Hamlet, que não dava sossego ao fantasma de seu pai, segurando a caveira perguntava: “To be, or not to be? That is the question!”
Eu, que não sou um príncipe dinamarquês, mas também nunca dei sossego ao meu pai, vivia perguntando a ele: “Pai, o que é um corno?”
Meu pai, homem sábio, do alto de seu saber enciclopédico, pacientemente explicava-me o que era um corno, dando como exemplo nosso vizinho, um motorista de caminhão e corno vocacionado, que tirou uma puta da zona e a desposou. Digo vocacionado porque o sujeito, além de escolher uma profissão com altíssima probabilidade de obtenção do anexo craniano, procurou assegurar-se dessa vexatória condição, casando-se com a dadivosa criatura. Tal era sua vocação, que meu pai, homem cínico e venenoso, a ele se referia carinhosamente como Sr. Cornélio.
A casa dele era muito movimentada. O gato de chifres saía e os ratos faziam a festa. A buceta da vizinha era mais visitada que cemitério em dia de finados. Por vezes o Sr. Cornélio voltava de viagens em horários incertos e encontrava um ou outro ricardão em seu leito nupcial, invariavelmente um jovem e por vezes, o namorado de sua própria filha. Para não ficar mal perante a vizinhança, Sr. Cornélio descia o reio na patroa que, naquelas oportunidades, substituía os gritos de orgasmo por gritos de dor. De nada adiantava, porque na viagem seguinte lá estavam de volta os abutres, fazendo fila com o pau na mão.
Esta situação doentia sempre me intrigou e fez com que desde pequeno analisasse esse universo masoquista, tentando entender o que vai na cabeça do corno, além de sua vasta galhada.
Depois de anos de meditação, posso aqui oferecer um testemunho de minhas observações.
Antes de iniciar este meu tratado, repilo com veemência possíveis comentários desairosos, provenientes de mentes zombeteiras, no sentido de que eu esteja falando dos cornos com propriedade, porque seja um. Não sou e lembro que Jacques Costeau, embora tenha passado a vida estudando a fauna marinha, nunca foi um crustáceo. Que fique isto bem claro, pois!
Prosseguindo, esclareço por primeiro, que ao tratar da condição de cornitude refiro-me apenas aos homens. Isto se dá, porque seria redundância classificar de corno uma mulher. É da condição feminina ser chifrada, é quase como um destino inexorável sobre o qual demérito nenhum existe.
Às senhoras e senhoritas que lêem estas linhas, advirto para que não escarneçam suas colegas, amigas ou desafetas, cujos namorados, maridos ou amancebados estejam mijando fora dos respectivos penicos. Não adianta espernear, esmurrar a mesa, ter chiliques ou praguejar, porque a senhora ou senhorita também é cornuda e quanto a isto, nada pode fazer. Se ainda não foi corneada, seguramente será. O homem ao menos desfruta do benefício da dúvida, vez que, por incrível que pareça, há sim mulheres fiéis, contanto que o varão bata seu ponto regularmente e com um mínimo de competência, além de manter os fundos bancários com uma coloração azul.
Mas voltemos ao homem, pois é da cornitude masculina que aqui se trata.
Sobre os cornos, só posso lamentar a existência de um país como a Tailândia. Segundo informação divulgada na revista Carta Capital, edição nº 277, naquele país uma em cada trinta mulheres é prostituta. Considerando-se que a Tailândia conta com 63 milhões de habitantes, teremos ou melhor, têm eles aproximadamente 1.050.000 (um milhão e cinqüenta mil) prostitutas. Se partirmos da premissa que para cada puta existe um baba-ovo e ainda, que todo baba-ovo é um corno, chega-se a um assombroso número de cornos. Somando estes cornos àqueles cujas esposas, noivas e namoradas não são prostitutas, mas mesmo assim chuleiam, caseiam e pregam botões para fora, podemos concluir que na Tailândia há mais chifrudos que todo o rebanho bovino do Mato Grosso.
Parafraseando a dúvida existencial shakespeariana, pode-se assim concebê-la em relação ao usuário do chapéu de vaca: “Ser ou estar corno? Eis a questão!”
Explico melhor: existe o corno vocacionado, como meu vizinho de infância e o corno conjuntural.
O corno vocacionado nasceu para sê-lo, é da sua natureza e se conforma com o destino que se impôs. Conheci um corno vocacionado, aliás, ajudei muito nos adornos de sua galhada. A pobre criatura era, ou melhor, ainda é, um arremedo de homem. Julga-se o mais feliz dos mortais, porque é casado com um monumento à libido, uma musa inspiradora do culto a Onan. Mas sabe que não pode virar as costas, que a messalina que lhe coabita o lar, preenche seu temporário vazio interior com um recheio de carne entumescida.
