"Bunda tem que fazer sombra".
Acho que foi o Henfil o autor dessa frase. Que bem poderia ter sido escrita por Nostradamus, tal a sua profundidade quase profética. Ou pensada por Newton, à sombra de uma macieira, comendo alguma frutinha. Não duvido até que eu mesmo a tenha dito, em alguma vida passada, no império romano talvez, ou mesmo pelo homem das cavernas, durante a descoberta da roda, nesse caso a "rodinha", pois tenho certeza que já a essa época o homem descobriu que podia comer o cu da patroa, hábito que desde então o acompanha em sua evolução.
Não confundamos, porém, bunda e cu. Esse é um obsceno e quase sempre mal-cheiroso objeto do desejo. Aquela é um ornamento, o chamarisco, a beleza simétrica e abaulada de dois nacos de carne de primeira, uma dádiva aos olhos quando em movimento... Claro, tem que ser A bunda.
Basta ter uma bela bunda e a mulher tá quase feita na vida. E, se além disso, souber cozinhar, falar pouco e baixo, não tiver obsessão por fazer chapinha no cabelo, não fizer perguntas durante um futebolzinho na tv e não tiver um olfato do cão, daqueles que farejam cheiro de cigarro até nas meias, então teremos a quase perfeição da espécie. E se ainda nunca, mas nunca mesmo querer discutir a relação, bem, aí é a perfeição total, ou seja, apenas um sonho.
Nessas horas reflexivas sempre lembro de um amigo meu que dizia: "se é pra casar que seja com uma de bunda bem gostosa, pois assim o desgaste da rotina do casamento será compensado cada vez que ela ficar de quatro!". Um sábio, esse meu amigo.
Não sei exatamente quando começou a minha tara por bundas. A lembrança mais remota que tenho sobre o assunto é a de uma ereção durante uma aula. aos 11 ou 12 anos, motivada pela professora de matemática, uma jovem loira escultural, que insistia em trabalhar com vestidos curtos. Hoje eu entendo porque rodei naquele ano, em matemática, óbvio.
Algum tempo depois, tive minha primeira paixão, uma vizinha morena, de bundinha perfeita. Inocentes, nos apaixonamos. Certa vez, na garagem da casa dela, começamos uns amassos, beijos ardentes, mãos afoitas, o saco quase explodindo....quando vi ela tava sentada no meu colo e eu com o pau já enterrado nela. Geme daqui, sussurra dali, implorei no seu ouvido: "eu quero botar dentro do teu cuzinho". Ao que ela, dengosa, respondeu: "Mas, amor, JÁ TÁ dentro do cuzinhôooo!".
Tenho aprendido muito com as mulheres desde então, e hoje tenho certeza de que ela mentiu quando disse que era virgem.
E por que resolvi escrever sobre isso agora? É porque eu não tenho nada melhor pra fazer? Bem, em parte sim, mas o motivo maior é uma certa angústia, uma espécie de crise existencial. Depois dos quarenta anos, eu pensava que já estaria mais maduro e resistente. Achei que estaria mais capacitado e apto a desviar os olhos das bundas que passam, a evitar acidentes de trânsito, torcicolos e excesso de salivação por causa de bundas. Mas não consigo. Tenho que admitir que não consigo.
Dias atrás, tive um exemplo de como continuo frágil. Num intervalo pro almoço, fui a um restaurante no centro, onde há uma escadaria na entrada (até acho que é por isso que vou lá). Esperei uns minutos antes de entrar, até que subi as escadas atrás de uma morena linda de uma bunda mais linda ainda, com um vestido semi-transparente onde se via o contorno das calcinhas, que de tão pequenas era só o contorno mesmo. Balançava os quadris como só as gostosas sabem fazer, era daquelas bundas de comer ajoelhado em caco de vidro. Levava pelas mãos um garotinho de uns sete anos, ou seja, talvez fosse uma mulher casada, de família e coisa e tal. Putaquepariu, mas mulher de família não expõe a bunda assim, às feras, raciocinei com o que ainda me restava de lucidez. Segui-a e sentei-me a sua frente. Durante o almoço percebi que ela me olhou uma vez e meia, e eu já perdidamente apaixonado, já pensando em comprar um carrinho ou um playstation pro garoto, e calculando o custo de um enteado inesperado.
Ela almoçou, pagou a conta e saiu. E eu saí atrás, imaginando um jeito elegante de abordá-la sem assustá-la com o pau duro sob as calças.
Na rua, acabei perdendo-a de vista, em parte por culpa de uma loira maravilhosa, de uns quarenta anos, cuja bunda fenomenal enfiada num jeans justíssimo quase me fez enfiar a cara num poste. Daquelas que o Henfil desceria à terra e gritaria: "É isso, é disso que eu falava!!".
Segui a loira, e percebi que tinha uma tatuagem no dorso. Tinha jeito de puta, cara de puta, andar de puta, só podia ser puta. Fui atrás dela com uma idéia fixa: não passar do meu limite ético de duzentão, incluindo o cu. E além do mais essa aí não deveria ter filho pequeno, para o caso de eu me apaixonar, de ter descoberto a bunda definitiva, mas a loira entrou num táxi e a perdi de vista.
Cabisbaixo, com exceção do pau, voltei ao trabalho.
Sei que preciso achar um jeito de me tratar, distrair-me com outras coisas, pensar mais na família, no aquecimento global, no ataque do Grêmio, desviar o foco...
"De hoje em diante, vou modificar o meu modo de vida, só vou gostar de quem gosta de mim".
E vou me dedicar a outras coisas.
Peitos, por exemplo. Fico louco quando elas deixam os peitinhos a mostra...
Autor: Hot Sereno