium-Eater (1822; Confissões de um comedor de ópio) de Thomas De Quincey; e de Journaux intimes (1909; Diários íntimos) -- que contém "Fusées" (notas escritas por volta de 1851) e "Mon coeur mis a nu" ("Meu coração desnudo") --, cuja primeira edição completa foi publicada em 1909. Tais escritos são o testamento espiritual do poeta, confissões íntimas e reflexões sobre assuntos diversos.
Quer pelo interesse inerente a sua grande poesia, quer pelos vislumbres que essas confissões propiciam, Baudelaire se destaca entre os poetas franceses mais estudados por ensaístas e críticos. Jean-Paul Sartre situou-o como protótipo de uma escolha existencial que teria repercussões no século XX, enquanto a crítica centrada nas relações históricas, como a de Walter Benjamin, dedicou-se a examinar sua consciência secreta de uma relação impossível com o mundo social.
Após uma existência das mais atribuladas, Baudelaire morreu de paralisia geral em Paris em 31 de agosto de 1867, quando mal começava a ser reconhecida sua influência duradoura sobre a evolução da poesia.

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Kakinho
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#108 Mensagem por Kakinho » 06 Abr 2006, 16:05

AMADO, Jorge. Os Pastores da Noite


A linguagem exerce um papel importante na sociedade, pois através dela, o homem se constitui como sujeito, estabelece as relações sociais, retrata o conhecimento de si próprio e do mundo no qual está inserido. Pela linguagem, podemos reconhecer e diferenciar o usuário dos diferentes agrupamentos, estratos sociais, grau de escolaridade, entre outros aspectos: É um parâmetro que permite classificar o indivíduo de acordo com a sua nacionalidade e naturalidade, sua condição econômica ou social, é freqüentemente usado para discriminar e estigmatizar o falante. (LEITE, 2002: 7)

Todas as camadas sociais se utilizam de um veículo comum: a língua que é um traço de interação entre os membros de uma comunidade, é uma forma ideal que impõe a todos os falantes de um mesmo grupo social. (PALHANO, 1958: 11)

A língua das classes subalternas, por ser usada por grupos sociais estigmatizados, por muito tempo, ficou relegada ao esquecimento pelas classes detentoras do poder que usavam a língua como forma de oprimir e de negar aos excluídos a voz que as insere no processo social.

Não podemos falar em classes subalternas, considerando as relações de subalternidade apenas no ponto de vista social e econômico. Devemos, acima de tudo, pensar na linguagem, pois há uma ligação entre ela e os fatores étnico - culturais.

O falar das classes populares, como frases feitas, provérbios, palavras e expressões, vindo da boca do povo e ouvido nas ruas, nos ambientes marginalizados, representa um papel essencial, principalmente quando se refere ao vocabulário de uma língua.

É na literatura que pode ocorrer uma descrição perfeita da variação lingüística, porque a linguagem é, para o autor, um elemento expressivo do retrato social, do ambiente e dos personagens. Como sabemos, há mais de 70 anos, a literatura brasileira nacionalizou suas obras por meio de temas e linguagens nacionais. Acreditamos que este “grito” tenha sido dado por Mário de Andrade, nos prenúncios do Modernismo, uma vez que sua obra aproximava - se da linguagem do povo e trabalhava com temas populares.

Esta temática é aprofundada com a geração de 30, composta pelos nordestinos Rachel de Queirós, Jorge Amado, Graciliano Ramos e José Lins do Rego, destacando - se também, em outra temática, o gaúcho Érico Veríssimo. Era a prosa regionalista. Não mais apenas na descrição geográfica e cultural da prosa romântica, mas uma narrativa de cunho social, retratando as classes marginalizadas, como o cortador de cana, o sertanejo fugindo da seca, os trabalhadores do cacau entre outros.

Se a linguagem é o “cartão - postal” do usuário, tais escritores foram buscar nela conhecimentos que ajudaram para a descrição das variações lingüísticas de seus personagens. Esses conhecimentos propiciaram um retrato sociolingüístico da realidade daquele momento, com o qual compuseram um painel.

A variação lingüística na literatura, a meu ver, fundamentando - me em Brigth (apud. Pretti. 2000:16) ocorre em três dimensões: A primeira - envolve a identidade social do emissor ou do falante. É exemplificada pelo autor com os dialetos sociais em que as diferenças de fala se correlacionam com a estratificação social; a segunda compreende a identidade social do receptor; a terceira - engloba todos os elementos relevantes possíveis no contexto da comunicação.

Vale destacar também outras dimensões, apontadas pelo autor, a saber: a quarta - engloba os processos de investigação sociolingüística na perspectiva sincrônica ou diacrônica, a quinta: aborda os contrastes entre o uso da linguagem pelas pessoas e o que elas acreditam sobre o comportamento lingüístico delas e das outras. A sexta - trata da extensão da diversidade lingüística, a sétima que aplica os estudos sociolingüísticos. (BRUGTH, 1966: 11-15. In. PRETTI: 2000: 12)

Nestas dimensões inter-relacionadas, está nítida a concepção de uma linguagem condicionada pelos seus usuários, inserida num contexto sócio-político - histórico - econômico.

Falar na realidade lingüística das classes subalternas, presentes nas obras literárias, é retratar a vida dos personagens, as relações de trabalho - patrão e empregado - e, com elas, todo o mecanismo da sociedade humana a partir das trocas lingüísticas o que levou Wilbur Marshall Urban a afirmar que: (PRETTI, op. cit. 14)

A vida meramente não tem sentido. Poder - se - ia pensar que somos capazes de apreender ou intuir diretamente a vida, mas seu sentido não pode captar nem expressar - se a não ser numa linguagem, seja ela qual for. Tal expressão ou comunicação é parte do próprio processo vital.[...] Num sentido bem objetivo, os limites da minha linguagem são os limites do mundo.

As classes subalternas foram os proprietários da produção romanesca da década de 30, na qual destacamos a obra de Jorge Amado. Nascido em 1912, em Itabuna - região cacaueira da Bahia - desde sua infância, já conhecia o drama dos plantadores de cacau, dos jagunços e a disputa, de forma sangrenta, pelas terras. Morou no Pelourinho - coração da cidade da Bahia, como costumava falar ao fazer referência à cidade do Salvador. Lá conheceu a vida dos pais e mães - de santo, dos estivadores do porto, dos vendedores de peixe da rampa do Mercado Modelo, das prostitutas, do menor abandonado, dos saveiros, entre outras classes marginalizadas, como nos diz Silva Elia: A vida trágica e sem esperanças de todos os marginalizados, trabalhadores da enxada, crianças abandonadas, constitui o pano de fundo de suas narrativas polêmicas e sectárias. (ELIA, 1974: 195)

Toda essa gente constitui os personagens de Jorge Amado, cuja obra é a poesia do trabalhador, é uma “ida ao povo”, segundo Antonio Cândido (1998: 333-359). Foi ouvindo o dialeto desse povão que Amado descreveu, em suas obras, as classes oprimidas e as injustiças sociais. Vendo as condições de vida dos trabalhadores das fazendas, tomou consciência do social. Mais tarde, em contato com o povo da Bahia, conscientizou - se do problema racial, conforme nos diz o próprio autor. (AMADO, 1988: 17)

A obra amadiana alia o lirismo à crítica social, caracteriza - se pela simplicidade da linguagem e pelo tom coloquial e popular, satirizante e de fácil comunicação com o público com um estilo solto, através de sua riqueza léxico - semântica, impregnada nas frases feitas, nos provérbios e no seu próprio estilo.

