A ontologia tradicional, herdeira do pensamento de Platão e Aristóteles, baseia-se no conceito de identidade substancial. Ora, a partir desse ponto de vista, é inevitável concluir que a Purpurinada não passa de uma puta, já que com as meretrizes comunga dos atributos que definem a essência da espécie: comunica-se unicamente através de intenso PPP; trata sapo como se fosse príncipe se ele tiver um troco na carteira; acredita ser o último samendoim do lanchinho da TAM, e assim por diante.
Diríamos então, à maneira de Wittgenstein, que para todo x pertencente ao conjunto P das Purpurinadas, x pertence ao conjunto M das Putas. Ou, mais sucintamente, com Russel e Whitehead, que P(x) -> M(x).
No entanto, tal conclusão padece de diversos problemas. Em primeiro lugar, analisemos o seguinte: se este tópico se chamasse "Eu saio com putas", não teria talvez chegado à primeira meia dúzia de posts; o Carnage teria logo citado um monte de links apontando para tópicos correlatos, similares ou até mesmo idênticos e o interesse por este aqui se desvaneceria. Mas cá estamos, já na página 25, sem que o tema principal fosse esgotado ou dele nos desviássemos apreciavelmente. Assim, a evidência experimental indica que não, uma Purpurinada não é apenas mais uma puta.
Em segundo lugar, aponho uma dificuldade de ordem teórica: putas não podem existir sem putanheiros, e vice-versa. Nem o conceito de puta nem o de putanheiro apresentam a característica principal de um ser substancial, que é a capacidade de subsistir de forma independente. Putas e putanheiros estão igualmente sujeitos ao eterno devir, embora seja verdade que puta é puta e vice-versa, ou P(x) <-> P(x), com os putanheiros acontecendo o mesmo, F (x) <-> F (x). Isso sugere que a ontologia tradicional, se aplicada à análise das putas, pode levar a aporias insolúveis da Razão Pura.
A terceira falha é de ordem moral. Se uma Purpurinada não passa de uma puta, então um BOP também não passa de um putanheiro, já que entre esses pares de conceitos, Purpurinada-Puta e BOP-Putanheiro, existe perfeita simetria. Poderíamos até mesmo escrever P(x) / M (x) = B (x) / F (x), o que leva à equação P(x) . F(x) = M(x) . B(x), ou até mesmo ln(P(x)) + ln(F(x)) = ln (M(x)) + ln(B(x)). Ora, eu não gostaria de ter meu nick associado dessa maneira à imagem de um BOP nojento, nem mesmo através da abstrusa mediação de uma notação matemática. Não consigo ver grande semelhança não apenas entre um BOP e um verdadeiro, bravo e altissonante putanheiro nick-azul, mas também entre um BOP granfa que nem o Cardoso e um caipirão como o Commander, por exemplo. Meu coração me brada que é preciso aprofundar a investigação, de modo a livrar-nos de toda e qualquer mácula sugerida pelo consórcio com a desprezível sub-raça dos BOPs, como os chamaria Heidegger.
A ontologia tradicional, portanto, acha-se triplamente invalidada, espezinhada sob o peso dos contra-argumentos de ordem prática, teórica e emocional, e em seu lugar faz-se necessária uma teoria alternativa para elucidar o Dasein de BOPs e Purpurinadas. É justamente aqui que, pasmem os senhores, pasmem, protestem e esperneiem se assim o desejarem, mas é aqui que pode nos auxiliar a ontologia da diferença de Deleuze.
Para Deleuze, o Ser é apenas uma maneira desleixada e hispostasiada de nos referirmos à Diferença, que é o que realmente define a Identidade. Lançando mão dessa abordagem, evitamos a situação vexatória de termos que admitir que temos algo em comum com os BOPs. Os conceitos de Puta, Purpurinada, BOP e Putanheiro continuam existindo, mas a relação P(x) / M (x) = B (x) / F (x) não mais se verifica. Purpurinada e BOP, pelo contrário, são considerados uma multiplicidade, como a orquídea e a vespa; essa multiplicidade tem existência independente e não pode ser levianamente relacionada a outras multiplicidades ou unidades, como o conceito de Putanheiro, que estão em planos de imanência diferentes (bem mais elevados, eu acrescentaria).
Podemos dizer que a Purpurinada é uma puta em processo de desterritorialização. Os signos que compõem seu universo são-lhe progressivamente arrebatados: grana farta, ligações de foristas de madrugada, festas do forum, Photoshop, tudo desaparece de repente, produzindo completa desorientação e levando-a potencialmente ao desespero, além, obviamente, da falta de dinheiro.
Quanto ao BOP, suas patuscadas têm origem diversa; ao acreditarem no PPP e tendo que conciliar o que ouvem das putas com a informação contraditória que encontram no forum, têm o rizoma de seu conhecimento retorcido como uma molécula de DNA. A contínua chupação de sangue a que são submetidos pelas putas ainda contribuem para amolgá-lo, erodi-lo e ressecá-lo; talvez Deleuze e Guattari tivessem introduzido o termo raiz de bardana se conhecessem algum BOP. É por isso que alguns não conseguem nem escrever direito, recorrendo de maneira peculiarmente frequente ao poder imagético dos emoticons.