O corno vocacionado não sabe o que fazer, nem o que pensar. Diante de uma situação problemática perde-se em soluções estéreis. Esse corno vocacionado que eu acabei de mencionar, por exemplo, ao invés de expulsar a patroa de casa, vivia ligando no meu escritório imitando voz de viado e dizendo que precisava muito falar comigo. E fazia isso na frente da esposa! Graças à minha boa fama, não logrou me desmoralizar.
Outro exemplo clássico é o do corno que joga fora o sofá da sala, porque a patroa o trai naquele móvel.
Existem certas profissões que são perfeitas para o corno vocacionado. A mais emblemática delas, é o motorista de caminhão, a que já me referi. Mas ainda podemos citar na categoria “transportes”, o motoboy. Enquanto esse filho da puta está chutando o retrovisor do seu carro, a mulher dele está dando para um bando de office boys desempregados e sifilíticos. Pelo menos é isso que eu desejo que esteja acontecendo, cada vez que um deles chuta o meu carro ou estoura o escapamento da moto dentro de um túnel.
Cito ainda entre os cornos vocacionados, vendedor de carro usado, manobrista de estacionamento, porteiro de boate, tele-pastor evangélico, marido de madrinha de bateria de escola de samba, operador de tele-marketing, garoto propaganda das Casas Bahia e balconista de McDonald’s.
Espere aí! Mas por que o balconista de McDonald’s? Explico: é ou não é corno, um lazarento que te obriga a travar este diálogo:
- Quero um Big Mac e...
- Na promoção nº 2 com Coca e fritas?
- Não, Big Mac e suco de laranja...
- Grande ou pequeno?
- Um suco de 500ml.
- Não quer promoção com fritas? É só mais R$ 1,00.
- Não. Só o lanche e o suco.
- Torta de maçã ou banana?
- Não! Lanche e suco!
- Sundae de chocolate ou caramelo?
- Lanche e suco, seu corno filho da puta e enfia o número 1, o 2, o 3 e o 4 no cu, junto com a torta de maçã fumegante!
Aí você olha na parede e está lá o corno como funcionário do mês, com aquela roupinha ridícula e o sorriso idiota na face.
O corno vocacionado é um caso sem solução, porque o chifre está inscrito em seu DNA. Nasce corno, vive corno e morre corno. Não adianta bater nele, xingá-lo ou chamá-lo à razão. Mesmo que a sua dadivosa esposa morra afogada na porra alheia, ele achará outra que lhe adorne o telhado.
Situação diversa é a do corno conjuntural. Esta modalidade cornífera, embora altamente numerosa – praticamente todos os homens já o foram um dia – não se deixa vencer pela situação. Homem que é homem sequer permite que a situação chegue ao ponto de galhada, porque a mulher já se caga de medo dele. Mas, como hoje em dia temos que agir de forma politicamente correta, não podemos sair por aí distribuindo bolachadas na patroa, namorada ou amancebada.
Antes de tudo, há que se prevenir o desastre e para isso, é necessário manter a cara-metade abastecida de pica e dinheiro. Mais dinheiro do que pica, mas ambos em profusão. Um ou outro isolado não produz resultados satisfatórios, pois são complementares e univitelíneos.
Mas, caso o nobre leitor esteja passando por uma daquelas fases da vida em que o pau encolhe e o saco desce ou a conta bancária esteja mais vermelha que absorvente íntimo nos dias em que a mulher é mais mulher, então fatalmente ocorrerá aquele, digamos, peso na consciência. Ao deparar-se com o inevitável, não se desespere e muito menos rasteje aos pés da vadia, lazarenta, morfética, ingrata e filha da puta, a perguntar onde você teria errado. Homem não erra, mulher é que é um saco. Todos os nossos desatinos são culpa única a exclusiva das atitudes delas. Isso pode até não ser verdade, mas deve ser tomado como um axioma e ponto final.
Retomando, diante do inevitável, não hesite e dê o troco. Não aceite o argumento de que ela é que já estava dando o troco, porque você passou a vida a corneá-la. Este argumento feminino não se sustenta porque, lembre-se, a cornidão é uma característica feminina intrínseca. Nada melhor para curar uma dor de corno do que várias bucetas, tetas, bundas e cus desfilando na sua cama. Tantas quantas puder, de todas as cores, tamanhos e formas, porque nesse caso, a quantidade é fundamental. A pica entumescida é o melhor remédio para um chifre ocasional.
Como a vingança é um prato que se come frio, é de fundamental importância que “aquela ingrata” saiba detalhadamente de todos os seus casos, pois Nietzsche já dizia que “o distante se faz próximo”. Isto é o que evidencia a superioridade do corno conjuntural, que tem a bunda à prova de solados e um chifre destacável.
O corno vocacionado, desgraçadamente, nunca leu Nietzsche e por isso, como meu antigo vizinho é adepto da "filosofia Maguila”: “eu vou dá é porrada mesmo!”
Mas que às vezes dá vontade, isso dá!