Se a linguagem é influenciada pelos fatores sócio - culturais, qual o padrão lingüístico usado por Jorge Amado para retratar o povo em suas obras? Já que a sua obra consiste em uma denúncia social e, considerando a interferência dos fatores sociais na língua, eis a explicação de um padrão lingüístico simples, marcado pelo lirismo e pela postura ideológica, que retrata o falar do povo.

É o que afirma Graciliano Ramos no romance Suor (1934):

Em Suor, há um personagem muito importante do que os outros: é Jorge Amado que morou na Ladeira do Pelourinho, 68, e lá conheceu Maria Cabussu e todos aqueles seres estragados que lhe forneceram material para um excelente romance. (ALTAMAN, 2001: 95-95

Qual a metáfora que Graciliano Ramos estabeleceu ao usar o termo “seres estragados” (grifo meu)? Com certeza, refere - se ao povo simples e excluído do processo social, relegado ao esquecimento e marginalizado pelas forças opressoras, seja através das condições sócio - culturais, seja através do padrão lingüístico. Jorge Amado pretende acabar com o preconceito do povo, tematizando - o em suas obras, dando - lhe voz e vez. É aí que o povo registra os acontecimentos de sua vida.

Tal temática custou a Jorge, por um crítico literário, ao estudar sua obra, a definição de forma preconceituosa e com menosprezo, de um “escritor de putas e vagabundos” (PALAMARTCHUK, op. cit., p. 334). Para Jorge Amado, essa definição é positiva, pois ele se define como um escritor sempre ligado ao povo e à gente simples, como ele nos diz:

Cada vez eu acredito menos nessa gente, cada vez estou mais perto do povo, do povo mais pobre, do povo mais miserável, explorado e oprimido. Cada vez, eu procuro mais anti-herói... os vagabundos, as prostitutas, os bêbados. (AMADO, op. cit., p. 54)

Para compreendermos a realidade lingüística das classes subalternas descritas na obra amadiana, devemos, fundamentando - nos em Paulo Tavares, partir de dois pressupostos: a linguagem informal e crua, empregada pelo romancista. Eram palavras conhecidas de todo o mundo, dessas não usadas abertamente, mas apareciam no entrecho, reproduzindo o léxico das suas personagens e a ousadia para opor - se à rotina, como fizeram Chaucer, Shaskespeare, Rabelais, Gil Vicente, retrataram fielmente os costumes e a linguagem do povo, deram expressão literária ao falar popular em que o povo é a fonte de tudo. (TAVARES, 1982: 189).

Esses dois pontos serão analisados em três obras de Jorge Amado - Capitães da Areia, Gabriela Cravo e Canela, Tieta do Agreste, nas quais são descritos tipos humanos, aspectos sociais e espaços físico - temporais distintos. A partir daí, Jorge Amado criou um universo lingüístico de um povo que, um dia, deu consciência a mais de 500 personagens, espalhado em 31 obras, traduzido em 48 línguas em mais de 52 países, descreveu tão bem o povo e seu espaço, como nos diz Luciano Suassuna: como o caixeiro viajante que, a cada passagem vê uma nova cidade, Jorge Amado somava tipos a cada livro, reconstruía o País e sua brasilidade. (SUASSUNA, 2001: 8)

Capitães da Areia, publicado em 1937, foi apreendido pela polícia e queimado em praça pública, retornando às livrarias apenas na final da ditadura de Vargas em 1944. O ambiente é caracterizado pelas ladeiras e casarões da cidade do Salvador. Os personagens são menores abandonados que vivem num velho trapiche, cujo líder do grupo é Pedro Bala. Ao final da narrativa, os capitães da areia tomam consciência da situação geral do País, encaminhando - se para a luta política. Em uma linguagem crua e lírica, Jorge Amado descreve o dia - a - dia do grupo, denunciando as desigualdades sociais, mostrando ainda, a desonestidade das classes dominantes e a sensibilidade das crianças marginalizadas. Nesse contexto, há a relação da linguagem com a ideologia e a história de vida dos personagens do romance, conforme nos diz o próprio Jorge: histórias apreendidas do povo, vividas numa vida ardente e recriadas, depois para entregá-las novamente ao povo de onde elas vieram. (CURRAN, op. cit.)

Qual seria a linguagem dos capitães da areia, sem família de laços sangüíneos, sem perspectivas de vida de adolescentes, a não ser os furtos e as carreiras pelas ruas estreitas e ladeirosas da velha Cidade da Bahia, lutando pela sobrevivência? Nada mais do que uma linguagem de uma classe subalterna que praticava atos ilícitos, forçada pelas condições da vida, usando uma linguagem adequada à delinqüência, como nos mostram os fragmentos extraídos do romance:

Desperta corneta dá o fora antes que lhe leve para o xilindró

Empurrei por quinhentão num coronel cheio da nota.... o bicho engoliu sem gritar.

Agora tenho uma moreninha do balacubaco.

Diz que agora vocês têm uma putinha lá pra todo mundo..

Dobre a língua, filho da mãe.

Consultando o dicionário e analisando a linguagem a partir da identidade social do personagem, percebemos nitidamente as diferenças de fala correlacionadas com a estratificação social: corneta - individuo intrometido e trapalhão; xilindró - cadeia; do balacubaco: excelente, ótimo (pessoa ou coisa) (FERREIRA, 1986).

Encontramos também as expressões: engoliu sem gritar: aceitar negócios de maneira pacífica, pra todo mundo: na linguagem popular, pra Deus e o mundo; dobre a língua: respeito e cautela no que dizer.

Embora a narrativa de Capitães da Areia apresente uma linguagem caracterizada como vulgar, percebemos nela também uma linguagem contextualizada no momento sócio - histórico da época (as greves operárias) o que nos revela o capítulo UMA PÁTRIA E UMA FAMÍLIA, (AMADO, op. cit.) no qual, encontramos a prática revolucionária do personagem Pedro Bala, conforme o sentido das expressões: Jornais de classe: as associações trabalhistas da época, operários, bancários, metalúrgicos; Inimigo da ordem estabelecida: ordem de um estado capitalista; Bocas impedidas de falar: a opressão para não transgredir as normas que impediam os manifestos populares; Colônia: verdadeiros campos para onde eram levados os presos políticos. (ABDALA JR., 1999)

Tendo em vista os fragmentos acima, dividimos a linguagem dos capitães da areia em dois momentos: os usos lingüísticos dos pobres marginalizados, a exemplo das gírias, e calões e a linguagem nos movimentos reivindicatórios, chegando a duas conclusões: A linguagem reflete muito na consciência política do usuário, no seu papel como agente da história e na sua função social, a partir do perfil e da consciência de cada integrante dos “capitães da areia”, contextualizando - os na situação sócio - política da época, a exemplo Pedro Bala, e o caráter duplo da linguagem: a opressão, quando as forças repressoras tentavam calar a boca daqueles que clamavam por justiça, e a liberdade - quando Pedro Bala, através de sua ideologia e sentimento de parentesco, usando o mesmo padrão lingüístico, adquire uma grande família. A luta pela vida é, para ele, uma prática revolucionária e uma perspectiva existencial, ao lembrar da morte de seu pai em conflito com a polícia durante uma greve. (ABDALA JR., op. cit.)

