E antes que algum canalha saia da moita, já vou avisando que sempre andei em ruas planas, nunca tive a ambição de ter uma bunda dura e saliente. Meu velho pai sempre dizia: a dureza potencial dos glúteos de um macho deve ser transferida para o pau. E assim foi. Hoje, percebo a sapiência daquelas palavras, bunda reta, pau empinado!
Voltando à puta sem bunda em questão, acabei levando-a pro quarto, pelo fascínio da forma dos seios, esculpidos pelo melhor silicone do mercado, pelo sorriso cativante e, claro, por algumas miligramas de álcool misturando-se aos pensamentos, sempre com maus conselhos.
É óbvio que a foda foi uma merda, o que não deixa de ser uma ironia, pois merda lembra cu e o cu fica no meio da bunda, mas que bunda? Além disso, a sem-bunda não sabia foder direito, como deve saber uma puta que se preze. Enquanto a comia, pensava em comer o cu, mas entre uma metida e outra eu pensava: onde será que fica o cu de uma mulher sem bunda?
Quando botei-a de quatro, quase tive uma crise de choro compulsivo, dei uma desculpa e fui ao banheiro me recompor. Só tinha chorado antes num puteiro mais caro, devido ao preço que a puta havia me pedido pra meter no rabo, mas aquele foi um choro de lamento, esse seria um choro de desgosto mesmo, por aquela visão do conjunto vazio, um "grand canyon" entre meu pau e o lugar onde deveriam estar os glúteos. Nessas horas, o pau da gente é como folhas no outono, que murcham e caem...
E claro que esse tipo de coisa costuma acontecer somente em puteiros baratos. Esse, por exemplo, é um conhecido refúgio de dragões, baleias, mutantes e, eventualmente, algumas princesas que se destacam em meio à fauna. Um amigo meu, inclusive, cujo nome não vou citar, mas conhecido nas cercanias da Farrapos por SCI (Sujeito que Come por Impulso) apaixonou-se no referido puteiro por uma mulher sem queixo. Sim, acreditem, era o rascunho do Noel Rosa, a puta, mas a paixão é cega, mesmo que eu o tenha advertido que ele teria dificuldades quando fosse tentar agarrar o seu queixinho para beijá-la, embora tivesse umas pernas gostosas e também com a vantagem de uma maior área de movimentação do pau no caso de um boquete, e, além do mais, antes sem queixo do que sem bunda.
No fim das contas, não culpo o SCI, que até hoje deve bater punheta e imaginar a puta engolindo a porra e deixando escorrer pelo...chão.
Mas eu gosto de puteiros baratos, da caça seletiva a putas de rua, de bares muquefentos que abrigam barangas no final da noite, e lugares assim, onde se vê o lado sórdido, engraçado, triste e trágico, mas muitas vezes excitante da putaria. Fazem-me lembrar dos tempos de adolescência, quando morei por alguns meses próximo do que se chamava de zona do meretrício, em extinção nos dias de hoje, um conjunto de casas com luzes vermelhas em suas fachadas, em cujas portas via-se ás vezes putas sentadas conversando e aguardando clientes. Uma vez, desci do ônibus e andei a pé por entre as casas, lembro dos olhares maliciosos das putas, dos gritos eventuais que vinham das casas, das músicas bregas e, principalmente, das roupas minúsculas que elas usavam, bundas de fora, peitos de fora, almas de fora... acho que minha formação passou por entre aquelas casas.
Um dia, já com quase dezoito, fui a primeira vez a uma daquelas casas que tanto me fascinavam, e nunca esqueci das eletrolas e das músicas sertanejas, além de ter comido uma puta sem pagar, porque já era fim de noite, e a puta simplesmente tava a fim de dar pra alguém. Nem lembro se gozei, só lembro da puta apagando a luz vermelha da frente, às oito da manhã, enquanto eu ia embora a pé.
Acho que é por isso, por essas lembranças remotas, que gosto de um puteiro meio retrô e decadente, com putas feias juntando garrafas de cerveja vazias no fim da noite, há uma certa sinceridade ali que não vejo nos puteiros de luxo, embora os cheiros de bucetas sejam os mesmos.
É por isso que eu entendo o Chandon, um jovem confrade do sul, parceiro de algumas noites no Dominó, tradicional puteiro barato de Porto Alegre, quando uma noite, num conhecido puteiro chique de mesma cidade, desabafou: "Vamos embora logo pro Dominó, que não aguento mais esse lugar". "Esse lugar, como bem lembrou o Malevo, era simplesmente o Gruta Azul, reduto das mais belas putas desses pagos. E entendo também o Mr.Blonde, onde, em meio a divagações filosóficas, ressaltava o "ar que (não) se respira nos puteiros baratos, um miasma de fritura, cigarro e perfume da avon".
Mas não pensem que estou desprezando os puteiros caros, de belas mulheres que até bunda e queixo têm, mas acho que a verdadeira putaria (não, não estou falando da política e dos políticos) está no baixo meretrício, nas travessas da Farrapos, nos botecos de fim de noite, nos puteiros trash e nos prediões mal assombrados dos centros das cidades. Ali se respira um pouco do inferno, elevamos o sexo ao seu primitivismo real, desejamos o cu de uma mulata sem dente, comemos a loira vesga e a beijamos de língua, por 30 contos de réis, mais 5 pra kaiser meio morna, e ainda saimos felizes.
Por isso, quando pago 200 por uma deusa do olimpo, sempre dou um jeito de comer uma puta barata algum tempo depois, pra me sentir primitivo de novo, acumular sinceridade à luxúria, resgatar minha essência imoral por um preço módico, manter viva a idéia de que sou assim pela coisa em si, e não pelo seu valor de mercado, e nunca esqueço aquelas casas de luzes vermelhas com as putas sentadas na porta, das putas em suas janelas, das putas de beira de estrada, das putas da beira das ruas, porque delas é feita a putaria essencial, sem glamour nem discursos de que precisam pagar a faculdade, delas é a origem do vício, algo como o futebol nas ruas das favelas, a origem dessa nossa falta de razão, a ejaculação primordial sobre um colchão de mola mofado.
É por tudo isso que eu até entendo quando alguém fica de pau duro quando vê as fotos nuas da Vanessa Vanelli, embora eu ache que nem cinco kaisers meio mornas conseguem explicar algumas coisas...
Sereno