Em Gabriela, cravo e canela, Publicada em 1958, o ambiente é a região cacaueira da Bahia - Ilhéus na década de 20, período áureo do cacau . Os personagens são de diversas classes sociais e espaços geográficos, havendo, portanto, as variações lingüísticas nos planos diastrático e diatópico.

As classes subalternas eram vistas pela alta sociedade de forma marginalizada, por exemplo a discriminação das esposas dos coronéis com as mulheres da vida, como se verificam no romance as críticas à casa de Glória, amante do coronel Coriolano, por ser localizada em frente à Igreja de São Sebastião.

Em relação às mulheres da vida em Gabriela, Amado usa várias denominações, conforme nos mostra Andrade (2003) putas, quengas, manceba, filial, prostitutas, cabrocha, sirigaita, rameiras etc. (ANDRADE, 2003: 50-62)

Havia uma certa discriminação entre as mulheres do Bataclan - famoso cabaré liderado por Maria Machadão e os cabarés das ruas de Canto. O primeiro era freqüentado pelos coronéis do cacau. Lá, as mulheres eram tratadas de damas ou raparigas. Os outros, pelos trabalhadores das roças do cacau e jagunços dos coronéis. As mulheres eram chamadas de putas, rameiras de baixa extração, mulheres públicas, quengas etc.

Considerando a lexia quenga, podemos ver a confluência dos vários dialetos na região, graças ao processo migratório no auge da economia cacaueira. Na narrativa, registramos apenas uma ocorrência desta palavra, usada pelo personagem Clemente (ex-amante de Gabriela). O uso da palavra quenga, no romance, nos mostra um dado importante na língua de natureza diatópica e diatrástica. Analisando o Atlas Prévio dos Falares Baianos e o Atlas Lingüístico de Sergipe, ambos elaborados por Nelson Rossi e equipe, registra - se, na região cacaueira, a lexia quenga, como também em vários pontos de Sergipe.

Considerando a língua a partir do usuário e tendo em vista o uso da referida palavra em Sergipe, podemos considerar que a palavra quenga tenha sido difundida na região cacaueira pelos sergipanos, a exemplo do personagem Clemente, trabalhador de roça de cacau, pertencente a classes subalternas. Isso nos leva a ver a interferência dos fatores sócio - econômicos e culturais na formação lingüística de um povo.

Em Tieta do Agreste (1977), o ambiente é uma cidade do interior, fronteira Bahia com Sergipe. Contornada pela beleza do rio Real e brancas nuvens de Mangue Seco, a cidade de Santana do Agreste ainda conserva os provérbios, tesouro lingüístico na sabedoria popular, como por exemplo:

Não existe fumaça sem fogo (AMADO,.2001: 64)

Quem engorda o porco é o olho do dono (op. cit., p. 226)

Deus dá nozes a quem não tem dentes (op. cit., p. 205)

Por fora Senhor São Bento, por dentro pão bolorento. (op. cit., p. 112)

Nesta história tem gato escondido (op. cit., p. 287)

Não tem com que comprar um gato morto (op. cit., p. 312)

Meta a mão na cabaça quem quiser, não eu (op. cit., p. 335)

Quando os urubus aparecem é sinal de carniça. (op. cit., p. 392)

Está no mato sem cachorro (op. cit., p. 524)

Pregar sermão em outra freguesia (op. cit., p. 291)

Qual seria o dialeto de um povo distante do conhecimento formal, que só conheceu apenas as asperezas da vida, como o personagem Bafo de Bode, os pescadores e as meninas da casa de Zuleika Cinderela, famosa prostituta, dona de casa de mulher dama, responsável pelo início dos garotos de 12 a 13 anos na vida sexual. Zuleika, segundo Osnar, o boêmio da cidade, era quem concedia a maioridade aos homens de Agreste. (AMADO, op. cit., p. 476)

A população ouvia os gritos do bêbado Bafo de Bode. A ele, restou apenas a cachaça e a vida alheia: Vamos pôr o cu no seguro que a Pomba do Divino está solta em Agreste (AMADO, op. cit., p. 548). Com essas palavras, Bafo de Bode, através de seu conhecimento de mundo e sua crítica, mostra a revolta causada pela chegada da tecnologia na cidade. Bafo de Bode era o “Boca do Inferno de Agreste” (grifo meu). Anunciava o fió-fó das vitalinas (as virgens), chamando - as de encruadas. Esta metáfora nos permite uma associação da linguagem do personagem com o poeta barroco Gregório de Matos.

A mulher da vida era excluída da vida social, recebia as denominações: quenga, meretriz, rameira etc. Tais lexias podem ser comprovadas através da consulta à carta 112 do Atlas Lingüístico de Sergipe (MOTA, 1987).

Considerando as denominações para as mulheres da vida em Tieta do Agreste, encontramos um dado importante para o estudo do léxico: o uso da palavra chiba (AMADO, 2001: 70) com referência à cabrita, metáfora usada pelos homens para a personagem Tieta.

No extremo sul de Portugal, há o termo xibo referindo - se à cria da ovelha, substituindo cabrito (CARDOSO, 1988: 127-133). Com isso, podemos considerar dois aspectos de natureza histórico - lingüística importantes para o estudo em questão:

1. A extensão semântica da palavra, graças a motivações culturais presentes na vida homem: relação terra e homem. Tieta - pastora de cabras, e a palavra chiba passa a ser sinônimo de mulher. Havendo assim, uma associação ao bode Inácio, famoso bode e responsável pela reprodução do rebanho caprino de Zé Estevão;

2. O processo histórico: uma palavra conservada no léxico brasileiro, trazida talvez pelos colonizadores.

A língua é um fato social, é o meio imprescindível na comunicação da comunidade. Por isso, está associada às relações culturais, sociais, geográficas etc. Se a sociedade fosse homogênea, as palavras teriam sempre o mesmo valor semântico, mas na aparente homogeneidade de uma sociedade, existe heterogeneidade dos grupos sociais nos diversos segmentos. Cada grupo, no seu dia - a dia, toma o termo geral da língua e insere no contexto sócio - cultural, transformando - a.

A obra de Jorge Amado revelou para o Brasil e o mundo a adequação da língua das classes estigmatizadas pelas elites culturais, descrevendo o modo de viver de uma gente que ansiava por liberdade.

O vocabulário, considerado como obsceno, encontrou aproveitamento no uso da língua, marcado pelos fatores situacionais. Isso foi uma das razões que mais influenciaram para a repercussão das críticas acerca da linguagem amadiana. Eram palavras conhecidas por todos e que apareciam com naturalidade nos textos, reproduzindo o falar das classes menos favorecidas.

Jorge Amado deu autenticidade à língua, especialmente na modalidade oral, não vacilando em quebrar os preconceitos. Nos tempos de perseguição e opressão à expressão do pensamento, Jorge Amado, munido de ousadia e consciência política, retratou fielmente os costumes, dando expressão literária ao linguajar do povo.

Vale - nos revistar o pensamento de Érico Veríssimo quando, em entrevista a Lígia Fagundes Teles - Manchete - Rio, 11/4/1970 (apud TAVARES, 1982), falou acerca do palavrão:

Tortura é e sempre foi a coisa séria e importante do que essas imagens e palavras que se convencionou chamar pornografia. Mais ainda: a verdadeira pornografia, a legitima obscenidade é a maldade do homem contra o homem, a violência, a guerra, o genocídio.

A obra de Jorge Amado não descreve apenas a vida do povo humilde da Bahia, mas consiste, acima de tudo, em uma revelação de classes sociais marginalizadas e cujos falares estigmatizados. Como disse Antonio Cândido, a obra de Jorge Amado é “uma ida ao povo.” E nessa ida, encontramos:

O falar dos pais e mães - de - santo em cultos aos orixás, quando sofriam a perseguição imposta pela polícia nos terreiros de candomblé;

O falar dos grevistas, exigindo respeito e dignidade humana, liderados por Pedro Bala;

O falar dos capitães da areia que, mais tarde, ressoaria na Candelária e em outras partes do Brasil;

O falar das prostitutas, vítimas da sociedade preconceituosa, em que a mulher ainda é explorada;

O falar dos saveiros, tangidos pelas águas da Baía de Todos os Santos, despedindo - se das mulheres no cais;

O falar de muitas Grabielas, Terezas e Tietas que, com guerra, conquistaram os seus espaços no contexto social;

O falar autoritário dos coronéis em Ilhéus;

O falar sangrento na disputa pelas terras do cacau;

O falar do negro discriminado que aqui chegou e constituiu grande parte de nosso patrimônio cultural;

Todos os falares da gente simples e humilde que, vivendo de forma trágica, sem esperança e opressora constituiu os personagens vivos e atuantes. É assim que se constitui a obra de Jorge Amado: Escritor do povo, mostra o que povo de tem bom, inspirado pelo povo e escreve para o povo.

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#109 Mensagem por Maestro Alex » 06 Abr 2006, 18:30

para fim de tarde...




Oh! sejamos pornográficos
(docemente pornográficos).
Por que seremos mais castos
que o nosso avô português?

Oh! sejamos navegantes,
bandeirantes e guerreiros
sejamos tudo que quiserem,
sobretudo pornográficos.

A tarde pode ser triste
e as mulheres podem doer
como dói um soco no olho
(pornográficos, pornográficos).

Teus amigos estão sorrindo
de tua última resolução.
Pensavam que o suicídio
fosse a última resolução.
Não compreendem, coitados,
que o melhor é ser pornográfico.

Propõe isso ao teu vizinho,
ao condutor do teu bonde,
a todas as criaturas
que são inúteis e existem,
propõe ao homem de óculos
e à mulher da trouxa de roupa.
Dize a todos: Meus irmãos,
não quereis ser pornográficos?
(Carlos Drummond de Andrade)

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#110 Mensagem por Maestro Alex » 06 Abr 2006, 20:04

O grande Plinio Marcos:

Amor é amor

Plínio Marcos


Mulher gamada é fogo. Elas, quando se vidram e se amarram num homem, são capazes de fazer das tripas coração pra defender seus interesses. Uma mulher apaixonada se transforma dos pés à cabeça. Se é classuda, cai da panca e, sem vacilar, apronta os maiores salseiros. Se é acanhada, endoida e não regateia pra fazer um escândalo. Esse lance de que a mulher mesmo muito ligada num homem e tal e coisa, se enruste e se fecha em copas porque tem categoria é papo furado. Mulher que deixa o amor no barato não está toda na parada. Que nada! Às vezes, está por solidão, por simpatia, por conveniência e os cambaus. Nunca por gama. É isso. Não tem erro. Sou eu que afirmo, e de mulher eu entendo. Mas deixa isso de lado. O que quero contar e o que pesa na balança é a história da Dilma Fuleira e da Celeste Bicuda, duas flores da Barra do Catimbó que se unharam e se dentaram por amor ao Ariovaldo Piolho, um vagau de pouca presença física, mas de muita embaixada. Ele lidava com seu rebanho com mil e um macetes e, por essas e outras, sempre foi muito considerado pelo mulherio. É verdade que esse perereco se deu nas quebradas do mundaréu, onde o vento encosta o lixo e as pragas botam os ovos, mas, se acontecesse nos salões da mais fina gente da sociedade, não me causava nenhum espanto. Mulher é mulher em qualquer lugar. Mestre Zagaia, velho cabo-de-esquadra que navegou sem bandeira por muita água barrenta e que bateu perna à toa pelos caminhos mais escamosos, esquisitos e estreitos do roçado do bom Deus, viu quizilas de assombrar negos de patuá forte, embrulhou sua solidão em muito lençol encardido e escancarou nas Tabuadas das Candongas uma dica sobre o assunto:

— Depois dos panos arriados, o espetáculo é sempre o mesmo.

E, se Mestre Zagaia falou, tá falado. Mulher é sempre mulher. E a Dilma Fuleira e a Celeste Bicuda também são, embora à primeira vista não pareçam. Sabe como é. Elas nasceram lesadas da sorte e só pegaram a pior. Bagulho catado no chão da feira nunca fez bem à beleza de ninguém.

Porém (e sempre tem um porém), não foi a condição de bagulho que impediu que elas tivessem grandes ilusões a respeito de amor. E o galã dos sonhos das duas era, como já disse, o Ariovaldo Piolho. Esse vagau se serviu das duas sem a mínima cerimônia. Foi ali na base do agrião. Como as duas estavam a fim dele, o danado negociou. Fez valer a velha e tinhosa lei da oferta e da procura. Se fingia de morto e esperava pra ver quem comparecia no seu enterro.

Como quem não quer nada, pegava a grana na mão da Dilma, cumpria a obrigação e ia buscar os pixulés com a Celeste. E se o dinheiro compensava, não deixava ela em falta. Até que o caldo engrossou.

Bateu sujeira. O doutor delerusca resolveu acabar com o pesqueiro das piranhas e a Dilma Fuleira e a Celeste Bicuda se viram no papo-de-aranha. Escaparam da cana, mas o faturamento caiu às pamparras. E, no meio disso tudo, o Ariovaldo Piolho sentiu o aroma da perpétua. Vagau escolado por muitos anos de janela é sempre cem por cento profissional. Sem pagório, deixou as mulheres na saudade. E se deu o esquinapo.

A Dilma Fuleira achou que o Piolho não queria nada com ela porque estava enredado pela Celeste Bicuda. Procurou a rival e, sem conversa, deu-lhe uma tremenda biaba. A Celeste Bicuda era encardida. Encarou, mas não deu nem pra saída. A Dilma Fuleira era gordona e alta. A Celeste, baixinha e só pele e osso. Teve que apanhar e correr. Porém, como não era de engolir nada enrolado, a Celeste Bicuda tramou a forra. Foi na macumba levar o nome da Dilma Fuleira pra sua mãe-de-santo enterrar no cemitério. Feita a façanha, a Celeste Bicuda se botou a boquejar nos botecos. Garantia pra quem duvidasse que a Dilma Fuleira ia murchar até morrer. E não faltou fuxiqueiro pra ir rapidinho envenenar a Dilma. E ela, que já estava atolada até o gogó no pântano, acreditou que a bananosa toda que curtia era devido à mandinga da Celeste. Se picou de raiva e jurou pela luz que a iluminava que ia pegar a inimiga e dar pancada até ela desenterrar seu nome. E foi pra guerra.

A Dilma encontrou a Celeste no seu barraco e nem pediu licença. Entrou na força bruta e foi botando pra quebrar. De repente, a Celeste Bicuda deu uns gritos, uns pulos pro alto e, quando desceu, era uma fera batusquela. Passou a mão numa enxada e tocou o bumba-meu-boi no lombo da Dilma, que se viu obrigada a dar pinote. Mas a Celeste foi na captura e derrubou o barraco da Dilma a enxadada. Em desespero e apavorada com a fúria da Celeste Bicuda, a Dilma se refugiou na casa do Piolho. A Celeste não tomou conhecimento. Aliás, ainda ficou mais endoidada de ver a rival junto do homem da sua gama. Aumentou o escarcéu.

O Ariovaldo, sem se afobar saiu de fininho e chamou a polícia. A cana chegou e ferrou a Celeste e a Dilma. No Distrito, a Celeste falou que não tinha nada com a briga. Foi o exu da sua crença que encarnou nela pra acabar com a Dilma. A Dilma, de zoeira, entregou tudo como era. Disse pro doutor que a bronca era por causa do Piolho, que estava na fita como testemunha. O delegado quis saber se o Piolho tinha emprego. Não tinha. Entrou em pua e as mulheres foram dispensadas. Mas continuam pelejando por amor. Uma visita o vagau às quartas-feiras; a outra, aos domingos. E todas as duas levam o santo dinheirinho de presente pro Ariovaldo Piolho, o bom amante.

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Plínio Marcos de Barros nasceu em Santos (SP) em 29 de setembro de 1935. Filho de família modesta, não gostava de estudar e terminou apenas o curso primário. Foi funileiro, sonhou ser jogador de futebol, serviu na Aeronáutica e chegou a jogar na Portuguesa Santista, mas foram as incursões ao mundo do circo, desde os 16 anos, que definiram seus caminhos. Aos 19 anos, já fazia o palhaço Frajola e pequenos papéis como ator em diversas companhias circenses e de teatro de variedades. Atuou em rádio e também na televisão local em Santos.

Em 1958, conhece a jornalista e escritora modernista Pagu — Patrícia Galvão. Ela e seu marido Geraldo Ferraz, também jornalista e escritor, abriram os horizontes intelectuais dos jovens atores envolvidos no movimento de teatro amador de Santos, inclusive Plínio, apresentando-lhes textos de dramaturgia moderna.

Nesse mesmo ano, impressionado pelo caso verídico de um jovem currado na cadeia, escreve "Barrela", cuja carreira seria premonitória da vida profissional do autor: por sua linguagem ela permaneceria proibida durante 21 anos.

Em 1960, com 25 anos, está em São Paulo, atuando inicialmente como camelô. Logo estaria trabalhando em teatro, como ator, administrador, faz-tudo em grupos como o Arena, a companhia de Cacilda Becker, o teatro de de Nídia Lycia. Desde 1963, produz textos para a TV de Vanguarda, programa da TV Tupi, na qual também atua como técnico. No ano do golpe militar, faz o roteiro do show "Nossa gente, nossa música". Em 1965, consegue encenar "Reportagem de um tempo mau", colagem de textos de vários autores, que fica um dia em cartaz.

Sob o signo da Censura, Plínio Marcos viverá até os anos 80 sem fazer concessões, sendo intensamente produtivo e sempre norteado pela cultura popular. "Dois perdidos numa noite suja" (1966), "Navalha na carne" (1967), "O abajur lilás" (1969) são sistematicamente perseguidos. Ele luta pela expressão com peças musicais como "Balbina de Iansã" (1970) e "Noel Rosa, o poeta da Vila e seus amores" (1977).

Escreve nos jornais “Última Hora”, “Diário da Noite”, “Guaru News”, “Folha de S. Paulo” (cadernos "Folhetim" e "Folha Ilustrada") e “Folha da Tarde” e também na revista “Veja”, além de colaborar com diversas publicações, como “Opinião”, “Pasquim”, “Versus”, “Placar” e outras. Em forma de livro, publica suas peças, os contos de “Histórias das quebradas do mundaréu” (1973) e o romance “Querô, uma reportagem maldita” (1976), depois adaptado para o teatro. O argumento original de “A rainha diaba” (1974) consegue chegar às telas.

Depois do fim da Censura, Plínio volta a impressionar com o romance “Na barra do Catimbó” (1984), peças como “Madame Blavatsky” (1985), textos de teatro infantil, a noveleta e depois peça “O assassinato do anão do caralho grande” (1995). Paralelamente, cresce sua presença como palestrante em várias cidades do país: ele chega a fazer 150 palestras-shows por ano, vestindo negro, com um bastão encimado por uma cruz e a aura mística de leitor de tarô — espécie de nova "personagem de si mesmo", como fora antes a imagem do palhaço.

Traduzido, publicado e encenado em francês, espanhol, inglês e alemão; estudado em teses de sociolingüística, semiologia, psicologia da religião, dramaturgia e filosofia em universidades do Brasil e do exterior; Plínio Marcos recebeu os principais prêmios nacionais em todas as atividades que abraçou em teatro, cinema, televisão e literatura, como ator diretor escritor e dramaturgo.

Desde sua morte aos 64 anos em São Paulo, em 29 de novembro de 1999, as homenagens ao autor e o interesse em torno de sua obra só fizeram crescer, alcançando suas parcerias musicais com alguns dos mais importantes nomes do samba paulista, bem como novas montagens e filmagens de seus textos. Ao mesmo tempo, seu nome foi adotado para batizar prêmios e espaços culturais pelo país afora — inclusive o Teatro Nacional Plínio Marcos, de Brasília.

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#111 Mensagem por Maestro Alex » 07 Abr 2006, 10:22

Mais um devasso...

Giovanni Boccaccio (1313 1375)
O escritor italiano Giovanni Boccaccio nasceu em Paris no ano de 1313. Filho de um mercador da região italiana de Toscana. Após cursar as primeiras letras em Florença, foi envaido a Nápoles, por imposição do pai, para desempenhar o trabalho mercantil. em seguida, devido a sua má vontade para dedicar-se a tal atividade, começa a estudar direito canônico.

Nessa época lê os clássicos latinos, a literatura de corte francesa e italiana, e escreve as suas primeiras obras: Filoloco, L'Amorosa Visione, Elegia di Madonna Fiammetta, Ninfale Fiesolano, e muitos poemas, obras essas que ainda expressam o romanesco, o fantástico e o bizarro da imaginação medieval.

Em 1341 teve que voltar para a casa do pai em Florença, pois esse passava por dificuldades econômicas devido à falência do banco de Bardi. Em 1348 volta em Florença, onde assiste à peste, e depois da morte do pai (1350?) lá permanece para administrar o pouco patrimônio que lhe restara. Ainda nessa época Começa a participar da vida pública e cultural da sua cidade, e, por isso, lhe foram confiados trabalhos e embaixadas.


Em 1351 conclui a sua maior obra, o Decameron, iniciada por volta de 1348. Essa obra, escrita em prosa, relata em dez histórias curtas, contadas por sete moças e três rapazes que se refugiam no campo para escapar da peste negra, os conflitos entre os valores cristãos e o espírito libertino da época, questões ligada à transição para o Renascimento. Essa obra, apesar der ter sido escrita há mais de seiscentos anos, ainda pode ser lida como enorme prazer. Por isso, tornou-se um clássico da prosa ocidental e um dos maiores livros eróticos de todos os tempos.

Em seus últimos anos de vida fortalece a amizade com Francesco Petrarca, que o ajudou a superar uma crise religiosa, dirigindo a atividade do Boccaccio à cultura literária do tipo "humanístico". Nesse mesmo período, Boccaccio introduz na Itália a obra de diversos autores gregos clássicos e também estuda a obra de Dante, tornando-se assim o primeiro biógrafo desse autor. Reconhecido por seus contemporâneos como poeta, recebe inúmeros postos diplomáticos. Morre na cidade italiana de Certaldo em 1375.

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#112 Mensagem por Maestro Alex » 07 Abr 2006, 12:10

Uma Rainha bem devassa...

Catarina da Rússia

A princesa Catarina não era russa e nem se chamava Catarina ao ascender ao trono da Rússia, resultado de um vácuo no poder em que a coroa passou por diversas mãos até cair no colo de Pierre de Holstein - Pedro foi tão Grande que não deixou sucessor. Ao casar-se com o sobrinho-neto de Pedro para freqüentar a corte russa, a Cinderela abandonou seu reino de eu sou pobre, pobre, pobre, de marré, marré, marré, de si, converteu-se à lei ortodoxa e aprendeu sua nova língua e tudo que concernia à Rússia.
Mal adivinhando que um dia iria alcançar um grande relevo de 1762 a 1796, ao dirigir a política expansionista da Rússia, conquistando a Criméia, Lituânia e Ucrânia, compartilhando a Polônia, guerreando a Turquia e explorando o estreito de Bering para caçadores russos se instalarem no Alasca em 1784.
É a doutrina do imperialismo, defende os interesses imperiais na aquisição territorial para fundar estabelecimentos e criar colônias, ou manter Estados sob sua proteção - que procuram disfarçar a submissão econômica, política e cultural -, estendendo seus domínios e autoridade a terras estrangeiras. A seu favor, a virgindade da Sibéria e da costa oeste americana. Contra, o pretexto de saídas para o mar na medida em que se expandia, afinal, a Inglaterra, rainha dos sete mares, já farejava a China.
Dotada de uma vontade de ferro e de uma energia sem limites, sua inteligência não tardou a se destacar de seu consorte, que bebia muito e mostrava que não tinha estofo para acompanhar sua rainha. Seis meses após a subida ao trono, Catarina o depôs com um golpe de estado e se fez nomear imperatriz da Rússia. Dez dias depois, o marido foi oportunamente assassinado no curso de uma briga de beberrões. Obra e arte de Grigori Orlov, esperto oficial da guarda do palácio, um dos amantes de maior prestígio da coleção memorável de Catarina, que recebeu o seguinte bilhete: Dama soberana, ele não existe mais, o mal foi feito, mãezinha.
Com 20 primaveras apenas, não se preocupava em esconder suas ligações que não eram perigosas nem extraconjugais. Mandou ajustar o uniforme da guarda para examinar com maior nitidez e clareza de propósitos o tamanho do membro de cada oficial. Sem ser bonita, ela possuía magnetismo, vitalidade e poder para abrir seu desejo e estimular o pretendente a desvendar seu mistério. Seus favoritos não tinham do que se lastimar. Ela casou-se com um deles, Stanislas Poniatowski, titular do trono da Polônia.
Ávida de poder, amava o aparato do qual se cercava ao colecionar coches. Para a sua coroação, encomendou uma coroa com 5 mil diamantes, 76 pérolas perfeitamente combinadas e um rubi de 399 quilates que pertenceu ao imperador da China. Tornada a coroa oficial para todas as cerimônias de coroações que se seguiram, era tão pesada que seus sucessores queixavam-se de dores na cabeça.
Não há como comparar os tesouros do czar com as jóias da rainha da Inglaterra, mesmo porque na guerra civil de 1642 que culminou na proclamação da República em 1649, Cromwell fora compelido a obter liquidez de todo o ouro com que o reino se banhava, para armar-se até os dentes na modernização de um absolutismo atrelado a uma gestão semifeudal na economia. O ouro agora viria do mar, importações somente a cargo da frota britânica, é através do comércio exterior que se travariam as futuras guerras de conquista de mercado. Como num complicado jogo de xadrez, avançaram a rainha para propiciar o xeque-mate em futuras colônias à mercê de uma pirataria que evoluía e se sofisticava.
Uma fortuna incalculável consumida em seus palácios e casas de campo fez de São Petersburgo uma imponente cidade, onde as casas em granito substituíram as primeiras casas de madeira. Catarina ampliou e embelezou, com o apoio de arquitetos estrangeiros, o Palácio do Inverno, surgindo a galeria Hermitage para alojar sua biblioteca e coleção de quadros, composta das mais belas peças que seus emissários traziam do estrangeiro. Cedo ela juntou 4 mil dentre os maiores pintores da Europa, como Rembrandt, Raphael, Van Dyck e Rubens. Mandou recolher todos os ícones de Rublev, desvalorizados e deteriorados, que se espalharam pelas casas de camponeses a enfeitar o lugar de patriarcas em mesa de refeições - lugar de honra cedido a estrangeiros ou idosos em visita.
Catarina se considerava herdeira espiritual de Pedro, o Grande, e se sentia responsável pela obra que havia criado. Culta, movida a paixões e ambições desmedidas, a déspota esclarecida foi a introdutora do feminismo na Rússia, do ponto de vista do exercício do livre jogo do sexo, a despeito do estado de czarina constranger e levá-la às últimas conseqüências na questão de diante de tanto poder o que fazer para se satisfazer.
Perturbando as mulheres cansadas de serem satélites dos homens e que ganharam luz própria.
Esta intelectual possuíra uma cabeça reconhecida por ela mais masculina que feminina. Fascinada pela filosofia do Iluminismo, Voltaire e Diderot exerceram influência na corte com sua presença, em como o monarca governar conforme as exigências da razão e não segundo a vontade de Deus. Na regeneração da bondade no ser humano, em contrário senso à concepção da Igreja do homem pecador na essência. Teriam direitos naturais ao que os governos não poderiam escarnecer. Em pleno século XVIII, onde a servidão na Rússia estava longe de ser um veio exaurido a caminho da extinção, como no restante da Europa.
Os czares se encarregavam de perpetuar a servidão, ao recompensar àqueles que os serviram de forma exemplar, dando-lhes terras, incluindo todos os camponeses a ela vinculados. O prêmio ao servilismo como garantia de fidelidade e eternização dos privilégios imperiais. Todavia, muitos ainda viviam em condições que nada diferençava da escravatura. Conta-se que uma dama da corte encerrou seu cabeleireiro numa gaiola, a fim de que ele não abrisse a boca sobre sua calvície. Untavam as vastas cabeleiras para reter piolhos no pegajoso da gosma, e somente servos para recolhê-los.
Uma situação asquerosamente insuportável que levou cossacos, rudes guardiães das fronteiras do império, a se juntarem a outros dissidentes - servos, mineiros, monges e exilados políticos - e exigirem terras em revolta camponesa nos confins do Ural. Tiveram a veleidade de marchar contra o governo de São Petersburgo, aproveitando que as tropas imperiais estavam entretidas com a guerra russo-turca na Criméia. Catarina acerta apressadamente a paz com a Turquia, persegue-os, promove enforcamentos em todos os recantos que apoiaram a insurreição e abandona seus pruridos intelectuais ao interditar Voltaire.
Na sua escala de preferências, os amantes mais jovens começaram a ser contemplados. Se enrabicha pelo mais notável de todos, Grigori Potemkin. Um oficial da guarda, bem nascido, que distribuía diamantes às damas em recepções, cuja admiração ia desde o seu conhecimento do grego, latim, francês e alemão, até a imprudência de imitar sua pronúncia alemã, correspondida com o chamego de um meu pavão, meu cossaco, meu faisão dourado.
Potemkin se tornou o conselheiro mais ouvido, mesmo quando o ardor de sua paixão esfriou. Foi o artesão do reatamento da Criméia com a Rússia em 1783, importante para conseguir uma saída marítima através do Mar Negro. Catarina não se fazia de rogada, dispunha dele como o melhor amigo a ponto de escolher os seus amantes, retribuindo com a construção de um magnífico palácio em sua homenagem.
Quando Potemkin assentou portos e preparou uma frota para explorar o Mar Negro, reacendeu o estado de beligerância com a Turquia ao ameaçar a hegemonia otomana. A proposta expansionista prosseguiria com o czar Alexandre I, que anexou a Geórgia e a Finlândia, construiu fortes no Alasca e se estabeleceu na costa oeste da América até a Califórnia.
Ao morrer, Catarina legou um país de fronteiras mais amplas, exaurido por conta de suas extravagâncias com o recorde impressionante de 137 amantes, fora os que saltaram pela janela. Insatisfeita com os amantes, providenciou uma égua empalhada para que ela se enfiasse e atraísse cavalos trazidos pela guarda. Ao se mexer na posição adequada, fornicavam com ela. Tanto fez que acabou morrendo rasgada por um colossal membro. Como não podia deixar de ser, gerou herdeiros bastardos como Paulo, que governou 4 anos, 4 meses, 4 dias e morreu aos 44 anos.

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#113 Mensagem por Maestro Alex » 07 Abr 2006, 21:27

Mais um escritor de erotismo...

D. H. Lawrence
David Herbert Lawrence, que viria a ser universalmente conhecido como D. H. Lawrence, nasceu na aldeia de Eastwood, no Reino Unido, em 1885.
Sua obsessão por mulheres, sexo e amor revelou-se desde cedo. Embora ele custasse a se decidir sobre a quem amar, tendo perdido a virgindade só aos 23 anos, conseguiu traduzir esses temas numa obra literária magnífica.
Desde seu primeiro romance, de 1911, O pavão branco, Lawrence mostra-nos o amor como uma força da natureza, as paixões como redemoinhos que carregam os fracos seres humanos, e as mulheres carregando o destino dos casais.
As mulheres de Lawrence são decisivas para a existência dos homens, de forma positiva ou não. Elas são, segundo ele, o angelical e o animal da natureza encarnados no humano.
A segurança de um par de seios
Ao perder a mãe, Lydia Lawrence, em 1910, o escritor sentiu-se tão inconsolável a ponto de romper com a noiva, Jessie, alegando que ninguém poderia "possuir sua alma", que fora dada à mãe. Esse radical estado de espírito irá mudar quando Lawrence encontrar Frieda, uma aristocrata prussiana, casada e com 3 filhos.
Os dois apaixonam-se. Ela larga o marido e as crianças, e o novo casal vai para a Prússia, onde se casa em 1914. Frieda era uma loira de olhos verdes, e a opulência dos seios encantava Lawrence, que escreveu "entre seus seios é meu lar".
Tranqüilizado pelo amor, no ano seguinte Lawrence publica O arco-íris, romance que a crítica classificou de "nauseabundo". A polícia apreendeu os exemplares do livro por ordem de um tribunal. O livro foi considerado obsceno, apesar de não conter uma única palavra de "baixo calão". O editor desculpou-se por haver publicado o livro.
O ser fundamental e elementar
Lawrence julgava que o sexo era o nosso ser fundamental. Isso está expresso em seus livros. No Arco-íris ele assim se coloca numa trama em que os personagens agem acima das convenções sociais, conforme seus desejos.
As paixões não escolhem gênero ou faixas etárias em seus romances. Assim, a jovem casada e grávida torna-se amante da professora de música, e a matrona apresenta o sexo para o adolescente. Tudo isso era demais para o início do século na Inglaterra. Lawrence recusava-se a assumir a postura do pornógrafo, publicando livros com pseudônimo para um público essencialmente masculino e com finalidades apenas de excitação sexual. Ele estava discutindo a sociedade humana.
Culto ao falo
Lawrence ambicionava criar um moderno culto ao falo, mas sem que isso implicasse em opressão à mulher. Esse culto não deveria, segundo ele, voltar-se ao pênis masculino, mas a um grande Falo Universal, símbolo da fertilidade criadora.
A mulher seria o elemento de ligação que transformaria o pênis em Falo Universal. Em sua teoria homem e mulher são basicamente diferentes, mas devem buscar o perfeito equilíbrio entre masculino e feminino.
Lawrence caminhava para escrever um grande romance erótico, mas antes deste ápice criou outra obra prima, Mulheres apaixonadas, em que dois casais são confrontados diante dos dilemas da paixão e um deles fracassa, por não encarar de frente sua realidade sexual como principal meta. O escritor achava que ninguém escapa a esse confronto essencial.
O sexo no jardim
Vivendo na Toscana, perto de Florença, onde instalou-se com Frieda, Lawrence começou a escrever sua obra máxima em 1926. O amante de lady chatterley é a história de Constance Reid, uma bela mulher que se casa com Clifford Chatterley, um oficial inglês em licença. Após a lua de mel ele é chamado para uma das frentes de batalha da Primeira Guerra. Retorna inválido, numa cadeira de rodas.
Sir Chatterley é um homem refinado e compreensivo. Vendo a situação da jovem esposa, autoriza-a a encontrar um amante que ela "deseje de todo o coração". Inicialmente Constance opta pela castidade, mas com o tempo se interessa por Oliver, empregado da mansão, que vive numa cabana no parque que envolve a propriedade.
Oliver é baixo, feio e rude, mas tem para ela a força da natureza. Ao encontrá-lo para transmitir ordens do marido, acaba por entregar-se a ele. Suas relações com o empregado são arrebatadoras. A irmã de Constance tenta levá-la a Paris para que esqueça o amante. Mas ela volta mais apaixonada. Fazem amor sob a luz da lua, no jardim. Ele diz, de forma rude, que é seu fodedor. Ela enrubesce com a palavra rude, mas ele diz que não há vergonha nisso.
O desfecho se dá com Oliver deixando o emprego para tornar-se operário em Sheffield. Constance descobre que está grávida e confessa ao marido. Este imagina que o filho pertence a Duncan Forbes, um pintor que eles haviam hospedado. Ela sente horror pela condescendência do marido e abandona a casa para refugiar-se junto à família.
Essa foi apenas a primeira das 3 versões que o romance teve. Nas demais, ele descreve toda a força do amor sexual dos dois com uma intensidade crua, embora elegante. Constance reflete sobre o pênis do amante com as seguintes palavras: "Sim, num homem verdadeiro, o pênis tem vida própria, e é um segundo homem dentro do homem."
Lawrence glorifica a alegria dos corpos durante o sexo, o que para ele é um das leis eternas da natureza.
Quando o romance ficou pronto, Lawrence fazia tratamento de saúde na Suíça, já desenganado pelos médicos. O livro apareceu em 1928 e a imprensa o qualificou de "uma latrina". Um dos matutinos afirmou que "os esgotos da pornografia francesa não tinham produzido nada de comparável". Lawrence defendeu veemente sua criação magnífíca publicando um A propósito de O amante de lady Chatterley, em que acusava seus críticos de evitarem a "sexualidade vital".
D. H. Lawrence morreu tísico, em 2 de março de 1930.

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Tirrex
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#114 Mensagem por Tirrex » 09 Abr 2006, 20:20

Episódio Jurássico do Mundo da Esbórnia - número perdi a conta.

Ela era filha de Marcus Valerius e era ousada e decidiu competir com uma profissional
do sexo da sua época e ...

"Valeria Messalina era esposa do imperador romano Claudio,
foi provavelmente a mais famosa entre as
mulheres da família imperial a sair para se divertir. Na Roma Antiga, o excesso não era confinado
aos homens da família imperial romana: algumas mulheres eram tão ou mais arrojadas do que eles.
Messalina imitava as prostitutas profissionais na noite romana. Seu mais famoso caso foi contratar
uma prostituta conhecida por seu apetite sexual e desafiá-la a competir para ver quem satisfazia
o maior número de homens em uma única noite.
A imperatriz venceu."

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Mr hyde
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#115 Mensagem por Mr hyde » 10 Abr 2006, 00:02

Tirrex escreveu

Valeria Messalina era esposa do imperador romano Claudio,
foi provavelmente a mais famosa entre as
mulheres da família imperial a sair para se divertir. Na Roma Antiga, o excesso não era confinado
aos homens da família imperial romana: algumas mulheres eram tão ou mais arrojadas do que eles.
Messalina imitava as prostitutas profissionais na noite romana. Seu mais famoso caso foi contratar
uma prostituta conhecida por seu apetite sexual e desafiá-la a competir para ver quem satisfazia
o maior número de homens em uma única noite.
A imperatriz venceu."


Conta -se que após o fato uma escrava que acompanhava Messalina perguntou

A senhora está satisfeita?

Messalina respondeu

Estou cansada,não satisfeita...

A mulher era O fodão :roll: :roll:

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#116 Mensagem por Maestro Alex » 10 Abr 2006, 09:41

Dica para quem gosta de ler...


www.dominiopublico.gov.br
Do governo brasileiro, oferece obras de domínio público (o que ocorre 70 anos após a morte do autor). São 11.265 textos,além de 3.917 imagens, 115 músicas e 19 vídeos. Há de Miguel de Cervantes a Machado de Assis.

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#117 Mensagem por Maestro Alex » 12 Abr 2006, 21:16

Mais um devasso da literatura...

Satiricon, de Petronius

Considerado como o predecessor do romance moderno, Satiricon, de Petronius, foi escrito nos primeiros anos da era cristã, durante o governo do imperador Nero.

A obra descreve as andanças de dois prostitutos na alta sociedade da época. Orgias, prostituição masculina, pederastia, incestos, homossexualidade, são alguns dos temas abordados por Petronius. Dezoito séculos depois, o romano Fellini, conterrâneo de Petrônio, faria um belo filme com essa história.

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#118 Mensagem por Maestro Alex » 12 Abr 2006, 21:20

Sexo e Literatura


Grécia

Na Grécia, Platão, em seu O Banquete, celebra o erotismo além dos limites da heterossexualidade.

Aristófanes lega ao futuro comédias de extrema licenciosidade. As peças de sátiros, escritas por Esquilo, Sófocles e Aristóteles, como complementos de suas tragédias, também eram extremamente livres em matéria sexual.

Uma das lendas mais populares entre os gregos era a de que, certa noite, Hércules teria mantido relações sexuais satisfatórias com 49 das 50 filhas de Téspius, Rei da Beócia.

Em Roma, o sexo representa papel essencial não só para Ovídio. Está presente também nas obras de Marcial, Juvenal, Ausone, Suetônio, Petrônio e Horácio, além de Apuleio, autor de O Asno de Ouro, uma das maiores novelas picarescas de todos os tempos.

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#119 Mensagem por Tricampeão » 12 Abr 2006, 21:41

Pegando pesado, em Maestro? Já li o Satyricon, realmente precisa ter estômago forte para toda a viadagem e glutoneria que rola.
maestroalex escreveu:Aristófanes lega ao futuro comédias de extrema licenciosidade. As peças de sátiros, escritas por Esquilo, Sófocles e Aristóteles, como complementos de suas tragédias, também eram extremamente livres em matéria sexual.
Um provável cochilo, o certo deve ser Eurípedes.
maestroalex escreveu:Uma das lendas mais populares entre os gregos era a de que, certa noite, Hércules teria mantido relações sexuais satisfatórias com 49 das 50 filhas de Téspius, Rei da Beócia.
Aposto que daqui a pouco aparece um pra falar que teve um general aí que também já fez isso. Se não lembrarem do Chuck Norris...
maestroalex escreveu:Em Roma, o sexo representa papel essencial não só para Ovídio. Está presente também nas obras de Marcial, Juvenal, Ausone, Suetônio, Petrônio e Horácio, além de Apuleio, autor de O Asno de Ouro, uma das maiores novelas picarescas de todos os tempos.
Suetônio não sabia, pra mim tinha sido só historiador. Mas podemos juntar aí o Catulo, que já homenageei na versão 1.0 do J. BOP.

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#120 Mensagem por Maestro Alex » 12 Abr 2006, 21:59

Tricampeão escreveu:Pegando pesado, em Maestro? Já li o Satyricon, realmente precisa ter estômago forte para toda a viadagem e glutoneria que rola.
maestroalex escreveu:Aristófanes lega ao futuro comédias de extrema licenciosidade. As peças de sátiros, escritas por Esquilo, Sófocles e Aristóteles, como complementos de suas tragédias, também eram extremamente livres em matéria sexual.
Um provável cochilo, o certo deve ser Eurípedes.
maestroalex escreveu:Uma das lendas mais populares entre os gregos era a de que, certa noite, Hércules teria mantido relações sexuais satisfatórias com 49 das 50 filhas de Téspius, Rei da Beócia.
Aposto que daqui a pouco aparece um pra falar que teve um general aí que também já fez isso. Se não lembrarem do Chuck Norris...
maestroalex escreveu:Em Roma, o sexo representa papel essencial não só para Ovídio. Está presente também nas obras de Marcial, Juvenal, Ausone, Suetônio, Petrônio e Horácio, além de Apuleio, autor de O Asno de Ouro, uma das maiores novelas picarescas de todos os tempos.
Suetônio não sabia, pra mim tinha sido só historiador. Mas podemos juntar aí o Catulo, que já homenageei na versão 1.0 do J. BOP.
tá certo.... errei... Eurípedes... mas que o Ari deve ter filosofado com alguma gp da época...

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